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Quando foi a primeira pandemia da história?

Identificar quando ocorreu a primeira pandemia registrada sempre foi um desafio; agora, um estudo fornece novas evidências de 1.500 anos.

Por Luiza Lopes
3 set 2025, 08h00

Ao longo da história, a humanidade enfrentou surtos de doenças que se espalharam rapidamente por grandes regiões, causando mortes em massa e transformando sociedades. No entanto, identificar quando ocorreu a primeira pandemia registrada sempre foi um desafio, já que os registros antigos muitas vezes são fragmentados ou vagos.

Entre todos os episódios históricos, um se destaca: a Peste de Justiniano, que devastou o Mediterrâneo Oriental e o Império Bizantino há quase 1.500 anos, mas cuja causa exata só agora foi confirmada cientificamente.

Pesquisadores identificaram evidências genômicas diretas da bactéria Yersinia pestis no local onde a peste foi descrita nos registros históricos. O achado confirma que o surto, que começou no século 6, foi de fato a primeira pandemia documentada da humanidade.

A descoberta foi feita em Jerash, na Jordânia, a cerca de 320 quilômetros de Pelúsio, no Egito, onde os relatos situam o início da epidemia. O trabalho foi liderado por cientistas da Universidade do Sul da Flórida (USF) e da Universidade Atlântica da Flórida (FAU), com apoio de pesquisadores da Índia e da Austrália. Os resultados renderam dois artigos científicos, publicados em 31 de julho na revista Genes e em 9 de agosto na Pathogens.

“Durante séculos, confiamos em relatos escritos que descreviam uma doença devastadora, mas não tínhamos nenhuma evidência biológica concreta da presença da peste. Nossas descobertas fornecem a peça que faltava nesse quebra-cabeça”, afirmou em comunicado Rays HY Jiang, professor da Faculdade de Saúde Pública da USF e principal investigador do estudo.

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A Peste de Justiniano surgiu em 541 d.C. e se espalhou em ondas até cerca de 750 d.C.. Em Constantinopla, capital do Império Bizantino, estima-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido em apenas quatro meses.

O imperador Justiniano I chegou a contrair a doença, mas sobreviveu. No entanto, a devastação foi tamanha que historiadores associam o episódio ao enfraquecimento político e econômico do império. No total, as estimativas apontam para 30 a 50 milhões de mortes, o equivalente a grande parte da população mediterrânea da época.

Até agora, a presença da Y. pestis havia sido identificada em sítios da Europa Ocidental, mas não no coração do Império Bizantino. Isso levantava dúvidas sobre a real causa da pandemia.

A análise genética de oito dentes humanos encontrados em Jerash mostrou que as vítimas carregavam cepas quase idênticas da bactéria, sinal de um surto rápido e letal. “O sítio arqueológico de Jerash oferece um raro vislumbre de como as sociedades antigas responderam a desastres de saúde pública”, disse Jiang. “O fato de um local antes construído para entretenimento e orgulho cívico ter se tornado um cemitério coletivo em um momento de emergência demonstra como os centros urbanos provavelmente estavam sobrecarregados.”

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Além da confirmação do patógeno, os cientistas analisaram centenas de genomas antigos e modernos da Y. pestis. A pesquisa mostrou que a bactéria já circulava entre humanos muito antes do século 6 e que as pandemias de peste posteriores – como a Peste Negra do século 14 e até os surtos ainda detectados hoje – não derivaram de uma única linhagem ancestral.

Em vez disso, elas surgiram repetidas vezes a partir de reservatórios animais em diferentes lugares e épocas. Esse padrão contrasta com a Covid-19, por exemplo, que se originou de um único evento de contágio e se espalhou globalmente pela transmissão entre pessoas.

Embora rara, a peste bubônica continua a circular. Em julho deste ano, um morador do Arizona, nos Estados Unidos, morreu de peste pneumônica, a forma mais grave da doença – o primeiro caso fatal do tipo no país desde 2007. Dias depois, outro paciente na Califórnia testou positivo para a infecção.

“Temos lutado contra a peste há milhares de anos e as pessoas ainda morrem por causa dela hoje. Assim como a Covid, ela continua a evoluir, e a ameaça nunca desaparecerá”, disse Jiang.

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A equipe agora pretende expandir as pesquisas para a Itália, em especial para o Lazaretto Vecchio, em Veneza, um dos maiores cemitérios de vítimas da peste do mundo. Mais de 1.200 amostras desse local já estão sendo analisadas na USF, em busca de pistas sobre a evolução da doença e as primeiras medidas de saúde pública.

Para os cientistas, a descoberta em Jerash não apenas resolve um mistério de 1.500 anos, mas também reforça que pandemias não são eventos isolados do passado, e sim fenômenos recorrentes na história humana.

 

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