Em dois dias, castores constroem represa que o governo planejava há 7 anos na República Tcheca
Estimado em R$7,1 milhões, o projeto da barragem foi resolvido "sem nenhuma documentação e de graça".

Em tempos de inflação e cortes orçamentários, quem diria que a solução para um projeto multimilionário viria com dentes afiados e rabos achatados?
Na República Tcheca, uma colônia de castores europeus salvou o governo de um gasto estimado em 30 milhões de coroas tchecas (cerca de R$ 7,1 milhões). Em apenas dois dias, os engenheiros peludos construíram uma represa que estava sendo planejada há sete anos.
A ideia original era simples: restaurar um rio em uma região montanhosa que já foi usada como base militar, e que hoje está abandonada. Para fazer isso, era preciso corrigir um desvio construído originalmente para drenar a área.
Diversos entraves burocráticos atrasaram o início do projeto. E enquanto as autoridades debatiam, os castores botaram patas e dentes à obra.
Segundo o zoólogo Jiri Vlček, uma represa feita por humanos levaria pelo menos uma semana para ser concluída, com licenças e escavadeiras no cronograma. “Os castores podem construir uma represa em apenas uma noite, ou no máximo duas”, afirmou, em entrevista à Radio Prague International.
A iniciativa, além de inusitada, agradou as autoridades tchecas. “Os castores construíram a represa de graça, sem elaborar qualquer documentação de projeto”, disse Bohumil Fišer, chefe da Agência de Gerenciamento da Paisagem Protegida das Montanhas Brdy.

Não é sempre que esses roedores são reconhecidas pela sua cidadania. Muitas vezes, suas represas podem causar redirecionamentos indesejados dos cursos d’água, e os pântanos resultantes oferecem vários riscos à saúde humana. Além disso, na busca por matéria-prima para as construções, eles causam estragos em plantações e propriedades.
Foi o caso da pequena cidade de Tumbler Ridge, no Canadá, que ficou sem internet em 2021. Os bichinhos roeram o conduíte subterrâneo que abrigava os cabos de fibra óptica, e, depois, roeram os próprios cabos para utilizá-los na construção de uma barragem.
Como e por que os castores constroem represas?
Os castores são roedores famosos por sua habilidade de modificar o ambiente. Eles usam seus dentes enormes para mastigar e empilhar troncos, galhos e lama no meio de cursos d’água, criando uma área inundada mais profunda, que dificulta o acesso dos predadores para proteger os ninhos.
Dentro da barragem, os castores vivem em tocas em formato de cúpula que só podem ser acessadas por entradas subaquáticas, e servem para estoque de alimentos e como isolante térmico no inverno.
Essas construções abrigam um pequeno ecossistema de animais e microorganismos que as utilizam como abrigo e fonte de alimentos.
“Os pântanos recém-criados e as poças d’água proporcionam habitats ideais para lagostins raros, sapos e outras plantas e animais.”, disse Jaroslav Obermajer, da Agência Nacional Tcheca de Proteção à Natureza e à Paisagem. “Os castores sempre conhecem os melhores lugares. Os locais onde eles constroem suas represas são sempre perfeitos”
A barragem de Brdy não foi das maiores. Em geral, as represas dos castores têm até 5 metros de altura, e o comprimento é que pode variar a depender do local. A maior barragem de castor do mundo fica em Alberta, no Canadá, e seus 850 metros de comprimento podem ser vistos em fotografias de satélite.
Os bichinhos são verdadeiros engenheiros, capazes de construir represas que duram décadas. Funciona assim: as bases são feitas de pedras e a madeira vem em cima. No lado a montante (o lado do rio abaixo), há uma camada de lama e plantas que funciona como impermeabilizante.
A parte é inferior é mais larga e a barragem é inclinada de forma que o peso da água a empurre para baixo, mantendo-a no lugar e permitindo que a retenção de grandes volumes de água.
O vídeo abaixo, produzido pela BBC Earth, mostra o passo-a-passo da construção de uma barragem de castores, e começa com um deles derrubando uma grande árvore na base do dente. É possível ativar legendas automáticas em português para acompanhar a narração, que mostra, por exemplo, quando o castor carrega plantas para serem estocadas como alimentos na toca.