Relâmpago: Revista em casa a partir de 9,90

As medidas desesperadas de China e Japão para conter a crise demográfica

As taxas de fertilidade em declínio são um problema grave, que está sendo combatido com soluções criativas

Por Victor Bianchin
4 mar 2025, 12h00

A Ásia enfrenta uma situação sem precedentes na história: uma crise extrema de natalidade que ameaça o futuro do continente, e tem levado governos a adotar medidas drásticas para tentar reverter a situação.

A China é um dos países onde o cenário está mais grave. Após sete anos em queda, a taxa de natalidade subiu um pouco em 2024, graças a um baby boom pós-fim da pandemia e ao ano do dragão chinês, que tradicionalmente concentra mais nascimentos. Mas os índices ainda estão baixos: apenas 6,77 nascimentos para cada mil pessoas (em 2014, eram 13,83). Pior: a população chinesa diminuiu em 2024 pelo terceiro ano seguido, já que o número de mortes supera o de nascimentos.

O presidente Xi Jinping se comprometeu publicamente a aumentar as taxas de natalidade e estabeleceu incentivos como descontos nos impostos para quem tem filhos, licenças-maternidade estendidas, subsídios para moradia e outros. Isso sem falar no fim da política do filho único, que acabou em 2015 (agora, cada casal pode ter até três filhos).

Compartilhe essa matéria via:

O cenário é tão sombrio que o país começou a apelar. O Financial Times reportou que o governo agora liga para as casas das mulheres perguntando se elas planejam ter filhos e até pedindo que façam exames médicos. Também foi notado que o governo está incentivando universidades a abrirem “cursos de educação sobre casamento e amor” para incentivar os estudantes a formarem casais. No final de 2024, o New York Times reportou que há funcionários do governo indo de porta em porta incentivando as mulheres a terem mais filhos.

Continua após a publicidade

Para completar, o governo também financia uma forte campanha midiática para divulgar os benefícios de ter filhos na China, incluindo tratamentos anti-dor e de reprodução assistida, além dos subsídios já citados. Em outro front dessa luta, recentemente o país proibiu que famílias estrangeiras adotem crianças chinesas (entre 2004 e 2022, foram registrados mais de 89 mil adoções de crianças chinesas por famílias de 20 países diferentes, segundo dados recolhidos por Peter Selman, professor da Universidade de Newcastle). Não dá para abrir mão de nenhuma!

O caso japonês

A situação no Japão não é muito diferente da chinesa. Além das baixas taxas de fertilidade, as duas nações compartilham outro problema: crescimento acelerado da população idosa. Em 1963, o Japão tinha 153 centenários — hoje, são mais de 95 mil.

Enquanto isso, a taxa de natalidade ficou em 1,2 parto por mulher em 2023 (queda de 5,6%), bem abaixo dos 2,1 necessários para manter a população estável. A população japonesa, atualmente 125 milhões de pessoas, deve diminuir para 87 milhões em 2070 – uma queda de mais de 30%.

Continua após a publicidade

Por lá, um dos grandes problemas é a rígida cultura de trabalho, que impede que as pessoas tenham tempo livre para procriar. O Governo Metropolitano de Tóquio, sabendo disso, tomou uma medida inesperada: vai implementar a semana de trabalho de quatro dias para seus funcionários públicos a partir de abril de 2025.

Além disso, o novo plano introduzirá uma “licença parcial para cuidado de crianças”. Isso permitirá que trabalhadores com filhos até o terceiro ano do ensino fundamental possam reduzir sua jornada em até duas horas por dia, desde que concordem em reduzir os salários proporcionalmente. A ideia é que, com essa flexibilização, as mulheres não precisem mais escolher entre a carreira ou os filhos.

Não para por aí. No ano passado, o governo de Tóquio lançou um app de namoro para quem procura um parceiro. O cadastro é rígido, para filtrar os aventureiros e manter apenas aqueles que procuram por um relacionamento sério: é preciso informar dados como graduação e enviar documentos comprovando a renda. Depois disso, os participantes passam por uma entrevista com a equipe do app e assinam um termo em que afirmam estarem procurando casamento, e não só um lance casual.

Continua após a publicidade

Outra medida inusitada é tentar evitar que as mulheres se mudem para grandes centros, onde os índices de fertilidade são ainda mais baixos por causa das carreiras que elas acabam ocupando. A partir de 2025, o Japão começará a dar suporte financeiro a mulheres solteiras que se mudem de áreas urbanas (como Tóquio e Osaka) para as áreas rurais para se casar. Dessa forma, a superlotação desses centros irá diminuir e o campo (que está repleto de idosos) será repovoado com gente jovem. 

As moças que toparem terão suas viagens pagas para irem ao interior participar de eventos destinados a formar casais. Se de fato acharem o homem de seus sonhos e se mudarem, ganharão mais dinheiro ainda — no total, cada uma pode receber até um milhão de ienes (R$ 37 mil).

E se nada disso der certo, o Japão já tem seu plano B: botar os velhos pra trampar. Dados recentes revelam que, dos 36,25 milhões de japoneses com mais de 65 anos, cerca de 9,14 milhões voltaram a trabalhar após se aposentarem. O motivo é que o dinheiro da aposentadoria (41 mil ienes em média, ou R$ 1.573) não é suficiente para se manterem. O grupo de aposentados ativos já corresponde a 13,5% da força de trabalho no país – ou seja, um em cada sete trabalhadores no Japão tem mais de 65 anos.

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
a partir de 9,90/mês*
ECONOMIZE ATÉ 63% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Você pediu, a gente ouviu. Receba a revista em casa a partir de 9,90.
a partir de R$ 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.