4 casas (e 1 arranha céu) construídos só para acabar com a vida dos vizinhos
Todo o dinheiro é pouco quando você está disposto a tapar o sol do vizinho, se vingar da sogra ou simplesmente impedir a prefeitura de abrir uma rua no seu terreno.
Ao longo da história, vários barraqueiros inatos, criadores de caso de corpo e alma, levantaram construções com o único objetivo de cutucar seus vizinhos. As chamadas spite houses (em inglês, ao pé da letra, “casas da maldade”) geralmente nascem de intrigas familiares, problemas com a prefeitura e até posições políticas contra o mercado imobiliário. Quase todas se tornaram pontos turísticos depois que a mágoa foi esquecida. Conheça os exemplos, histórias e lendas mais famosos.
A Skinny House
A casa magrela no norte de Boston, nos EUA, tem meros três metros de largura, e é acessada por uma porta lateral, que dá para um beco estreito. Reza a lenda – os fatos se perderam no tempo – que ela foi a vingança de um militar contra seu irmão após a Guerra Civil Americana, no século 19. Durante o conflito, o pai da família morreu, legando aos dois filhos um terreno em Hull Street. O filho que não foi convocado para combater decidiu se aproveitar da ausência do irmão e erguer um edifício que ocupasse quase toda a área. Puro egoísmo, só para não ter que dividir.
A vingança não tardou. Na volta, o soldado traído percebeu uma brecha de quatro metros entre a casa de seu irmão e o vizinho – e decidiu construir ali um minúsculo sobrado, que bloqueia toda a luz natural. Pelo menos até 2005, a casa foi habitada por um casal de arquitetos aventureiros. “Uma vez, nós fizemos uma festa para dez pessoas no ano novo. Quando alguém precisava ir ao banheiro, todo mundo tinha que sair do lugar”, contou ao Boston Globe Jennifer Simonic. A SUPER não sabe se alguém ainda vive na magrela, cuja construção terminou por volta de 1874.
Dr. Tyler 1 x 0 prefeitura
Em 1814, na pequena cidade de Frederick, nos EUA, o oftalmologista John Tyler – autor de uma das primeira cirurgias de catarata da história – descobriu que um de seus terrenos seria transformado em rua pela prefeitura. Segundo o Los Angeles Times, ele varreu a legislação local em busca de uma brecha que impedisse o poder público de confiscar o terreno. Um dia antes da desapropriação, encontrou o que queria: se houvesse no local uma construção substancial, pronta ou andamento, a prefeitura não poderia construir a via.
O resto é história. Tyler correu atrás de um empreiteiro e pagou uma quantia considerável para que ele começasse a casa na mesma noite. Quando os funcionários chegaram, no dia seguinte, encontraram as paredes incipientes, e não puderam fazer nada. A casa, desde então já passou por muitas reformas e pelas mãos de muitas famílias: na década de 1990, chegou a abrigar um hostel, mas em 2012 estava disponível para aluguel.
A casa de Alameda
Na pequena cidade de Alameda, na Califórnia, outro proprietário revoltado não deu a mesma sorte de Tyler, no item 2 – e acabou agindo ao melhor estilo do militar anônimo de Boston, no item 1. Charles Froling pretendia construir a casa de seus sonhos em um terreno herdado da família – até que a prefeitura decidiu abrir uma rua por ali. A legislação local não permitia golpes baixos: ele foi desapropriado e tudo que lhe restou foi uma área de 16 m x 3 m ao largo da calçada. Para se vingar, ergueu uma casa magrela ali – que é habitada até hoje, e, em um golpe de ironia do destino, adorada pela vizinhança.
A casa fatia de torta
A revolta dos construtores acima é compreensível. Mas às vezes o seu vizinho é simplesmente pistola demais para o próprio bem – e se ofende tão fácil que no dia seguinte você, sem saber o que aconteceu, acorda, abre a janela e se vê diante de uma casa nova.
Foi o que aconteceu em Seattle em 1925. Ninguém sabe o real motivo da altercação entre vizinhos – a lenda favorita afirma que o proprietário da casa verde ofereceu um valor ínfimo para o comprar o terreno ao lado, e seu dono, ofendido, decidiu mostrar que aquele pedaço de terra tinha muito mais potencial do que parecia. A casa resultante da briga (sim, aquela entrada amarela) é triangular: tem 4,5 metros no ponto mais largo e meros 1,3 m no mais estreito. São 77 metros quadrados em dois andares, um deles subterrâneo – o que não é tão pouco assim, considerando a aparência da entrada.
O mais legal é que ela foi posta a venda em 2016 por mais de US$ 500 mil. Além de ser patrimônio da cidade, ela está muito bem decorada – você pode ver o interior de dar inveja aqui.
O edifício Kavanagh
A maior parte das casas vingativas foi construída nos EUA, mas um dos poucos prédios da arquitetura que se come fria fica em Buenos Aires. O edifício Kavanagh, inaugurado em 1936, foi por muitos anos o mais alto da América Latina – e dos grandes símbolos do estilo art déco, embora já tenha uma pontinha de modernismo. Seus 105 luxuosos apartamentos residenciais, erguidos em 14 meses, são atendidos por 12 elevadores Otis, uma extravagância para a época da construção.
Corina Kavanagh, descendente de irlandeses e milionária, vendeu duas estâncias para tocar o projeto. Reza a lenda que ela, apesar da carteira vultuosa, não pôde casar com o homem que amava, herdeiro de uma longa linhagem de aristocratas, os Anchorena. Para se vingar, mandou fazer o prédio de forma a ocultar a fachada da Igreja do Santísimo Sacramento, construída com financiamento da família de seu Romeu. De fato, uma olhada rápida no Google Street View revela a imensa parede cinza ofuscando o templo católico.