Revista em casa por apenas R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Vocabulário repetitivo pode ser sinal precoce de Alzheimer

Divagar e formar frases desconexas também podem ser indício da doença. Agora, cientistas querem diagnosticá-la antes dos primeiros sintomas.

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 23 fev 2017, 17h47 - Publicado em 23 fev 2017, 17h46
  • Seguir materia Seguindo materia
  •  (Reprodução/)

    “Eu fui até a loja buscar as coisas, e quando cheguei lá, fiquei procurando a farinha, o açúcar e os ovos. Mas eles não tinham todos os ingredientes que eu precisava, então eu desisti. Decidi voltar para casa… Então, hum, voltei sem nada, até encontrar a fulana no elevador… Aquela lá que tem um gato, que sempre é muito simpática. Mas, bom… Não consegui, na verdade, fazer o bolo”.

    A frase acima poderia ter saído diretamente da boca de um paciente com Alzheimer – anos antes dos primeiros sintomas cognitivos começarem a aparecer. Vocabulário repetitivo, histórias morosas e dificuldade de ir direto ao ponto seriam os principais reflexos precoces da doença na linguagem, de acordo com uma nova pesquisa realizada no Hospital Geral de Massachussets, nos EUA.

    A pesquisadora Janet Cohen Sherman reuniu 46 pessoas saudáveis – 22 jovens e 24 idosos – e mais 22 pacientes com transtorno cognitivo leve (TCL), um quadro precursor do Alzheimer. Eles passaram por diversos testes para que os pesquisadores avaliassem as mudanças na linguagem – e entendessem quais são naturais da idade e quais são características dos primeiros estágios de demência.

    Os experimentos pediam que os participantes formassem frases com três palavras chaves simples, como caneta, papel e tinta, ou água, panela e fogão. Os participantes mais jovens formavam frases simples e diretas: “Molhei a caneta na tinta e escrevi no papel” e “Fervi água na panela sobre o fogão”. Os voluntários mais velhos e saudáveis também tendiam a ser concisos. Já os idosos com TCL acabavam contando histórias compridas e vagas como a do primeiro parágrafo deste texto. Quanto mais se alongavam, mais se perdiam para formar a conexão entre os três objetos.

    Continua após a publicidade

    Casos famosos

    Os resultados da pesquisa são os primeiros a testar científicamente a hipótese de que o Alzheimer se manifesta muito cedo na linguagem. Muitos relatos famosos apoiam essa hipótese.

    A professora Sherman cita, no seu trabalho, o caso das escritoras Iris Murdoch e Agatha Christie. A primeira era famosa por usar palavras raras e obscuras em seus livros. Na sua última obra, Jackson’s Dilemma (O Dilema de Jackson, sem tradução em português), seu estilo característico foi se perdendo e a repetição de palavras, aumentando. A obra foi publicada um ano antes de a autora ser diagnosticada com Alzheimer. A diferença era tanta que um grupo de pesquisadores fez a análise das obras palavra a palavra, usando inteligência artificial, para mostrar o declínio cognitivo de Murdoch.

    Continua após a publicidade

    Com Agatha Christie, o diagnóstico nunca foi confirmado, mas a linguagem vaga e confusa que ela usa em seus últimos livros também levanta a suspeita de que, no fim da vida, a mestre dos mistérios sofreu com alguma forma de demência.

    O declínio da linguagem não pega só escritores: outro grupo estudou também os discursos do presidente americano Ronald Reagan. Ao longo dos seus anos de presidência, ele deixou de usar palavras incomuns e suas falas foram se enchendo de expressões como “coisa” e termos de preenchimento: “então”, “na verdade”, “basicamente”, indícios de que ele precisava ganhar tempo para lembrar da palavra correta e, eventualmente, tinha que substituir palavras precisas por substitutos genéricos.

    O que os pesquisadores querem fazer com essa informação, porém, é trazer mais esperança para os pacientes com Alzheimer. Ela pretende desenvolver uma metodologia de testes de linguagem capazes de detectar esses pequenos sinais em pessoas ainda saudáveis, para que a doença comece a ser tratada antes que as perdas de memória – e os prejuízos poéticos – fiquem muito graves.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Oferta dia dos Pais

    Receba a Revista impressa em casa todo mês pelo mesmo valor da assinatura digital. E ainda tenha acesso digital completo aos sites e apps de todas as marcas Abril.

    OFERTA
    DIA DOS PAIS

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 9,90/mês

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 9,90/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.