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Nós comemos frangos graças a esse costume católico

Junto ao processo de urbanização da Europa, despontou uma tradição religiosa que estabeleceu de vez os galináceos na nossa dieta

Por Guilherme Eler
Atualizado em 5 Maio 2017, 19h54 - Publicado em 5 Maio 2017, 19h52

A aparência compacta, a ótima habilidade de botar ovos diariamente e o comportamento amistoso nem sempre estiveram entre os galináceos. As primeiras galinhas que foram domesticadas há 6 mil anos no sul da Ásia eram com certeza um tanto diferentes das que enchem nossas granjas atualmente. Mas os cientistas não sabiam exatamente quando essas características passaram a ser selecionadas pelo homem – e sua relação exata com nossas necessidades culturais.

O que um estudo conduzido por um grupo internacional de pesquisadores sugere é que essa dependência se intensificou mesmo no período medieval, há pelo menos mil anos. O hábito de não consumir a carne de certos animais por motivos religiosos foi um dos principais motivos para que incluíssemos de vez as aves em nossa dieta – e passássemos a criá-las em massa.

A partir de análises do genoma galináceo, obtido por meio de fósseis, os cientistas identificaram que o ancestral mais próximo de nossos frangos atuais data de 920 a.C. Isso porque genes como o TSHR (responsável por características como a maior produção de ovos e a redução da agressividade dos frangos), e o BCD02 (que expressa sua penugem branquinha) começaram a aparecer mais ou menos nessa época – e a permanecer nas aves desde então.

Tais características faziam mais sentido à vida nas cidades, que começava a tomar corpo com o declínio do feudalismo. Menores em comparação a outros animais, além de menos agressivos, os frangos se tornaram uma opção perfeita para os quintais do homem medieval. Trocar os faisões e gansos – que tinham um maior apelo estético mas eram mais temperamentais-  por uma máquina de produzir ovos, também parecia uma ideia melhor.

Nesse mesmo período, segundo evidências da época, os animais de quatro patas foram banidos da alimentação dos cristãos. Nada de cabras, cordeiros ou qualquer outro quadrúpede durante os períodos de jejum – que eram bem maiores, e tomavam pelo menos 130 dias do ano católico. Se ainda hoje, o costume de guardar a Sexta-feira Santa sem carne ainda é adotado, na época, as recomendações eram seguidas ainda mais à risca.

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A adesão pela alternativa de duas patas passa a ter grande impacto na dieta de países católicos, como eram boa parte dos países europeus da época. Assim, os frangos se consolidam de vez como opção alimentar – pelo menos por cerca de um terço do ano. Foi a redenção do Gallus gallus domesticus.

Daí para se tornar uma das carnes mais consumidas do mundo foi consequência. Mas se hoje você pode manter a tradição de comprar aquele franguinho assado de domingo, tem muito a agradecer aos pacatos cidadãos da Europa medieval – ou à sua crença cristã, melhor dizendo.

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