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Como a menstruação prejudica a educação de meninas em países pobres

Falta de saneamento básico e tabus relacionados ao período menstrual fazem com que adolescentes deixem de estudar – e tenham seu futuro ameaçado

Por Luiza Monteiro
25 fev 2019, 18h38

Há 113 milhões de adolescentes na idade de ter a primeira menstruação na Índia. Essa estatística não deveria ter nada demais num país de 1,4 bilhão de habitantes. Mas não. Lá isso é um problema de saúde pública.

É o que mostra o documentário Absorvendo o Tabu (Period. End of Sentence, em inglês), da Netflix, que levou o Oscar de Melhor Documentário Curta-Metragem no último domingo (24).

O curta de 26 minutos, dirigido pela iraniana Rayka Zehtabchi, mostra a realidade de um vilarejo na área rural de Delhi, na Índia, onde uma máquina que produz absorventes biodegradáveis foi instalada – e está mudando a vida das mulheres que vivem ali. Até a chegada do equipamento, elas lidavam com a menstruação da mesma forma que muitas outras indianas: usando panos e, não raro, recorrendo a jornais, folhas secas, areia e até cinzas para aumentar absorção – o que obviamente eleva o risco de infecções.

Mas o problema vai além de questões higiênicas: afeta até a educação básica. “Estudei até o ensino fundamental, mas quando comecei a menstruar, ficou muito difícil, porque eu tinha que ir em algum lugar longe para trocar de roupa”, conta uma jovem no documentário. Comentários machistas e o sentimento de vergonha também fazem essas meninas quererem sair da escola. E não há como escapar: Uma pesquisa realizada em 14.724 escolas públicas indianas identificou que apenas 53% delas contam com banheiros femininos.

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De acordo com a ONU, 20% das meninas indianas deixam a escola depois de ficarem menstruadas. E em outros países não é diferente – até piora: no Nepal e no Afeganistão, esse índice é de 30%.

Para reverter esse cenário, entidades no mundo todo têm se concentrado em levar recursos e informações para meninas e mulheres sobre a higiene menstrual, que nada mais é do que proporcionar materiais e condições seguras para meninas e mulheres lidarem com a menstruação. Isso passa por garantir acesso a água limpa, a itens como sabonete e absorventes, além de combater os tabus que ainda envolvem esse processo biológico do corpo feminino. A ONG alemã WASH United, inclusive, criou o Dia Mundial da Higiene Menstrual, que acontece em 28 de maio.

Na noite deste domingo, a diretora do documentário da Netflix, recebeu a estatueta com lágrimas nos olhos. “Não estou chorando porque estou no meu período. Não acredito que um filme sobre menstruação acabou de ganhar um Oscar”, disse Rayka. Ainda bem. Esse prêmio certamente vai contribuir para levar o debate a outras partes do mundo – onde meninas enfrentam essas mesmas dificuldades, mas ninguém se dá conta disso.

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