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Volume cerebral de astronautas pode aumentar após longas viagens ao espaço

O fato pode ter relação com problemas de visão relatados por astronautas ao retornar à Terra.

Por Carolina Fioratti
16 abr 2020, 18h59

Filmes de viagens espaciais sempre mostram o antes, o durante, mas raramente o depois. O astronauta se prepara para decolar, vive uma grande jornada, e, quando volta à Terra, as coisas voltam a ser como eram. A ciência descobriu nos últimos anos, no entanto, que certas mudanças invisíveis podem dar as caras. A microgravidade enfrentada pelos astronautas em longas viagens ao espaço, segundo uma nova pesquisa publicada pela Sociedade Radiológica da América do Norte, pode trazer, por exemplo, alguns problemas para a cabeça. Literalmente. 

Pesquisadores da Universidade do Texas registraram imagens dos cérebros de 11 astronautas que estavam às vésperas de visitar a Estação Espacial Internacional (ISS). Após seis meses cumprindo suas missões, eles retornaram a Terra. Então, o estudo foi retomado. Os voluntários passaram por seis novos testes de imagens durante o ano seguinte. Os primeiros exames indicavam o aumento de, em média, 2% do volume cerebral. Os seguintes permaneceram iguais, sem qualquer sinal de diminuição do volume da central de comando com o passar do tempo. 

Entre as partes do cérebro que foram modificadas, há a substância branca, massa cinzenta e também o líquido cefalorraquidiano. Sim, os nomes são complicados. Mas calma, vamos entender a função disso tudo.

A substância branca é responsável por conectar as áreas de massa cinzenta. Essa última, por sua vez, serve para interpretar impulsos nervosos das regiões do corpo até o encéfalo. É por causa dela que “pensamos rápido” quando uma bola vem em nossa direção. Além disso, as regiões do cérebro que controlam a atividade muscular, visão, audição, fala, entre outros, ficam alocadas nessa área de massa cinzenta, chamada córtex cerebral. Por fim, o líquido cefalorraquidiano serve como um amortecedor para o córtex cerebral e a medula espinhal. Tudo funcionando em harmonia. 

Então, se tudo isso aumentou, é como se eles tivessem evoluído e melhorado ainda mais suas funções cognitivas? Na verdade, não. Pelo contrário, o aumento do volume cerebral causa uma maior pressão intracraniana (PIC). A pressão normal do crânio varia entre 5 e 15 mmHg, mas, nesse caso, fica acima desse valor. Em casos mais graves, isso pode impedir a passagem de sangue pelo órgão, o que prejudica também a oxigenação. 

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Alguns astronautas se queixam de problemas de visão desencadeados após viagens ao espaço, e a resposta pode estar aí. A PIC pode pressionar o nervo óptico, o que causa problemas como visão dupla ou embaçada e até mesmo cegueira definitiva. 

A evidência causa preocupação para as futuras viagens espaciais de fôlego – como a missão a Marte, que já vem sendo planejada há tempos. Mas, a grande culpada é a gravidade. Na Terra, o líquido cerebral se move naturalmente para baixo quando estamos em pé. Mas, na microgravidade, em que ficamos “flutuando”, esse líquido não segue seu fluxo normal e acaba se acumulando na região cerebral. 

Mas, o aumento do volume no cérebro não foi a única mudança observada. Seis dos 11 astronautas tiveram suas hipófises deformadas. A hipófise, caso esteja se perguntando, é a glândula mestre do nosso corpo, responsável pelo funcionamento de várias outras glândulas endócrinas, que secretam substâncias como o GH (hormônio do crescimento) e o ADH (hormônio antidiurético). 

Os cientistas estão trabalhando em métodos para combater essas mudanças no cérebro. A ideia é utilizar gravidade artificial, talvez usando uma centrífuga do tamanho de uma pessoa, que giraria em alta velocidade, ou uma câmara de vácuo que seria colocada na metade inferior do corpo do astronauta. O objetivo é fazer o sangue voltar aos pés mesmo na microgravidade, respeitando seu fluxo normal. 

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