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Seu sobrenome pode dizer muito sobre o seu salário

Bons holerites estão cheios de nomes japoneses, alemães e árabes.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 jul 2019, 17h18 - Publicado em 28 nov 2017, 18h54

Dados do Ministério do Trabalho confirmaram o que você já suspeitava: no Brasil, graças a desigualdades históricas, dá para adivinhar o salário de alguém só pelo sobrenome.

Segundo uma análise publicada pela BBC, os nomes Silva, Sousa, Costa, Pereira e Oliveira – todos de origem portuguesa – são os mais populares do País: estão no RG de 45% dos trabalhadores brasileiros.

Por outro lado, se for feito um ranking com os 100 sobrenomes que recebem os maiores salários do Brasil, o jogo vira: 43 deles são de origem alemã, 22, de origem italiana, e só 17 vêm da península Ibérica (Portugal e Espanha). Uma distorção notável considerando que 88,1% das pessoas com carteira assinada – independente do salário – têm um último nome de origem ibérica.

Em comparação com um homem branco de sobrenome ibérico – um “João Silva” básico, adotado como padrão – uma pessoa de nome japonês ganha 18% mais por hora. Se o nome for alemão, italiano ou árabe, 8%. Por outro lado, indígenas e negros (que, em geral, tem nomes cristãos ou ibéricos) têm salários respectivamente 10% e 5% menores que o do Silva genérico. Os dados são de Leonardo Monasterio, pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).

No Brasil, sobrenomes oriundos do centro-sul da África são muito raros. Embora escravos negros representassem uma parcela razoável da população brasileira durante a colônia e o império, eles eram vendidos aos fazendeiros com nomes ibéricos, em geral de origem cristã.

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Para chegar às conclusões, Monasterio primeiro usou bases de dados nacionais e estrangeiras para traçar a ancestralidade de 71,1 mil nomes. Depois, usando algoritmos avançados, cruzou as origens etimológicas dos RGs brasileiros com os dados socioeconômicos dos 46 milhões de trabalhadores que estão registrados na edição de 2013 da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) – um banco de dados do Ministério do Trabalho. Parte do processo foi feita na Universidade da Califórnia, nos EUA.

“As evidências são robustas e estatisticamente significantes”, afirmou o pesquisador ao portal G1. “é preciso abrir a caixa preta e entender o porquê dessas diferenças”.

Entre essas anomalias, está o fato de que pessoas com sobrenomes nipônicos têm em média 13,6 anos de estudo – bem acima da média nacional. Isso pode ter alguma associação com o fato de que boa parte da comunidade japonesa do país se concentrou no Sudeste a partir da primeira metade do século 20 – justamente o período em que o café gerou uma grande prosperidade econômica. Nomes de origem ibérica, por outro lado, são mais frequentes em regiões que viveram seu auge econômico há mais tempo, como Norte e Nordeste.

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Responder a esse tipo de questão pode ser essencial para entender – e melhorar – as condições socioeconômicas do Brasil.

 

 

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