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Inteligência artificial compõe álbum de black metal

Inspirando-se no trabalho de uma banda do gênero musical, o computador foi capaz de criar suas próprias canções. E o resultado, aliás, não foi nada ruim

Por Guilherme Eler
6 dez 2017, 09h16

Bem ensinadas, as máquinas conseguem fazer quase qualquer coisa  controlar carros autônomos, diagnosticar pneumonia e até investigar cartas psicografadas de Chico Xavier. As aventuras de inteligências artificiais no mundo da música, porém, ainda são relativamente recentes. Você, leitor da SUPER, talvez se lembre das duas primeiras canções pop criadas sem participação humana, ainda no ano passado.

Trata-se de um processo complicado: para soar como música aos nossos ouvidos, e não só um amontoado de bits, a informação tem de ser bem lapidada pelos robôs, com criatividade e senso estético suficientes para fazer sentido até a um exigente ouvinte humano.

Já que os computadores ainda não têm autonomia para sair produzindo por conta própria em vertentes mais extremas do rock, o jeito é ensiná-las a fazer isso. Foi com esse propósito que nasceu o Coditany of Timeness, primeiro álbum de black metal composto integralmente por inteligência artificial da história. É possível ouvir as cinco faixas do disco no site Band Camp spoiler: são bem mais interessantes do que você deve estar imaginando.

A criação se utiliza de uma técnica de aprendizado de máquina chamada deep learning. O método consiste, basicamente, em oferecer referências suficientes para que o robô aprenda, com base na repetição, a reconhecer padrões e criar por conta própria.

Para isso, deve-se contar com uma boa base de dados, próxima do que se espera conseguir como resultado final. No caso do disco de black metal, esses daados foram extraídos de um álbum já existente do gênero, o Diotima, produzida pela banda Krallice, de Nova York, em 2011.

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Zack Zukowski e CJ Carr, os autores da ideia, justificam a escolha da banda em um artigo científico, intitulado Criando Black Metal e Math Rock: para além de Bach, Beethoven e Beatles. Para os pesquisadores, a Krallice é um “ponto fora da curvatura humana”, por utilizar  “seções progressivas ultra longas, ritmos com textura” e “ataques rítmicos agressivos”. Posto isso, era só fazer o computador entender os riffs pesados e replicar a receita de forma razoável. Demorou, três dias e cinco milhões de repetições, para ser mais preciso, mas a máquina conseguiu captar essa essência.

As seis canções do Diotima foram quebradas em 3.200 partes, com oito segundos de duração cada uma. Com esses trechos, os pesquisadores puderam alimentar uma rede neural — estrutura de processamento da informação baseada em algoritmos de computador que simula o funcionamento dos neurônios. Pelo processo matemático conhecido como Cadeia de Markov, o robô adquiriu a habilidade de, com base em uma nota, eleger uma outra nota razoável para continuar a música. Funciona mais ou menos na tentativa e erro: se a onda proposta pela máquina é entendida como fiel a uma boa composição de black metal, essa conexão é reforçada. Caso não, o computador aprende que deve seguir outro caminho para cumprir a tarefa.

O resultado final surpreendeu a crítica especializada: “nada mal”, classificou a Rolling Stone Itália. Jon Christian, do site The Outline, define o álbum como “potencialmente agradável”, destacando os “interludes atmosféricos”, “tremolos de guitarras” e “batidas explosivas frenéticas”. Quem diria.

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“Nas fases iniciais de treinamento, o tipo de som que a inteligência artificial produzia era muito barulhento, grotesco e gutural”, explica Carr, em entrevista ao The Outline. “Conforme ela melhora seu treinamento, você começa a ouvir elementos da música original ficando cada vez mais evidentes.”

As músicas fazem parte do projeto Dadabots, que se define como uma plataforma para artista independentes no caso, inteligências artificiais. Você pode observar neste link também os outros trabalhos feito por computador, quase sem interferência humana: um inspirado em clássicos dos Beatles e outro mais voltado para o gênero math rock. É verdade que os outros dois exemplos não tiveram tanto sucesso quanto a versão metal. Mas não dá para negar que os robôs estão tentando.

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