Delivery aéreo: avião lança perus de Ação de Graças para famílias isoladas no Alasca
A iniciativa de uma moradora começou em 2022 e alcança entre 30 e 40 famílias que passam o inverno isoladas na zona rural do estado norte-americano.
No estado norte-americano do Alasca, apenas 20% do território é acessível por estradas terrestres. No inverno, as temperaturas variam entre -30ºC e -35ºC e os rios e lagos congelam, fazendo com que regiões fiquem isoladas, acessíveis apenas por via aérea ou por snowmobile, as motos de neve.
Por isso, as famílias que moram em regiões remotas fazem estoques de alimentos e passam meses sem ir ao supermercado. Uma moradora chamada Esther Keim percebeu que isso era um problema, já que muitas famílias ficavam sem jantar de Ação de Graças – ou sem jantar nenhum, na verdade.
“Nós estávamos visitando nossos vizinhos mais próximos, e eles disseram que o inverno anterior tinha sido puxado para eles, e que ‘um esquilo dividido pelas três pessoas não ajudou muito’”, disse Keim em uma entrevista à CBC News. Foi quando ela se lembrou que, quando era criança, havia um vizinho que lançava perus de Ação de Graças de avião para as famílias.
Pelo terceiro ano consecutivo, Keim comanda a iniciativa Alaska Turkey Bomb (Bomba de Peru do Alasca, em tradução literal). Com um pequeno avião, Keim sobrevoa regiões rurais do centro-sul do Alasca, entregando perus congelados para 40 famílias que não conseguem dar um pulinho no supermercado.
O esforço ganhou atenção nas redes sociais e Keim conseguiu angariar doações para famílias alasquianas da zona rural. O alimento vai em um saco de lixo preto marcado com uma fita amarela brilhante, para facilitar a localização em meio a neve.
Keim compra ou recebe dezenas de perus de uma vez, e os armazena na caçamba de uma picape até que o voo seja marcado. “Felizmente faz frio no Alasca, e não preciso me preocupar com congeladores”, disse em entrevista ao AP News.
No dia da entrega, ela avisa os moradores antes e só lança o peru quando vê que eles já saíram de casa. “Não deixamos o peru cair até que os vejamos sair da casa ou da cabana, porque se eles não o virem cair, não saberão onde procurar”, disse ela.
Mesmo com todos os preparativos, a neve densa dificulta encontrar o saco, e por isso, Keim prioriza soltar o peru em lagos congelados, se possível. Uma vez uma família precisou procurar um peru por cinco dias, mas até hoje só um presunto se perdeu definitivamente.
Keim afirma que é motivada pela resposta calorosa que recebe das famílias, que gravam o momento do lançamento, mandam mensagens de agradecimento. Algumas vezes, ela voa tão baixo que consegue ver as expressões de alegria e empolgação de dentro do avião.
Ela espera transformar a iniciativa em uma organização sem fins lucrativos para conseguir mais doações e alcançar pessoas em uma faixa maior do estado, sem se limitar aos perus. “Há tantas crianças nos vilarejos”, disse ela ao AP News. “Seria legal acrescentar talvez um bicho de pelúcia ou algo a que elas possam se apegar.”