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O estúdio de Assassin’s Creed vai falir?

Com jogos flopados e dificuldades financeiras, Ubisoft está em uma situação perigosa. Entenda.

Por Victor Bianchin
Atualizado em 13 jan 2025, 10h48 - Publicado em 1 jan 2025, 14h00

Quem gosta de videogame presenciou em 2024 um fenômeno sem precedentes: a crise da indústria AAA. No jargão do meio, “AAA” é o apelido dado aos jogos grandes, criados pelos maiores estúdios e que exigem muito tempo de desenvolvimento e dinheiro para serem executados. Da mesma forma, existe uma expectativa de que esses jogos, ao serem lançados, consigam o retorno do investimento e também gerem (bastante) lucro.

Mas 2024 foi catastrófico para esse filão: o game Dragon Age: The Veilguard vendeu mal apesar das boas críticas, sendo que seu estúdio, a Bioware, desesperadamente precisava de um best-seller. A Microsoft simplesmente desistiu de competir com a Sony e vai lançar todos seus jogos também para o PlayStation, acabando com a exclusividade (e com os motivos para comprar?) no Xbox. Concord foi um fracasso tão retumbante que deu US$ 400 milhões de prejuízo e foi retirado das lojas duas semanas após o lançamento.

Calma que tem mais. Suicide Squad: Kill the Justice League foi achincalhado na internet, matou a boa reputação da Rocksteady e vai deixar de receber atualizações muito antes do esperado. Foamstars flopou tão forte que a Square Enix atualmente está revendo todo seu modelo de negócios. O fato dos três últimos jogos citados serem live-service (para jogar com os outros online) também diz muito sobre os problemas dessa indústria atualmente.

E, ainda assim, ninguém sofreu mais revezes neste ano do que a Ubisoft. O estúdio francês, fundado em 1986, é um dos atores mais importantes do cenário de games atualmente, sendo dono das franquias Assassin’s Creed, Far Cry, Prince of Persia e Rainbow Six, entre outras. Mas, em 2024, foi um flop atrás do outro.

Após mais de uma década em desenvolvimento e pelo menos US$ 650 milhões investidos, Skull And Bones fracassou nas vendas. Prince of Persia: The Lost Crown foi elogiado pela crítica, mas não vendeu  suficiente para dar lucro. Star Wars Outlaws, um aparente sucesso garantido, vendeu apenas um milhão de cópias, provavelmente dando prejuízo. Agora em dezembro, a empresa encerrou o game live-service XDefiant, lançado em maio, e demitiu 277 funcionários.

Em outubro, as ações da empresa haviam caído 57% no ano e o alerta vermelho foi ligado — a Ubisoft estava indo pro fundo do poço. Pouco antes disso, no final de setembro, a empresa deu sua última cartada: adiar Assassin’s Creed Shadows, o próximo grande título da franquia, de novembro deste ano para fevereiro de 2025. Para os investidores, não muda muita coisa, pois o ano fiscal da empresa acaba em 31 de março — ou seja, Shadows terá bastante tempo para encher os bolsos dos executivos. Mas a questão é: ele vai conseguir?

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Um Everest para os assassinos escalarem

Para começo de conversa, fevereiro é sempre o mês mais abarrotado do ano para os games e 2025 não será exceção: teremos Monster Hunter Wilds, Civilization VII, Avowed e Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, além de outros títulos menores. Em segundo lugar, existe uma crise de credibilidade: se a Ubisoft não conseguiu vender bem um título com “Star Wars” no nome, é porque a questão vai bem além do marketing, de títulos rivais ou de timing.

Até hoje, nenhum título principal da franquia Assassin’s Creed flopou em vendas. Isso é um feito gigantesco, considerando que estamos falando de 13 jogos. A série se tornou maior que seu estúdio criador e, mesmo fracassando em iniciativas transmídia (o filme com Michael Fassbender naufragou nas bilheterias em 2016), ainda é uma das propriedades intelectuais mais valiosas do mundo, valendo algo entre quatro e cinco bilhões de dólares.

Foto do jogo Assassin's Creed.
(Assassin's Creed/Ubisoft/Reprodução)
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Por isso, há muito em jogo aqui: se AC Shadows não performar bem, vai arranhar a reputação da franquia e também, talvez, falir de vez seu estúdio. “A Ubisoft não é a única empresa tradicional tendo dificuldades”, escreveu em sua newsletter Joost van Dreunen, professor da Universidade de Nova York e especialista em negócios de videogames. “Mesmo gigantes como Microsoft e Sony estão tendo que admitir derrota este ano perante lançamentos decepcionantes, o que resultou em demissões e fechamentos de estúdios. Mas, diferentemente dessas grandes holdings, que podem se apoiar em uma variedade de fontes de arrecadação e possuem as reservas que permitem encarar tais perdas, o futuro da Ubisoft parece muito menos seguro”.

De fato, o que se desenha para a Ubisoft em 2025 é, muito provavelmente, a venda para um estúdio maior. É no que acredita Dreunen e também muitos influencers do mundo dos games. No começo de dezembro, a agência de notícias Reuters reportou que os acionistas da Ubisoft estão considerando vender a empresa, mas mantendo a família Guillemot no controle (atual presidente e CEO, Yves Guillemot, fundou a empresa com seus irmãos em 1986).

A possível compradora da Ubisoft será a Tencent, o gigantesco conglomerado de games chinês que é dono da Riot Games (que faz League of Legends), da Digital Extremes (que faz Warframe) e de muitas outras empresas. A Tencent também tem participação majoritária ou minoritária em diversas companhias, como a Epic Games (que faz Fortnite) e a própria Ubisoft, onde é a segunda maior acionista.

Aliás, em 2018, a Tencent foi uma das empresas que salvaram a Ubisoft ao comprar ações da empresa. Na época, a Vivendi (conglomerado de mídia francês) estava tentando tomar controle do estúdio à força comprando ações e se tornando a acionista majoritária, retirando o controle das mãos dos Guillemot. A Ubisoft resistiu e convenceu a Vivendi a vender parte de suas ações para outros atores, como a Tencent.

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Uma mudança necessária

Por enquanto, as partes envolvidas não negam nem confirmam a aquisição, e tudo que temos são rumores. Mas, seja ela vendida ou não, o fato é que a Ubisoft precisa mudar, tanto na forma de criar seus jogos como na forma de gerir seus funcionários. 

“A Ubisoft está uma bagunça já há algum tempo. Após alegações de abuso no ambiente de trabalho que levaram ao desligamento de vários executivos do alto escalão, a Ubisoft teve dificuldades para realmente transformar sua cultura. Não apenas sua filosfia de games está ultrapassada, mas sua estrutura também”, escreveu Stacey Henley, editora-chefe do site The Gamer. Ela se refere à onda de denúncias de assédio feitas por funcionários em 2020, as quais resultaram em demissões. Os funcionários alegaram que a Ubisoft não apenas sabia dos assédios, como também os acobertava.

Do ponto de vista dos games em si, uma mudança é extremamente necessária. Apesar de ter uma nota 80 no agregador de críticas Metacritic, Assassin’s Creed Valhalla, o último título da franquia, exacerbou as manias do estúdio ao trazer um mundo aberto inchado, repetitivo e sem criatividade. Os mesmos problemas se repetiram em Star Wars Outlaws. Se Assassin’s Creed Shadows vier com os mesmos defeitos, é possível que os fãs simplesmente não tenham mais a mesma paciência.

Assassin’s Creed Mirage - PlayStation 5

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