Brasil está mais desigual: perdemos 19 posições no ranking da ONU
A desigualdade de gênero também é uma preocupação das Nações Unidas – a renda média masculina ainda é 66,2% maior que a feminina no país
A distribuição de renda no Brasil piorou ao longo do ano passado, e o país também não avançou em questões de gênero. Essas são as duas principais conclusões do último relatório mundial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), divulgado na última terça-feira (21). Além de atualizar os índices de desenvolvimento humano (IDHs) de 188 países, o documento também destaca as minorias que estão excluídas da melhora média na qualidade de vida em todo o planeta.
No pódio da desigualdade, o Brasil caiu 19 posições – só Irã e Botsuana caíram mais. Prova de que as médias nacionais de IDH escondem disparidades internas e flutuações na distribuição de renda. Na cidade de São Caetano do Sul (SP), a renda familiar média per capita chegava a R$ 2.043,00 em 2010, enquanto em Marajá do Sena (MA) – município de menor renda do país – alcançava apenas R$ 96,25.
O IDH brasileiro, em uma escala que vai de 0 a 1, estagnou em 0,754 – valor considerado alto, mas inferior aos índices de países da América do Sul como Chile, Argentina, Uruguai e Venezuela. Nós ocupamos a 79º posição entre os 188 analisados. Vale lembrar que os dados liberados agora são resultado da análise de informações coletadas até o final de 2015 – alterações econômicas e geopolíticas que tenham mudado as condições de vida em lugares específicos no passado recente só entrarão na conta nos relatórios de 2018 ou 2019. No mundo todo, 300 milhões de pessoas pobres vivem em países ricos.
No Brasil, o IDH das mulheres (0,754) é mais alto que o dos homens (0,751). O resultado, segundo a ONU, é previsível, já que as mulheres, em média, apresentam melhores indicadores de educação e têm expectativa de vida mais alta. A dedicação, porém, não se reflete nos salários: a renda masculina ainda é 66,2% mais alta que a feminina no país. Além disso, só 10,8% das cadeiras do Congresso Nacional são ocupadas por mulheres, número que contrasta tanto com a média mundial (22,5%) quanto com a de vizinhos como Argentina (37,1%) e Uruguai (19,2%). Considerando que há 101,8 homens para cada 100 mulheres no mundo, nenhum país citado se aproxima da proporção desejável (50%). “Não será possível alcançar o desenvolvimento humano se metade da humanidade é ignorada. A desigualdade de gênero e a falta de empoderamento das mulheres são um desafio ao progresso global”, diz o relatório.
Embora os dados de curto prazo tragam más notícias, o panorama geral não é motivo de depressão. Nos últimos, 25 anos a qualidade de vida no Brasil aumentou bem rápido: a população ganhou 9,4 anos de expectativa de vida, e a renda aumentou 31,6%. Na educação, crianças que hoje têm seis anos e estão iniciando a vida escolar passarão em média três anos a mais estudando do que as crianças que entravam na pré-escola no começo da década de 1990. Quem acaba de alcançar os 25 anos de idade já estudou ou ainda vai estudar até quatro anos a mais que a geração nascida na década de 1960.