8 expectativas que falharam em 2016
O ano que não acaba nos decepcionou várias vezes - mas nem todas as surpresas foram ruins.
A primeira presidente mulher dos Estados Unidos
A candidatura de Donald Trump à candidatura fez muito barulho quando foi lançada, mas não foi levada exatamente a sério. Democratas como Paul Begara, conselheiro do ex-presidente Bill Clinton, chegaram a torcer por eles nas primárias: “A entrada de Donald nessa corrida [presidencial] só pode ser atribuída ao fato de Deus ser um democrata com senso de humor”, Begara falou ao Washington Post.
Depois das primárias, as pesquisas mostravam consistentemente a liderança de Hillary Clinton em direção à Casa Branca. Até os analistas estatísticos que levavam em conta todas as pesquisas nacionais para fazer suas previsões colocaram cada vez mais fichas na ideia de que Clinton seria a primeira presidente mulher dos EUA.
Todo mundo errou feio e Trump levou o Colegiado Eleitoral. A culpa já foi jogada para o espaço excessivo que as bobagens de Trump ganharam na mídia, o “filtro bolha” do Facebook, as notícias falsas veiculadas sobre os candidatos e até as previsões dos Simpsons.
Mas a derrota de Hillary não foi o único erro de previsão da política deste ano. O Brexit também mostrou que a população mais conservadora, mais velha e mais distante dos grandes centros foi de alguma forma subrepresentada nas pesquisas – e foi a grande responsável por eleger Trump nos EUA e aprovar a saída da União Europeia no Reino Unido.
Filmes da DC dignos de competir com a Marvel
Em janeiro, a DC usou meia hora em rede nacional americana para anunciar sua nova onda de lançamentos. A ideia era apresentar um projeto cinematográfico massivo, capaz de alcançar o Universo Marvel – e puxado por Batman vs Superman e Esquadrão Suicida.
O problema é que nem a dupla de grandes heróis nem a reunião de vilões foram capazes de alcançar as expectativas do público, mesmo com elencos de elite e toda a antecipação fomentada pelos trailers. A DC, nos cinemas, seguiu sem alcançar o nível da Marvel, que conseguiu bem mais impacto com Capitão América: Guerra Civil e, de quebra, abriu espaço para renovação apresentando um novo Homem-Aranha.
Em setembro, o próprio CEO da Time Warner, empresa por trás dos filmes da DC, admitiu que as tentativas cinematográficas ficaram aquém do esperado, e prometeu um tom mais leve e animado do que o dos últimos lançamentos. A promessa fica para o ano que vem, nas costas de Mulher-Maravilha e Liga da Justiça.
Um iPhone 7 revolucionário
Todo ano, a Apple enfrenta altas expectativas para o lançamento anual do iPhone. Em 2016 não foi diferente – esperamos uma melhora da eficiência da bateria, rapidez de software, gráficos e câmeras incríveis e um design inovador.
Não foi assim que o público recebeu o iPhone 7, que além de manter um design quase idêntico ao da série anterior, ainda teve a conexão para fone de ouvido removida. A medida não foi popular, apesar de economizar espaço interno para que a Apple pudesse melhorar a velocidade e performance do aparelho – estas, sim receberam elogios, mas não vieram acompanhadas de uma autonomia razoável de bateria.
Para completar o consumo ineficiente de energia e o alto preço (associado, agora, à necessidade de comprar um fone de ouvido sem fio), a Apple decidiu não anunciar os números de vendas do lançamento do iPhone 7, como fazia todos os anos. Nada indica, porém, que o aparelho foi um fracasso de vendas – ele é só um tédio comparado ao padrão Apple de inovação. Falava-se de um iPhone à prova d’água e sem o botão Home físico – o que ainda pode acontecer com o iPhone 8 – mas, entre vantagens e desvantagens, a geração 7 ficou com a classificação de “meh”.
Brasil no cinema internacional
O ano começou bem para o cinema brasileiro. Wagner Moura estava concorrendo ao Globo de Ouro por sua performance como Pablo Escobar em Narcos. Um ator brasileiro em um prêmio deste tamanho não era nada inédito, mas a última tinha sido Fernanda Montenegro, em 1999, com Central do Brasil (e Cidade de Deus, em 2002, que concorreu a Melhor Filme). Voltamos a chegar perto e voltar de mãos vazias em 2016 – Jon Hamm ganhou o prêmio como o publicitário Don Draper em Mad Men. Hamm levou o Globo de Ouro pela primeira temporada da série e, em 2016, foi premiado pela última etapa do drama, que terminou de ser exibido em 2015.
Falando em indicados a Globo de Ouro, Sonia Braga (que participou das edições de 1986 e 1989) também ajudou a aumentar nossas esperanças de um filme brasileiro indicado ao Oscar. Ela protagonizou Aquarius, longa que ficou famoso antes mesmo de estrear no Brasil, com um protesto de elenco e equipe no Festival de Cannes, contra o impeachment de Dilma Rousseff.
Com vários prêmios internacionais e uma indicação ao Spirit Awards (o Oscar para filmes que custaram menos de US$ 20 milhões), Aquarius parecia uma bela pré-indicação do governo brasileiro para o maior prêmio de Hollywood. Mas o Ministério da Cultura decidiu por um caminho menos polêmico, que teria como objetivo agradar os “velhinhos conservadores” da Academia e “seguir a cartilha”, indicando ao Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira Pequeno Segredo, de David Schurmann – escolha que deu ao mundo inteiro a impressão de retaliação aos protestos de Cannes.
Pokémon Go mudando o mundo
O fenômeno do jogo de geolocalização e realidade virtual foi um dos assuntos mais comentados (na SUPER, nas Olimpíadas e nas redes sociais) por mais de um mês antes de ser lançado no Brasil. Os servidores da Niantic não davam conta do número de jogadores. As pessoas se acidentavam e iam até lugares perigosos só para brincar. E aí, cansaram.
Foi tanta antecipação que o jogo foi fogo de palha – um incêndio de palha até, mas que não conseguiu se estabelecer no dia a dia da maior parte das pessoas. Muita gente interagiu, ocupou mais a cidade, mas nem mudou tanto assim de hábitos quanto imaginávamos. A empolgação de início não justificou a expectativa de que o jogo abriria portas para uma nova era de Realidade Virtual (o que ainda pode acontecer, mas deve ter outros porta-bandeiras que não os Zubats).
Equilíbrio na política brasileira
2015 viu a política brasileira ser discutida intensa (e agressivamente) por Facebook, com uma polarização impressionante. No fim do ano, dissemos por aqui que Dilma, uma das “vilãs do ano”, tinha adiado o início do seu segundo mandato para 2016. E foi neste ano que ele terminou, com o impeachment e a ascensão de Michel Temer à presidência da República. Mas, pelo menos as coisas se estabilizaram, certo? Não foi bem assim.
A Lava-Jato continuou com força total, mandando políticos irem parar ruidosamente na cadeia (e no hospital). Com outras denúncias nas costas, nem Cunha conseguiu se segurar no terremoto. O ano termina com o Judiciário e o Legislativo “de mal”, um querendo agir à revelia do outro, com a aprovação de um Plano de Gastos de 20 anos que preocupa muita gente e com um Pacote de Medidas Anticorrupção que faria o Frankenstein se sentir o cúmulo da coesão e coerência.
Belezas astronômicas
Este ano foi agraciado com uma série de Superluas, uma atrás da outra – incluindo a maior Superlua dos últimos 74 anos. Todo mundo preparou os olhos e as câmeras, mirou no céu e… Nada. Na maior parte do Brasil, o céu nublado e o mau tempo atrapalharam o show. E daí foi efeito dominó: a lua brilhante em excesso (que quase ninguém viu) conseguiu ofuscar duas chuvas de meteoros neste fim de ano. Para piorar, só vamos voltar a ver a lua aparecer maior e mais acesa que o normal em dezembro de 2017. Apaga, 2016!
Olimpíadas desastrosas
Ninguém tinha muitas expectativas para as Olimpíadas. No início do ano, a onda que derrubou a ciclovia suspensa no Rio foi o símbolo dos problemas de infraestrutura e planejamento do grande evento. Tivemos vazamentos nos alojamentos, obras atrasadas e uniformes horríveis. Todo mundo esperou o pior… E acabou se surpreendendo. Não deu para esquecer a grana que foi gasta no evento, mas a Olímpiada conseguiu deixar ótimas lembranças em um ano que não foi lá tudo isso. Foi um momento de tolerância política, cultural e religiosa, afirmação de minorias, festa à brasileira e até um título inédito no futebol para colocar panos quentes nas feridas incuráveis do 7×1. Os Jogos Olímpicos mostram que nem toda expectativa frustrada precisa ser ruim.