Conheça a caça ao tesouro que levou 8 mil pessoas a florestas nos EUA
O vencedor levará quase R$ 600 mil para casa. Veja detalhes dessa gincana e quem são seus organizadores.
Um desafio para os aventureiros e fãs de videogames poderem sentir na pele o gostinho de uma conquista em carne e osso. Essa era a ideia do desenvolvedor de jogos independente Jason Rohrer e seu amigo músico Tom Bailey. Eles passaram três anos planejando o Projeto Skydrop, uma caça ao tesouro que se desenrolou nas últimas semanas e levou mais de oito mil pessoas para as florestas do leste dos EUA.
O tesouro a ser encontrado é uma peça de dez centímetros de altura, feita de ouro 24 quilates. São 311 gramas, e a peça é avaliada em aproximadamente R$ 145 mil. Além disso, o vencedor também levará metade do valor arrecadado com os inscritos na gincana. Com mais de oito mil inscritos pagando US$ 20 para receber pistas especiais, a recompensa final vale mais US$ 80 mil, o equivalente a R$ 438 mil. No total, o vencedor levará R$ 583 mil para casa.
A gincana começou oficialmente no dia 19 de setembro, e estava prevista para durar três semanas. Todos os dias, o website do projeto divulgava um mapa, em que um círculo demarcava a área em que o tesouro poderia estar. O círculo começou enorme, com mais de 1,6 mil quilômetros de diâmetro, abrangendo os estados de Connecticut, Delaware, New Hampshire, Massachusetts, Maryland, Nova York, Pensilvânia e Vermont.
Todos os dias, o círculo diminuía um pouco, de forma que ao fim de três semanas, estaria indicando as coordenadas exatas do local onde o tesouro estava escondido – em alguma área florestal pública e de livre acesso.
O mapa estava disponível no site público, juntamente com as imagens ao vivo de uma webcam que gravava o tesouro. Pequeno e dourado, o objeto se camuflava em meio às folhas amareladas de outono.
Quem quisesse dicas extras poderia pagar os US$ 20, que davam acesso a pistas diárias enviadas por ordem de inscrição (quem já estava participando desde o início recebia as pistas antes). Os “membros” recebiam diariamente uma imagem do tesouro visto de cima, começando com imagens tiradas a um metro de altura e subindo cada vez mais.
“Essas fotografias mostram mais e mais da paisagem ao redor a cada dia. Ao usar essas pistas, você poderá descobrir o local do tesouro antes que o círculo fique muito pequeno. É assim que você pode chegar ao tesouro muito antes dos membros do público, que estão observando o círculo encolher sem nenhuma pista adicional.”, explicam os criadores no website oficial.
O número de participantes só crescia quando um participante encontrou o prêmio: com apenas 13 dias de jogo, o meteorologista Dan Leonard encontrou o tesouro. Mais do que as pistas de membro, Leonard utilizou seus conhecimentos meteorológicos para analisar as imagens da webcam.
Quando o vídeo mostrava que o prêmio estava na sombra, por exemplo, ele buscava os dados em tempo real da região dentro do círculo do mapa e eliminava locais em que estivesse ensolarado, e vice-versa. “Eu fiz isso muitas e muitas vezes, e logo meu círculo começou a diminuir cada vez mais.” disse ele ao canal norte-americano WCVB 5.
Seis dias depois de ter pago para se tornar membro da brincadeira, Leonard partiu com um mapa de mão para uma região de floresta no norte de Massachusetts. Depois de apenas três quilômetros de caminhada, ele passou pelo tesouro pela primeira vez. Sem conseguir enxergá-lo mas percebendo que a vegetação era muito semelhante à das imagens da webcam, ele vai e volta, procurando pelo objeto.
Nessa hora, os espectadores da webcam que assistiam à transmissão ao vivo de suas casas devem ter ficado agitados. Mas menos de um minuto e meio depois, Leonard avista o tesouro, se abaixa e coleta. Ele não seguiu uma das regras do torneio, que exigia que a coleta fosse gravada em um vídeo de primeira pessoa e postada no Youtube.
Mas nem o método de pesquisa nem a ausência do vídeo devem impedir Leonard de ser considerado o legítimo vencedor do Projeto Skydrop. O website já previa a possibilidade do uso de ferramentas externas, e dizia que “desde que você não esteja cometendo nenhum crime, todas as fontes de informação ou ajuda tecnológica são válidas.” E sobre a (remota) possibilidade de uma pessoa não-participante da gincana encontrar o tesouro, os organizadores dizem que “achado não é roubado”, e que a pessoa poderia ficar com o prêmio.
Por alguns dias, ninguém soube quem havia sido o esperto a terminar com a caça com nove dias de folga. Ele foi revelado por um jornal televisivo alguns dias depois, e os organizadores confirmaram que ele era mesmo o ganhador.
Mas o mistério não acabou completamente: no pequeno objeto de ouro existe um código que libera uma carteira de bitcoin para que Leonard recupere o prêmio. Os organizadores ainda não explicaram completamente esse processo de retirada do prêmio, que não será completamente dependente da tecnologia bitcoin.
“O Bitcoin se tornou uma distração do que realmente é o Projeto Skydrop. Criamos uma alternativa muito mais fácil – e mais divertida para todos – para que o vencedor recupere a recompensa. Em breve, anunciaremos mais detalhes. Mas, por enquanto, pense apenas em… mais… tesouro…”, diz o site do Projeto Skydrop.
Os organizadores dizem que o projeto é um “desafio de design interessante”, já que a recompensa é mais do que simplesmente o tesouro a ser encontrado. “Esconder um tesouro para as pessoas encontrarem é simples e já foi muito testado. Mas ter uma recompensa crescente para acompanhar esse tesouro é uma ideia totalmente nova.”
Alguns dos participantes da caçada expressaram que estavam felizes de participar de uma atividade ao ar livre, com um senso de aventura. “Eu cresci como um grande fã de Indiana Jones. Então, acho que isso mexeu com uma pequena memória de infância”, disse Hunter Apteker, de 25 anos, em entrevista à NPR. “Portanto, é interessante ter algo assim… você pode se colocar no lugar dos aventureiros e viver essas memórias de infância.”
“Hoje eu saí e havia um vento bom e forte que soprava nas árvores. E todas as folhas começaram a cair lentamente. Foi absolutamente mágico.”, contou Michal Strawbridge, de 45 anos, também em entrevista à NPR. “Encontrei muitos cogumelos muito bons, alguns insetos legais.”