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Entenda o conflito entre Trump e Harvard (e outras universidades americanas)

A mais prestigiada instituição de pesquisa do mundo processou o governo americano para impedir o corte de US$ 2,2 bilhões em financiamento público.

Por Bruno Carbinatto
24 abr 2025, 16h00

Desde que foi eleito para seu segundo mandato, Donald Trump tem comprado várias brigas como presidente dos EUA – inclusive no comércio internacional, com suas famosas tarifas. Agora, o conflito chegou na mais prestigiada universidade do mundo – e o caso vai parar nos tribunais.

A Universidade Harvard entrou com um processo contra o governo federal americano para tentar impedir que o presidente congele US$ 2,2 bilhões de financiamento público para a instituição, além de outras medidas tomadas por Trump. A faculdade localizada em Massachusetts alega que o republicano viola a Constituição e não segue os devidos ritos legais.

Tudo começou quando o presidente, pouco após o início do seu mandato, fez diversas exigências para várias universidades americanas, sob o pretexto de combater o antissemitismo nos campi e de promover a diversidade de pensamento político nas instituições, vistas por parte dos conservadores como “de esquerda” e “progressistas”.

O governo ordenou, por exemplo, que universidades cancelassem iniciativas de diversidade e inclusão, diminuíssem o poder dos estudantes e relatassem para as autoridades quando alunos de origem internacional fossem acusados de conduta indevida, por exemplo. As exigências vieram em meio a uma onda de manifestações estudantis a favor da Palestina no conflito Israel-Hamas, que as autoridades federais classificam como antissemitas. 

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Se as universidades se negassem, o governo ameaçou cortar a verba federal destinada a elas. Muitas dessas instituições são privadas, diga-se, mas recebem dinheiro público para financiar pesquisas e outras atividades relacionadas à ciência.

As medidas foram fortemente criticadas por professores, cientistas, intelectuais e vários outros, vistas como uma forma de censura e interferência indevida em instituições científicas independentes. Mesmo assim, algumas escolas, como a também prestigiada Columbia, cederam a parte das demandas do republicano.

Mas Harvard foi a primeira a negar publicamente a interferência, e com veemência: “Nenhum governo – independentemente do partido no poder – deve ditar o que as universidades privadas podem ensinar, quem elas podem admitir e contratar e quais áreas de estudo e pesquisa elas podem seguir”, disse Alan Garber, presidente da universidade, em uma carta aberta ao público. 

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Fundada em 1636, quando os EUA ainda eram uma colônia britânica, Harvard é uma das mais prestigiadas universidades do mundo, e frequentemente encabeça rankings globais de melhores centros de estudo e pesquisa. A faculdade cobra caro para seus estudantes, e também se mantém com doações generosas de ricaços, mas, claro, também soma em seus cofres o dinheiro público.

Com a recusa de Harvard em obedecer, o governo Trump cumpriu a promessa e congelou US$ 2,2 bilhões em financiamento federal da universidade. Estava declarada uma guerra.

Ela não foi a única vítima, claro. O republicano também cortou ou congelou grana de universidades como Brown, Princeton, Cornell e Northwestern, entre outras. Na terça-feira, 22 de abril, mais de 150 centros de ensino e pesquisa dos EUA assinaram uma carta aberta condenando a interferência de Trump, um sinal de que o ensino superior americano está se unindo numa grande frente ampla contra o presidente.

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Harvard, por sua vez, lidera a via legal. Seu processo alega que as medidas do governo violam a liberdade de expressão e ilegalmente tentar interferir numa instituição privada. Além disso, a Universidade reforça que os cortes terão impacto profundo nas pesquisas científicas de diversas áreas, especialmente no campo da medicina, podendo atrasar ou anular importantes descobertas no ramo da saúde.

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