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Por que o islamismo ama gatos?

Diversas histórias do profeta Maomé indicam que ele era um grande fã dos felinos, que são considerados puros e sagrados na religião. Entenda.

Por Bela Lobato
Atualizado em 16 jan 2025, 18h10 - Publicado em 14 jan 2025, 18h00

Muitos turistas se impressionam ao visitar países muçulmanos e encontrar gatos por todos os lados. E, ao contrário do que é comum no Brasil, não são animais magros, abandonados e jogados pela rua. Frequentemente, os gatos são saudáveis, respeitados por todos e até ganham algumas benesses – como a gata famosa que foi enterrada em uma mesquita em Istambul, acrescentando um novo capítulo em uma disputa entre cristãos e muçulmanos que já dura séculos.

Talvez seja mais fácil, na tradição brasileira, visualizar os gatos como animais indiferentes e os cachorros como os amigos leais. Mas o caso é mais ou menos o contrário no islamismo, que vê nos felinos seres muito puros, limpos e higiênicos. Esses valores são primordiais para os muçulmanos, que antes de cada oração precisam passar pela ablução – um ritual de purificação em que é preciso se lavar de uma forma específica. 

Existem dezenas de histórias religiosas sobre gatos na tradição islâmica, mas para entendê-las, precisamos dar um passo atrás e entender de onde elas vêm.

Os muçulmanos, além de se orientarem pelo seu livro sagrado, Alcorão, também embasam os valores da religião na Suna, um corpo de tradições morais que é embasado pelos hádices (ou hadith): textos que relatam histórias do profeta Maomé a partir do ponto de vista de diversos narradores identificados

No islamismo, a Suna fica atrás só do Alcorão em importância e autoridade. Os hádices também são usados com validade legal para embasar a sharia, a lei islâmica que influencia os sistemas legais de diversos países muçulmanos.

Bom, voltando à pureza dos gatos: eles são tão limpos que um hádice conta que Maomé teria dito ao seu seguidor Abu Qatadah que não tinha problema se o ritual de ablução fosse feito com a água que um gato bebeu. Diferente de outros animais, o recipiente do qual o gato bebe também é considerado puro.

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Nas grandes cidades muçulmanas, gatos de rua são a realeza. Cuidados pela comunidade, eles também são autorizados a circular livremente por mesquitas. Um hádice afirma que Maomé teria dito que “uma mulher entrou no inferno por causa de um gato que ela havia amarrado, sem lhe dar comida nem deixá-lo livre para comer dos vermes da terra”.

Istambul, a capital da Turquia, abriga cerca de 125 mil gatos de rua. Além da comoção pública com a morte de Gli, a gatinha que vivia na mesquita Hagia Sophia (mencionada no primeiro parágrafo), outros felinos são ou foram celebridades locais.

Um dos casos mais famosos é o de Tombili (“Gordinho”, em tradução literal do turco), um gato de rua que viralizou ao ser fotografado diversas vezes na mesma posição em um degrau da cidade, sentado como um humano, observando a rua.

Depois da sua morte, em 2016, um abaixo-assinado online arrecadou 17 mil assinaturas e conseguiu uma estátua de bronze de Tombili no mesmo local e com a mesma pose. A inauguração do monumento teve a presença do prefeito e foi transmitida na TV turca.

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Foto do Tombili e sua Estátua, o gato sentado nas escadas da calçada no bairro de Ziverbey, Istambul, Turquia.
Tombili original, em sua pose que viralizou online nos anos 2010 e a sua estátua no bairro de Ziverbey, em Istambul, na Turquia. (Wikimedia Commons/Reprodução)

Já dentro de casa, muitos muçulmanos usam um tapete para suas orações diárias – e, como tudo mais, os tapetes devem ser mantidos limpos e puros. Mas, mais uma vez, os felinos são exceção: eles podem se deitar nos tapetes, deixá-los cheios de pelos e até urinar que tudo continua bem. 

Outro privilégio é que as orações não precisam ser interrompidas se um gato passa pela pessoa durante o processo. Já se quem passar for um cachorro preto, um jumento ou até mesmo uma mulher, a oração precisa ser reiniciada. (A parte das mulheres é controversa: embora um hádice diga explicitamente isso, teólogos islâmicos argumentam que outros trechos da Suna permitem afirmar que Maomé não estava equivalendo mulheres, jumentos e cachorros, já que o próprio Maomé rezava com uma mulher na sua frente.)

Existem muitas outras histórias sobre o amor do profeta muçulmano pelos gatos que não são tão bem estabelecidas na Suna e causam discórdia entre os teólogos. Mesmo assim, são repetidas há séculos – talvez por serem especialmente adoráveis.

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Duas envolvem o gatinho Muezza, que era o favorito de Maomé e pertencia a um amigo dele chamado Abu Hurayrah (“Pai dos gatinhos”, em tradução literal do árabe; 0 apelido teria surgido porque o homem sempre andava com gatinhos na bolsa). Um dia, Muezza atacou e matou uma cobra que se aproximava do profeta durante uma oração. Em agradecimento, o profeta o acariciou três vezes, concedendo a ele três bênçãos e a todos os gatos a habilidade de, para sempre, cair em pé.

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Tem ainda mais uma história com a qual todos os donos de pets vão se identificar.  Um dia, deu a hora da oração e Muezza estava adormecido em cima das vestes que Maomé utilizaria para rezar. Atrapalhar o sono felino não era uma opção, então o profeta só teve uma coisa a fazer: cortar as mangas foras e utilizar a veste pela metade, deixando Muezza em paz.

E se esse texto te deixou com carência de fotos e vídeos de gatinhos adoráveis, temos duas recomendações. A primeira é o subreddit r/CatsAreMuslim (“Gatos São Muçulmanos”, em tradução literal do inglês), que reúne vídeos e fotos de gatinhos bem tratados em mesquitas, alimentados na Faixa de Gaza, seguindo seus donos feridos e descansando em versões mini do tapete de oração de seus donos.

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A segunda é a conta do TikTok e do Instagram de uma gatinha chamada Sister Minnie, que figura vídeos humorísticos vestindo hijabs e rezando no tapete por mais atum. Vale o play.

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