Truque promete reduzir em 30% o consumo de energia dos datacenters
Apenas 30 linhas de código podem ser suficientes para deixar o Linux muito mais eficiente, dizem pesquisadores; veja por que

Se você acha que a explosão de inteligências artificiais por todo canto vai custar apenas o emprego de muita gente, está muito enganado. Vai custar também energia, muita energia. A mais recente previsão da Agência Internacional de Energia é de que o consumo de eletricidade vai aumentar tanto que, daqui até 2027, será como se surgisse um novo Japão no mundo a cada ano.
Os data centers, que rodam as ferramentas de IA, são os principais responsáveis por esse consumo elevado, respondendo por cerca de 40% da demanda de eletricidade devido à computação e outros 40% para resfriar o equipamento e garantir a eficiência de processamento.
É tanta energia que nem cobrindo montanhas com painéis solares, como a China está fazendo, pode resolver de vez.
Mas a ciência traz esperanças. Pesquisadores da Universidade de Waterloo, no Canadá, descobriram que, ao adicionar um certo código ao sistema Linux (plataforma de código aberto na qual roda a maioria dos data centers), eles conseguem tornar mais eficiente o processo em que os pacotes de informação são distribuídos e alocados pelo “front end” do sistema. Com isso, conseguem reduzir o consumo de energia do data center em até 30%.
Mais especificamente, o método identifica e quantifica os custos diretos e indiretos das solicitações de interrupção de hardware assíncronas (IRQ), o processo pelo qual os pacotes são alocados, como uma fonte importante de sobrecarga.
Também propõe que uma pequena modificação no sistema Linux poderia melhorar significativamente a eficiência e o desempenho da rede tradicional baseada no kernel em até 45%, sem comprometer a eficácia operacional.
O método foi originalmente divulgado em dezembro de 2023 em um periódico científico, sendo depois submetido à equipe do Linux para teste e eventual adoção. Em fevereiro deste ano, o código foi finalmente incluído na versão 6.13 do Linux.
“Não adicionamos nada”, afirmou Martin Karsten, professor de ciências da computação na universidade e um dos autores do estudo, em comunicado. “Nós apenas reorganizamos o que é feito e quando, o que leva a um uso muito melhor dos caches de CPU do data center. É como reorganizar a linha de produção em uma fábrica para que as pessoas não fiquem correndo para lá e para cá o tempo todo”, disse ele.
O mais impressionante do feito de Karsten e seu colega, o engenheiro Joe Damato, é que o código que escreveram tem apenas 30 linhas.
“Todas essas grandes empresas – Amazon, Google, Meta – usam Linux de alguma forma, mas elas são muito exigentes sobre como decidem usá-lo”, afirmou Karsten.
“Se elas escolherem ‘ativar’ nosso método em seus data centers, isso poderia economizar gigawatts-hora de energia no mundo todo. Quase todas as solicitações de serviço que acontecem na internet poderiam ser positivamente afetadas por isso”, analisou ele.