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Quais são os coletivos LGBT+ das quatro maiores torcidas de São Paulo?

Amantes do futebol se organizam em grupos para torcerem em paz e marcarem presença nas partidas e na internet.

Por Victor Bianchin
7 mar 2025, 10h00

Torcer para um time é um ato de paixão. Mas, num meio ainda LGBTfóbico como o futebol, é também um ato de resistência. Em São Paulo, representantes LGBT+ das quatro maiores torcidas ainda lutam para se organizarem e torcerem juntos sem sofrer com o preconceito.

Palmeiras – Porcoíris

Com mais de 20 mil seguidores nas redes sociais, o Porcoíris nasceu há alguns anos, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“O coletivo surgiu como resposta ao governo de Bolsonaro, à maneira como ele lidava com o Palmeiras e como o clube ganhou fama de ser time fascista, onde a diversidade de raças, classes, gêneros, sexualidade e afins foram apagadas, inclusive por pessoas de esquerda”, afirma Carlos Monteiro, auxiliar de e-commerce e um dos dez diretores do grupo, que tem hoje 315 membros ativos, de diferentes gêneros e sexualidades.

Fotografia de uma bandeira do Plameiras escrito
(Porcoíris/Divulgação)

“O coletivo foi fundado com o intuito de acolher todo palmeirense que seja LGBTQIA+, dando suporte, demonstrando que é possível acompanhar e torcer, mesmo com a hostilidade que existe dentro do futebol”, diz Monteiro. “O coletivo existe pra isso, pra mostrar que LGBTs amam o futebol, amam o Palmeiras e só querem torcer com segurança.” Ele afirma que o coletivo tem compromisso com pautas antifascistas, antirracistas e feministas, pois entende que essas lutas estão todas relacionadas.

O ativismo do Porcoíris é principalmente online e com faixas em jogos do futebol feminino, pois os jogos do masculino profissional ainda representam um ambiente muito hostil — o grupo frequenta os estádios, mas sem identificação. As páginas do coletivo nas redes também divulgam notícias e ONGs relacionadas ao ativismo LGBT+.

Fotografia de uma mão segurando o adesivo do Porcoíris no estádio.
(Porcoíris/Divulgação)
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“O Porcoíris é, acima de tudo, um local de acolhimento, pois muitos palmeirenses LGBTQIA+ não são assumidos para a família. O único lugar onde eles podem torcer é com os seus. Hoje, nós adquirimos uma força como liderança, mas também já fomos frágeis um dia, então queremos mostrar que é possível torcer.”

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Corinthians – Fiel LGBT

O Corinthians é a segunda maior torcida do Brasil, atrás apenas do Flamengo. Segundo o censo de 2023 do IBGE, o Timão tem 32,2 milhões de torcedores — o São Paulo está em terceiro lugar com 17,03 milhões e o Palmeiras, em quarto, com 15,37 milhões. O Santos fica em nono lugar, com 4,57 milhões.

A Fiel LGBT foi fundada em dezembro de 2019. “Eu tive a iniciativa de criar o coletivo para acolher os torcedores LGBT que torcem para o time do Corinthians”, afirma o presidente do grupo, Railson Oliveira. “E logo de cara o coletivo teve uma ótima repercussão. A maioria dos torcedores apoiou logo de cara. Porém teve uma pequena parte que não aceitou e nos encheu de comentários homofóbicos, e até ameaças. Mas no geral o coletivo foi muito bem aceito.”

Fotografia de torcedores da fiel segurando a bandeira Gay.
Da esquerda pra direita: Gustavo, Railson e Thales, diretores da Fiel LGBT, com uma jornalista que acompanhou a manifestação na Neo Química Arena (FielLGBT/Divulgação)

Hoje, são cinco diretores liderando a torcida e mais de 100 membros em um grupo de WhatsApp. “A nossa maior conquista até hoje foi a conversa que conseguimos ter com o clube lá em 2021”, relembra Railson. “Tivemos uma boa relação por algum tempo. Depois, o coletivo e o clube tiveram algumas divergências que acabaram desgastando a relação”, afirma. 

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A segunda maior conquista foi em 2024, quando os integrantes levaram uma bandeira do arco-íris para o estádio do Timão. “Tivemos a alegria e a coragem de levar a bandeira símbolo do movimento LGBTQIAPN+ para dentro da Neo Química Arena. Uma conquista histórica para o coletivo”, afirma o fundador.

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Santos – Santos Pride

A Santos Pride nasceu oficialmente no dia 28 de junho de 2023, fundada pelo atendente Renato Chagas, que percebeu que outros coletivos de santistas LGBT tiveram vida curta. “A iniciativa foi minha, encorajada pelo Onã Rudá, um dos fundadores da Canarinhos”, diz Renato.

Canarinhos LGBTQ é um coletivo de coletivos, reunindo torcidas organizadas de diversos times pelo Brasil, incluindo o Porcoíris e a Fiel LGBT. “A Canarinhos surgiu depois que surgiu a LGBTricolor, que é a torcida LGBT do Bahia que eu fundei aqui em Salvador”, afirma Rudá. “Com o sucesso da LGBTricolor, começaram a pipocar muitos movimentos pelo Brasil e aí eu falei ‘vamos formar um grupo para a gente conversar, trocar experiências, se fortalecer’”, relembra ele.

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Devido à queda do time masculino para a Série B em 2023, o Santos Pride entrou em hiato. “Temos 3 pessoas [na diretoria], mas pretendo fazer com que o coletivo cresça. Ainda não fazemos demonstrações de apoio, ainda fazemos tudo pelas redes sociais”, afirma Renato.

“Quando lançamos a ideia, tivemos muita aceitação por parte da comunidade, por parte da torcida comum, com poucas críticas e ataques”, ele continua. O objetivo é que, com o retorno do Santos masculino à Série A, o Santos Pride volte a crescer.

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São Paulo

Para a torcida do São Paulo, o preconceito é duplo. Além da homofobia enraizada no futebol como um todo, o clube também enfrenta apelidos pejorativos como “bambi”, popularizado pelo jogador corintiano Vampeta no começo dos anos 2000 (recentemente, o jogador disse que não inventou o apelido, só “passou pra frente”). Com isso, a própria torcida são-paulina acaba sendo hostil a agrupamentos LGBT.

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Por causa disso, atualmente não há um coletivo LGBT do time ativo. No passado, já houve grupos como o Tricolor LGBTQ+ , que acabaram parando de postar nas redes sociais. “Havia uma página no Facebook chamada Bambi Tricolor, idealizada na época pelo saudoso DJ André Pomba, porém ela se limitava à rede social”, afirmam representantes do Bloco Tricolor Antifa, que responderam à reportagem como um grupo. Pomba foi um importante nome da cena underground da cidade e também coordenador do núcleo LGBT do Partido Verde.

Com essa falta de representatividade direta, o Tricolor Antifa, que reúne torcedores alinhados a pautas progressistas, acaba sendo um porto seguro para os torcedores LGBT+. “O ambiente do futebol é extremamente LGBTfóbico. Por conta disso, infelizmente é difícil esses grupos se organizarem para ir ao estádio, justamente por causa da resistência que existe dentro da própria torcida”, explicam os representantes.

“Nosso objetivo enquanto coletivo é justamente poder servir de acolhida para os LGBTs+ para que o futebol possa ser um local mais inclusivo e acolhedor”, defende o grupo.

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