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Ossos recuperados de naufrágio de 500 anos revelam como era a vida dos tripulantes

O navio favorito do rei Henrique VIII, Mary Rose, afundou em 1545 com mais de 500 tripulantes a bordo, dos quais 179 morreram.

Por Bela Lobato
9 nov 2024, 12h00

Uma cápsula do tempo recuperada do fundo do mar: o Mary Rose foi um dos maiores navios da marinha inglesa durante mais de três décadas. Ele foi um dos primeiros navios à vela construídos especificamente para a guerra. Ninguém sabe exatamente como ele afundou em 1545, durante uma batalha contra franceses no Solent, um estreito entre a Ilha de Wight e a Grã-Bretanha. 

“Independentemente da causa, o navio rolou para estibordo e a água entrou pelas portas de armas abertas”, disse, em entrevista à CNN, Alex Hildred, pesquisador e curador de artilharia do Mary Rose. “Com poucos pontos de acesso entre os conveses e uma rede pesada espalhada pelo convés superior aberto, os 500 homens ficaram presos a bordo. Os que estavam posicionados nos conveses mais altos, dentro dos castelos de proa e popa, ou no cordame, foram os únicos sobreviventes.”

Em 1982, arqueólogos recuperaram o casco do navio e os restos mortais de 179 tripulantes, tudo em estado de conservação excepcional. “Essa notável preservação permite que a tripulação do Mary Rose seja estudada de forma holística: seus pertences, sua aparência e até mesmo sua saúde.”, escreveram os autores de um novo estudo, publicado no dia 30 de outubro na revista PLOS One.

Imagens do Museu Mary Rose.
(The Mary Rose/Reprodução)

A operação de resgate foi um marco na arqueologia marítima e, hoje, mais de 19 mil peças do navio estão em exibição no Museu Mary Rose em Portsmouth, Inglaterra. Desde então, ele é estudado como uma cápsula do tempo para o período de governança dos monarcas Tudor na Inglaterra. Nessa fase, que durou entre 1485 e 1603, a arte, a arquitetura, o comércio, a exploração e o comércio britânicos floresceram.

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Agora, pesquisadores estudaram as clavículas de 12 homens, com idades de 13 a 40 anos, que estavam no Mary Rose. Os estudos examinaram como o trabalho repetitivo no navio moldou a estrutura óssea da tripulação, procurando sinais reveladores de envelhecimento e evidências de destreza, ou a mão que os membros da tripulação naturalmente preferiam.

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O estudo revelou um equilíbrio entre minerais e proteínas nos ossos. Minerais garantem resistência, enquanto proteínas dão flexibilidade, importante para evitar fraturas. Conforme o envelhecimento, o conteúdo mineral dos ossos aumenta, enquanto o conteúdo proteico diminui. Essa mudança foi notada principalmente nas clavículas direitas dos tripulantes.

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A pesquisa sugere que os marinheiros tendiam a usar mais a mão direita, pois o uso da mão esquerda era desencorajado por conotações negativas na época. Na Inglaterra medieval, ser canhoto era associado à bruxaria, então muitos foram “forçados” a desenvolver habilidades com a mão direita, o que refletiu nas características químicas de seus ossos.

As clavículas foram escolhidas  porque os ossos apresentam características exclusivas relacionadas à idade, ao desenvolvimento e ao crescimento. Apesar de serem uns dos primeiros ossos a se formarem no corpo humano, as clavículas também são os últimos a se fundir completamente, entre 22 e 25 anos de idade.

Fotos dos destroços do navio sendo retirados do fundo do mar.
(The Mary Rose/Reprodução)
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“Esses resultados aumentam nossa compreensão da vida dos marinheiros Tudor, mas também contribuem para a investigação científica moderna na busca de uma compreensão mais clara das mudanças na química óssea e possíveis ligações com doenças esqueléticas relacionadas ao envelhecimento, como a osteoartrite.” disse Sheona Shankland, a principal autora do estudo, em entrevista à CNN.

A equipe utilizou um método não destrutivo para analisar os ossos chamado espectroscopia Raman. Nele, a luz é apontada para a amostra e, de acordo com mudanças na cor da luz, os pesquisadores podem identificar substâncias específicas.

Shankland quer continuar os estudos com restos mortais do naufrágio. Seu próximo alvo deve ser os arqueiros: para puxar a corda dos longos arcos para trás, os arqueiros precisavam fazer grandes rotações. No futuro, a pesquisadora quer analisar as suas colunas para entender como essas atividades impactavam as costas dos arqueiros.

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