Exercícios de samurais podem reduzir quedas de idosos. Saiba como fazer
A técnica anciã é simples, pode ser feita em qualquer local e garantiu o aumento da força de extensão do joelho em uma média de 25,9%.

Inspirados na disciplina dos antigos samurais, pesquisadores japoneses descobriram que um ritual físico praticado pelos guerreiros de séculos atrás pode oferecer uma solução simples para um dos maiores desafios do envelhecimento: prevenir quedas.
Parece um código programado em nossos sistemas: atingir a meta dos 70 anos é estranhamente parecida com as dos sete, quando o quesito é joelhos ralados e bumbuns doloridos de tantas quedas.
Um jeito de evitar as dores é fortalecer os músculos da perna. Em culturas como a japonesa, por exemplo, estilos de vida tradicionais inseriram os exercícios nas atividades diárias. Escolher por sentar-se na postura seiza (ajoelhar-se no chão com as pernas dobradas sob o corpo) em tatames e usar vasos sanitários de cócoras são exemplos disso. No entanto, esses costumes estão se perdendo e grande parte do resto do mundo nunca testou essas posições alternativas.
Pensando nisso, pesquisadores da Universidade de Tohoku em Sendai, Japão, buscaram na tradição samurai uma solução. Em um ensaio clínico randomizado, descobriram que a prática diária de Rei-ho, um conjunto de movimentos lentos e deliberados de sentar, levantar e caminhar, fortalece significativamente os músculos das pernas.

Os resultados, publicados no Tohoku Journal of Experimental Medicine, sugerem que apenas cinco minutos por dia podem aumentar a força do joelho em quase 26% em poucas semanas.
“A força de extensão do joelho – a força usada para esticar os joelhos – é uma medida fundamental da mobilidade e do funcionamento diário”, afirma a autora Ayaka Ogasawara em comunicado. “Esses resultados animadores sugerem que o Rei-ho pode ajudar idosos a manter sua independência.”
Os pesquisadores recrutaram 34 voluntários saudáveis, todos adultos jovens sem experiência prévia com o Rei-ho. Metade foi instruída a seguir com suas rotinas normais, enquanto o outro grupo praticou entre 20 e 22 movimentos de agachamento e levantar da cadeira, quatro vezes por semana. Após três meses, a diferença foi clara: enquanto o grupo de controle registrou apenas um aumento de 2,5% na força de extensão do joelho, os praticantes do Rei-ho superaram em dez vezes esse ganho.
Embora os participantes não fossem idosos, os cientistas acreditam que os benefícios seriam ainda mais significativos para a população mais velha, justamente a mais vulnerável à perda muscular, sarcopenia e quedas debilitantes.
“Esse declínio é ainda mais agravado pela prevalência generalizada de estilos de vida sedentários. É importante ressaltar que a redução da força tende a ser mais pronunciada nos membros inferiores do que nos superiores”, escrevem os autores na pesquisa.
O método chama atenção não apenas pela eficácia, mas também pela simplicidade. Não requer equipamentos – apenas a força do próprio corpo –, pode ser praticado em casa e, por ser lento e controlado, minimiza riscos de elevação da pressão arterial ou lesões comuns em exercícios mais intensos. Na verdade, os movimentos são parecidos com os agachamentos que já conhecemos, mas com mais amplitude e sem peso extra,
“Nos últimos anos, o declínio da força muscular tornou-se uma séria preocupação de saúde pública”, escreveram os autores no estudo. “O Rei-ho pode ser uma ferramenta acessível e culturalmente rica para mitigar esse problema.”
A proposta também toca em um ponto simbólico. Incorporar técnicas de samurais anciãos à vida moderna preserva a história japonesa e reitera a ideia de que aqueles guerreiros sabiam muito bem o que estavam fazendo.
Não é, claro, a primeira vez que o passado traz técnicas extremamente benéficas para a vida moderna, basta ver quantos medicamentos tiveram origem no conhecimento da natureza de povos originários.
Para Akira Sato, que também participou da pesquisa, a prática tem ainda outro valor: “Queremos que aqueles fora do Japão que experimentarem o Rei-ho não apenas ganhem saúde, mas também tenham contato com um aspecto único da cultura tradicional japonesa”, disse, no mesmo comunicado.