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Aplicativo detecta problemas de visão em crianças a partir de fotos

Ferramenta é capaz de identificar doenças com 80% de eficácia – e até meses antes de diagnósticos tradicionais.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 3 out 2019, 20h24 - Publicado em 3 out 2019, 19h55

Graças aos smartphones, qualquer pessoa hoje carrega uma máquina fotográfica potente no bolso. E essa facilidade em fazer cliques impacta drasticamente a forma como criamos memórias: bons momentos, quase sempre, servem para alimentar a galeria do celular. Não seria diferente durante a criação dos filhos, alvos preferidos das câmeras de seus genitores – principalmente no início da vida. Pais orgulhosos vão postar até 1.300 fotos de seus pequenos nas redes sociais até que eles completem 13 anos, segundo mostrou este estudo britânico. Mas, para além de registrar os primeiros passos dos filhotes, imagens amadoras também podem revelar aspectos importantes da saúde das crianças.

É nisso que aposta o aplicativo CRADLE (berço, em inglês, mas também a sigla para “detector de leucocoria assistido por computador”), ou White Eye Detector, desenvolvido por pesquisadores americanos. Chama-se de “leucocoria” um tipo de reflexo anormal na pupila, comumente detectado em crianças. O que os criadores da ideia acreditam é que fotos de celular podem ser uma forma simples de se captar sinais do tipo – e diagnosticar problemas de visão logo no começo da vida.

A ferramenta foi lançada ainda em 2014, é gratuita e já soma milhares de downloads em suas versões para iOS e Android. Mas um artigo científico inédito que avaliou o seu funcionamento e eficácia foi publicado na revista Science Advances na última quarta-feira (2).

Assim como fotos com flash às vezes deixam quem posa de olhos vermelhos, doenças na vista (como retinoblastoma ou catarata, por exemplo) fazem os bebês saírem na foto com a pupila esbranquiçada. É algo semelhante ao que você pode ver nas imagens abaixo, feitas pelos pesquisadores que assinam o estudo.

Figure 2
(Micheal C. Munson et al./Reprodução)
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Sabendo que olhos esbranquiçados indicam problemas na visão, o algoritmo busca, então, detectar pixels de cor branca nas imagens. Quando os tais pixels aparecem na região da foto onde estão os olhos dos pequenos, a inteligência artificial acusa a chance de doenças na vista. 

Mas como a ferramenta consegue entender isso? A resposta está na tecnologia de aprendizado de máquina. Ela consiste em apresentar milhares de fotos de bebês saudáveis e doentes para treinar o algoritmo – até que ele aprenda a identificar, por tentativa e erro, se há problema ou não na imagem.

No estudo, cientistas testaram o aplicativo com quase 53 mil fotos de 40 crianças diferentes – metade delas tinha alguma doença de visão. A inteligência artificial conseguiu diagnosticar problemas nos olhos de 16, uma eficácia de 80%.

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O interessante é que, segundo os pesquisadores, a identificação de doenças a partir das fotos aconteceu, em média, 1 ano antes do diagnóstico oficial, feito por médicos. “Mas como isso é possível?”, você, leitor, deve estar se perguntando. Imagine que uma criança foi diagnosticada com algum problema de visão aos 3 anos. O aplicativo conseguiu apontar o problema analisando uma foto do mesmo bebê aos dois 2 anos de idade – quando ainda não se sabia que ele tinha algo na visão.

É fato que o tempo entre alguém perceber algo de estranho no olho da criança e levá-la ao médico pode variar um pouco. Mas um estudo de 2003 mostrou que, em 80% dos casos, são os pais que percebem a tal mancha branca – o que, considerando que os pais costumam ser zelosos com seus rebentos, leva a crer que o problema não costuma ser ignorado por muito tempo.

Identificar doenças o mais cedo possível, como você pode imaginar, facilita o tratamento. Segundo disse Bryan Shaw, professor da Universidade Baylor, nos EUA, e criador do app, em entrevista ao site IEEE, “quando você começa a ver o olho branco [nas fotos], há entre seis meses e um ano até que o tumor sofra metástase e atinja o nervo óptico no cérebro”.

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Ainda que o aplicativo ofereça uma análise refinada, os pesquisadores destacam que o seu trabalho não substitui um diagnóstico médico de verdade. A ferramenta serviria mais como um ponto de partida: um teste preliminar que indica que algo não está como deveria, e precisa ser alvo de uma avaliação profissional. 

No Brasil, o exame mais famoso do gênero é o “teste do olhinho” – realizado ainda na maternidade e obrigatório na rede pública de saúde. Ainda que pareça simples, apontar uma lanterninha para o rosto dos bebês pode revelar um amplo espectro de problemas oftalmológicos, da catarata ao câncer.

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