A relação entre frigoríficos e surtos de Covid-19 no Brasil
Condições de trabalho no setor podem estar ligadas a picos de infecção pelo País.
Nesta quinta-feira (13), a China disse que detectou a presença de Sars-CoV-2, o novo coronavírus, em um carregamento de frango importado do Brasil.
Quem divulgou o acontecimento foi a prefeitura de Shenzhen, cidade próxima de Hong Kong, durante inspeções de rotina. Segundo o comunicado oficial, os frangos pertecem ao frigorífico Aurora, localizado em Santa Catarina. Até o momento, a Associação Catarinense de Avicultura (Acav) disse que o produto é seguro, e as autoridades chinesas de alfândega ainda não se pronunciaram.
O Brasil, vale dizer, é líder mundial em exportações de carne de frango. Mas o caso de contaminação na China mostra que as condições de trabalho no setor podem ser propícias para infecções: o país tem 6 frigoríficos com exportações suspensas para o mercado chinês por conta de preocupações com a Covid-19.
Outro exemplo é a cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, que tem uma população quatro vezes menor que a capital Campo Grande. Isso não impediu, porém, que a cidade virasse um epicentro da pandemia, concentrando 30% dos casos do Estado. No início de julho, 1.075 dos quase 3 mil infectados tinham algo em comum: eram funcionários da fábrica da JBS que opera na região.
Outro lugar onde a forte presença de frigoríficos acompanha o número de casos é o Rio Grande do Sul. Por lá, segundo o Ministério Público do Trabalho, um em cada quatro infectados trabalha no setor. Até o começo do mês, frigoríficos e laticínios tinham sido palco para 21 surtos de Covid-19, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado.
Ambientes fechados e sem ventilação natural costumam ser os locais perfeitos para o vírus se espalhar. Há também o fato de frigoríficos serem constantemente refrigerados, o que pode provocar ressecamento das vias aéreas e facilitar infecções.
Ainda que sigam à risca normas de segurança e higiene, e isolem contaminados, fábricas do tipo costumam contar com grandes contingentes de funcionários trabalhando lado a lado nas linhas de produção – o que facilita o espalhamento, mesmo a partir de pacientes assintomáticos.