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Os oceanos estão mudando de cor. E a culpa é da crise climática

Entenda como águas mais quentes tornam uma região mais ou menos esverdeada, e como isso pode significar um alerta de desequilíbrio ecológico.

Por Eduardo Lima
25 Maio 2024, 16h00

Você já viu um anel do humor? A joia, que já fez parte do guarda-roupa hippie e encanta crianças desde os anos 1970, muda de cor para representar as emoções de quem a usa. O acessório, claro, não consegue ler a sua mente: o pigmento varia de acordo com a temperatura da pele.

Ao que tudo indica, os oceanos estão seguindo a mesma lógica desses anéis. De acordo com um novo estudo, na revista Nature, os oceanos estão seguindo a mesma lógica: águas mais quentes (cortesia da crise climática) estão mudando de cor no mundo todo.

Em lugares de baixas latitudes, próximas à Linha do Equador, o mar está ficando cada vez mais verdes. Já em outras regiões, a água está azulando, e tudo isso acompanha tendências de aquecimento global.

Mas calma: não adianta correr para a praia para tentar ver o mar colorido. A mudança de cor dos oceanos não é perceptível a olho nu. A transformação foi percebida por satélites e, segundo os cientistas, vão além das variações naturais e esperadas de ano a ano.

Os novos tons do oceano estão relacionados às crescentes temperaturas da superfície marinha, transformando o equilíbrio das populações submarinas de fitoplânctons e, por sua vez, mudando a cor dos mares. Vamos entender como essa dinâmica funciona.

Azul (e verde) da cor do mar

O oceano limpo é naturalmente azul. As moléculas de H₂O filtram a luz branca, emitida pelo sol. Contidas no branco estão todas as outras cores, e algumas delas, como o vermelho e o amarelo, são absorvidas pela água. Outras, como o azul, são refletidas por ela. 

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Para se chegar ao tom de azul do mar que inspiraria uma canção do Tim Maia, muita coisa entra em jogo: a profundidade da praia (a partir de 1km abaixo do nível do mar, a luz solar não penetra mais no oceano), os tipos de partículas de areia no fundo e até microrganismos aquáticos. Entre eles, temos os fitoplânctons.

Os fitoplânctons vivem flutuando perto da superfície das águas e fazem fotossíntese. O processodepende da clorofila, o pigmento que dá às plantas uma cor esverdeada. E, para os cientistas do novo estudo, é justamente a massa de fitoplânctons que pode estar tendo um papel importante nas mudanças de cor do mar.

Em 95% da área do oceano, na chamada zona afótica (onde a luz não penetra por causa da profundidade), o que define a cor da água é o que está nas suas camadas mais superficiais. Ou seja: quanto mais escuro o azul, é sinal que há menos seres vivos ali. E quanto mais verde, mais fitoplânctons estão presentes.

O relatório europeu sobre o Estado do Clima, publicado em abril de 2024 pelo Serviço Climático Copérnico, da União Europeia, encontrou uma quantidade de clorofila de 200 a 500% maior que a média no mar da Noruega e na área do Oceano Atlântico ao norte do Reino Unido. Enquanto isso, os níveis a oeste da península Ibérica estavam de 60 a 80% menores do que as medições realizadas entre 1998 e 2020.

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Usando satélites da Nasa que analisam sete comprimentos de onda eletromagnética diferentes, compreendendo um grande espectro de cores, B.B. Cael e outros pesquisadores do MIT (Massachussets Institute of Technology) mapearam a cor do oceano durante as últimas duas décadas para entender a influência do excesso de clorofila e dos fitoplânctons na cor da água. 

Os cientistas descobriram que 56% da área do oceano mudou de cor nos últimos 20 anos. Só a porção de água com novas cores representa um espaço maior que todos os continentes juntos.

Desequilíbrio ecológico

Utilizando os dados de satélite, os pesquisadores conseguiram desenvolver modelos para criar simulações do comportamento dos oceanos. Eles compararam uma Terra virtual, sem aquecimento global, com os fenômenos reais. Com esse experimento, foi possível perceber que as regiões oceânicas próximas ao Equador estão ficando cada vez mais verdes, por causa do excesso de clorofila de populações cada vez maiores de fitoplânctons.

Os plânctons, que também absorvem dióxido de carbono da atmosfera, podem migrar 35 quilômetros para o norte a cada década, segundo novos estudos, adaptando-se a águas mais quentes e com menos nutrientes para realizar a fotossíntese.

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Esse movimento pode levar a um desequilíbrio na população de zooplânctons, pequenos animais marinhos que se alimentam dos fitoplânctons. As complexas cadeias alimentares que dependem deles podem mudar bastante nos próximos anos, com a biodiversidade de espécies caindo nos trópicos e aumento muito em águas subpolares e temperadas.

O problema vai muito além de uma simples mudança da cor do oceano aqui ou ali. A água mais ou menos verde representa uma mudança ecológica, que afeta todo o ecossistema marinho. Redes alimentares complexas são desequilibradas pelas mudanças nas populações de plânctons. Ao contrário de um anel barato, a cor do oceano parece funcionar como um excelente termômetro para entender o que está acontecendo com ele.

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