A saga de Eduardo Cunha (em memes)
Nada melhor do que os memes brasileiros para narrar uma trajetória política tão louca quanto a do ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Se tem uma coisa que o brasileiro sabe fazer bem é criar memes. Nas redes sociais, dá para seguir qualquer acontecimento político só pela zoeira típica do Brasil – e aí, não importa se a gente está se dando mal ou bem: o que vale é dar risada.
Com o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, não foi diferente: ~nas internetes~, o cara foi comparado a Frank Underwood, de House of Cards, e ao Gru, de Meu Malvado Favorito. Ele também levou uma chuva de dólares e até gerou, sem querer, toda uma cultura virtual de desenterrar tweets antigos e colocá-los fora de contexto, só pela zoeira.
Da posse da presidência da Câmara, em fevereiro do ano passado, até sua cassação, ontem (12), fizemos uma linha do tempo dos momentos mais importantes de Cunha – e os memes que os acompanharam:
Fevereiro de 2015: “Se não for pra causar eu nem vou”
Cunha é eleito Presidente da Câmara, ganha espaço na mídia e nos nossos corações (rs). Ele já começou causando e ressuscitando projetos que escreveu quando era um mero plebeu: queria aprovar o “Dia do Orgulho Hétero”, e criminalizar a heterofobia, propostas de 2010. A reação veio em memes:
Mas nem precisava de piada. O próprio Cunha saiu dizendo no seu Twitter – patrimônio virtual que, inclusive, envolve homenagens apaixonadas ao Flamengo, rivalidade com o Corinthians e bate papo sobre o futebol de domingo com pastores evangélicos – que aprovaria o Dia do Orgulho Hétero, “se Deus quiser”.
Maio de 2015: o Parlashopping
Não foram só as pautas conservadoras que chamaram a atenção para Cunha logo que assumiu a presidência da Câmara. O ex-deputado idealizou a construção de um anexo à Câmara dos Deputados. O orçamento inicial era bilionário e resultaria em um prédio de 10 andares com gabinetes de deputados além de um edifício de três pisos, cinco andares de garagem e espaço para lojas. Não deu outra, ganhou o apelido de Parlashopping.
Cunha chegou a incluir o Parlashopping em uma Medida Provisória para que a Câmara pudesse acertar uma parceria público-privada e tocar a obra. Ao longo do tempo, o projeto foi ficando menor, só um anexozinho de R$ 320 milhões. Mas o novo presidente da Casa, Rodrigo Maia, desistiu da ideia – porque fica feio gastar essa grana toda em plena crise.
Em julho, Cunha se tornou a nova esperança de quem torcia para que Dilma caísse. O ex-deputado anunciou que estava rompendo oficialmente o apoio ao PT e dando mais força à oposição ao partido da presidente. Só que, dado o histórico do PMDB, muita gente não pôs fé – e foi ao twitter comparar Eduardo ao superinteligente e discreto Dr. Evil, vilão da franquia de Austin Powers.
Setembro de 2015: Que família é essa?
~Dudu~ podia ter parado nos projetos de criminalizar a heterofobia e de criar o Dia do Orgulho Hétero. Mas não: no mesmo ano, ele desenterrou o PL 6.583, mais conhecido como Estatuto da Família, que havia sido proposto em 2013 por Anderson Ferreira (PR-PE), um cara da bancada evangélica (que também era relator do projeto da “cura gay”). O PL reduzia os direitos dos homossexuais de adotarem crianças e definia a família como a união de homem, mulher e filhos. A internet, claro, foi à loucura: rolou tuitaço com a tag #NossaFamíliaExiste – com Cunha no centro do furacão.
Outubro de 2015: #MulheresContraCunha
No dia 22, a Comissão de Constituição e Justiça aprovou o projeto de lei 5069, que Cunha apresentou em 2013. O PL dificultava o atendimento às vítimas de abuso sexual, vetava que ela recebesse orientações sobre o aborto legal e limitava o acesso à pílula do dia seguinte. Aí, as mulheres se articularam, protestaram na Primavera Feminista e surgiu a tag #MulheresContraCunha nas redes sociais – e, lógico, vários memes:
Novembro de 2015: a chuva de dólares
Na CPI da Petrobras, lá em março de 2015, Cunha negou a acusação de que ele teria contas ilegais na Suíça. Então, as autoridades suíças confirmaram as contas, que estavam no nome de Cunha e de sua esposa, Claudia Cruz. A grana era muita: quase US$ 5 milhões – e pelo menos parte disso, 1 milhãozinho, foi gasto por Claudinha em cartões de crédito internacionais em coisas super necessárias, tipo umas aulas de tênis na Flórida. E foi aí que, em uma coletiva de imprensa, Cunha levou uma chuva de dólares na fuça – e a internet não deixou barato (rs):
Dezembro de 2015: O impítima
Já fazia uns meses que a ameaça de deposição de Dilma rondava o Planalto. Mas aí, em dezembro, Cunha aprovou o pedido de impeachment – e o processo que terminaria com o impedimento começou para valer. Nessa altura do campeonato, a coisa virou House of Cards versão dublada:
Ainda em dezembro: chega a ~puliça~
No dia 15, pouco depois dos memes da House of Cunha, o Brasil amanheceu com uma notícia bem louca: a Polícia Federal estava na porta da casa de Frank Underw… quer dizer, de Eduardo Cunha. A PF estava ali por ordem do STF, como parte da Operação Lava Jato, para procurar provas de corrupção e lavagem de dinheiro. Como dias antes Dudu tinha se colocado contra Dilma, as redes sociais piraram:
Abril de 2016: Meu malvado favorito
Mesmo para quem apoiava as iniciativas pró-impeachment de Cunha, ficava difícil defendê-lo contra as acusações de corrupção. Daí, o senhor se tornou aquele vilão útil, que servia a um propósito. Foi seu aliado Marco Feliciano que resumiu o novo status de cunha em uma entrevista à BBC Brasil, no dia 13: “O Cunha, todo mundo chama de malvado, né? Se ele é malvado, para mim é meu malvado favorito. Porque ele colocou o impeachment para andar”. Daí não faltou montagem que colocasse Cunha no lugar de Gru, o vilão de Meu Malvado Favorito (o famoso filme dos minions).
Ainda em abril: pela família, por Deus e pelo Gângster
O dia em que a Câmara votou a favor de dar seguimento ao impeachment de Dilma foi um dos mais inesquecíveis da política brasileira recente – menos pela votação em si e mais pelas bizarrices que dela saíram. Em 17 de abril, foram apelos sem fim a Deus, à família, aos filhos, ao primo de terceiro grau do sobrinho-neto da bisavó na hora de justificar os votos. Dos dois lados, os discursos eram inflamados e, quando o deputado Glauber Braga (PSOL) foi fazer o seu, chamou Dudu Cunha de gângster e disse “o que dá sustentação à sua cadeira cheira a enxofre”.
Também em abril (não acaba nunca): o dono da bola
Lembra quando você ia brincar na rua (ou na quadra, dependendo da época) e a criança que era dona da bola não gostava de alguma coisa e levava o brinquedo embora? O Cunha fez algo parecido com sessão da Câmara que ia votar a criação de uma nova Comissão da Mulher, no dia 28. A medida foi polêmica porque já existiam outras comissões que tratam os temas específicos das mulheres. Daí o risco do novo grupo diluir a autoridade dos demais e de cair nas mãos de grupos religiosos e conservadores, por exemplo.
A maioria dos deputados votou para adiar a criação da comissão, mas o Cunha não gostou. Pegou a bola de volta. Mandou voltar tudo e, no intervalo entre as votações, teria dito aos colegas que, se não aprovassem a medida, muito deputado ia ficar sem cargo. Na segunda votação, ele ganhou. Mas a internet não esqueceu:
O pessoal do Twitter aproveitou para ressuscitar (como em outras ocasiões) esse post de 2012 de Dudu, que estava novamente falando do seu time do coração, o Flamengo. Se ele superou o roubo contra o Mengão não sabemos, mas não aguentou a zoeira e apagou esse tweet antigo antes que ele voltasse para assombrá-lo mais uma vez.
Maio de 2016: Afastado
Até aqui, mesmo com as denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro, Cunha ainda estava com tudo. Só que em maio veio a resposta: o Supremo Tribunal Federal afastou o deputado de seu mandato e da presidência da Câmara. Isso porque o STF entendeu que Dudu estava obstruindo as investigações da PF contra ele – e essa obstrução estaria rolando a la Frank Underwood: Cunha estaria intimidando adversários e testemunhas. No Twitter, a galera não perdoou e reviveu mais um tweet antigo de Dudu, dizendo “fiquem na paz de cristo, FUUIIII” como quem se despede. E os tweets autorais também rolaram soltos:
Maio de 2016: Os olhos de Claudia
Com tudo isso acontecendo na vida de Dudu, a internet também caiu em cima da expressão sempre estranha da Claudia Cruz, esposa de Cunha, nas fotos. Enquanto algumas pessoas diziam que os olhos arregalados eram um pedido secreto de socorro, outras só caíram na zoeira:
Junho de 2016: Cadê Claudia?
Claudinha continua no centro da zoeira quando, em junho, deixou de ser intimada na Lava Jato não uma, mas duas vezes. Moro, o juiz responsável pelo processo, disse que “não sabia o CEP” dela – e o Brasil precisou zoar:
Julho de 2016: Tchau, querido
Logo depois do afastamento imposto pelo STF, Cunha largou mão e desistiu da brincadeira: com lágrimas nos olhos e um discurso do tipo “só eu posso salvar essa Câmara”, anunciou sua renúncia à Presidência da Câmara – mas não do mandato de deputado, que ele manteve até ontem (12).
Setembro de 2016: Cunha sai, zoeira fica
No dia 12, Dudu foi cassado pra valer, com 450 votos a favor, dez contra e nove abstenções. Na prática, isso significa que o ex-deputado perde o chamado foro privilegiado do cargo – ou seja: agora, as acusações contra ele agora serão julgadas não pelo STF, mas pelo primeiro “degrau” da Justiça. Também significa o que? Previsão de chuva intensa de memes (e mais tweets fora de contexto):
Outubro de 2016: Cunha no xadrez
No dia 19, o juiz Sérgio Moro determinou a prisão preventiva e Eduardo (ou seja, por tempo indeterminado), por causa das contas na Suíça que a gente explicou ali em cima. Agora, parece que é o fim da linha – mas não da zoeira – para o ex-presidente da Câmara.
Sobre o Eduardo Cunha pegando prisão preventiva: pic.twitter.com/rbAUIqQWW6
— Dani (@moongirxl) 19 de outubro de 2016