Leitores confiam mais em textos escritos por máquinas
Estudo alemão mostrou preferência das pessoas por textos programados com algoritmos em vez de matérias escritas por jornalistas
Quando estava na escola, uma professora pedia relatórios gigantescos e os avaliava mais pela quantidade de páginas escritas que pela qualidade delas. Como a turma era bastante numerosa, sabíamos que ela não conseguiria ler toda nossa produção, então escrevíamos com capricho o início e o final do trabalho e o resto preenchíamos com geradores de texto falso. Ninguém nunca foi reprovado por isso, mas, mesmo que tenha lido, a professora não deve ter entendido as reflexões criadas por computador.
Essa trapaça (da qual não me orgulho) aconteceu no início dos anos 2000, nos primórdios dos geradores de texto. Hoje, com o avanço da tecnologia, não seria tanta enganação assim. Contos já foram escritos por inteligência artificial e é possível programar matérias jornalísticas com algoritmos – algumas agências de notícias fazem isso com publicações que têm estruturas previsíveis, como esporte e mercado financeiro. E, se depender da nova descoberta alemã, meu lugar diante do teclado pode estar com os dias contados.
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Um estudo da Universidade de Munique Ludwig-Maximilians mostrou que as pessoas confiaram mais em textos gerados por algoritmos que naqueles escritos por jornalistas reais – como eu. Os cientistas pediram para 986 pessoas lerem e avaliarem duas notícias. Quando os leitores pensavam que o artigo tinha sido escrito por um profissional, davam notas mais altas aos critérios de leitura e de credibilidade. O problema (ou ameaça para quem trabalha com escrita) é que, sem saber, eles avaliaram bem mesmo quando uma máquina foi a autora da notícia.
Os resultados da disputa máquinas versus jornalistas surpreendeu os cientistas. Porque, ao mesmo tempo em que os leitores acharam as matérias escritas por humanos mais legíveis, avaliaram melhor as notícias geradas por computador no quesito credibilidade. Eles acreditam que um dos motivos dessa bipolaridade pode ser porque os leitores não dominavam os assuntos dos artigos que foram obrigados a ler. “Os textos gerados automaticamente estão cheios de números listados com duas casas decimais. Esta impressão de precisão contribui muito para a percepção de que eles são mais confiáveis”, acrescenta Mario Haim, um dos autores do estudo. Geradores de texto 1 x 1 jornalistas.
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