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Vacina da Pfizer é eficaz contra Covid-19 – mas ainda deixa questões em aberto

Em testes preliminares, ela livrou pacientes do coronavírus em 90% dos casos. Entenda as perguntas que a vacina ainda precisa responder antes de ser liberada para uso.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 11 nov 2020, 15h19 - Publicado em 10 nov 2020, 19h31

Pelo mundo, existem 11 projetos de vacina contra o novo coronavírus que estão na fase 3 – a dos testes clínicos de larga escala. A empresa americana Pfizer, que está desenvolvendo uma dessas vacinas, divulgou resultados preliminares na última segunda-feira (9), indicando que seu produto (criado em parceria com a alemã BioNTech) é 90% eficaz em impedir que pessoas contraiam a Covid-19.

Os resultados são animadores: é a primeira vez que uma candidata a vacina é bem sucedida ao imunizar um grupo grande de pessoas – já que os dados de fase 3 das outras vacinas ainda não foram divulgados. Ao todo, 43.538 voluntários tomaram as duas doses da vacina da Pfizer, intercaladas num intervalo de três semanas. Como manda o figurino, metade deles recebeu o imunizante e o restante serviu como grupo de controle (placebo), para que cientistas comparassem os resultados. Nenhum dos participantes sabe em qual dos grupos está.

Entre os 44 mil participantes do experimento, 94 foram diagnosticados com Covid-19. Apesar de não dizer quantos deles pertenciam ao grupo controle e quantos foram vacinados, o estudo afirma que a distribuição de casos positivos indica que 90% dos vacinados estavam imunes à doença. Esse percentual de imunização foi encontrado sete dias após os voluntários tomarem a segunda dose.

De acordo com a FDA – a Anvisa americana –, uma vacina contra o coronavírus que livre pelo menos 50% das pessoas imunizadas já estaria apta a ser distribuída no país. Os resultados divulgados pela Pfizer, que superam essa margem, podem ser suficientes para que a vacina consiga uma autorização para uso de emergência até o fim de novembro.

Os dados do experimento ainda são preliminares – ou seja, não foram publicados em uma revista científica. Esse é um passo importante, já que, para virar literatura médica, é preciso que o experimento com a vacina cumpra critérios rigorosos. E tenha sua metodologia e eficácia reconhecidas por um grupo de cientistas independentes, que não participaram do estudo.

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A falta de mais detalhes técnicos faz com que questões sobre o protótipo de vacina permaneçam em aberto. Não está claro, por exemplo, se a eficácia pode variar para diferentes grupos de participantes. Quer dizer, se o número de idosos ou crianças imunizados para Covid-19 seria o mesmo que o de adultos. Na fase 1, a vacina da Pfizer obteve respostas imunológicas mais baixas em pessoas mais velhas.

Informações do tipo poderiam ajudar a definir quem tem prioridade de imunização. No caso de uma vacina que não protege toda a população de forma igual, vale a pena priorizar pessoas do grupo de risco ou vacinar quem tem mais chances de espalhar a doença – como profissionais que trabalham em casas de repouso ou frigoríficos, por exemplo?

Outra dúvida, especialmente importante no contexto de pandemia: se um paciente que recebeu a vacina entrar em contato com uma carga alta de vírus, que poderia fazê-lo ficar bem doente, ele ainda assim estaria imunizado? Ou a imunidade só serve para prevenir sintomas moderados/leves?

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“Quero entender o espectro da doença que a vacina previne”, diz Paul Offit, pesquisador da Universidade da Pensilvânia que faz parte de um comitê da FDA que vai avaliar a eficácia da vacina, em entrevista à Nature. “Seria interessante se, entre pessoas do grupo placebo [que não receberam a vacina] existissem casos graves de Covid-19″. Um resultado desse tipo poderia sugerir que a vacina impede versões graves da doença – ainda que não garanta imunidade completa em todos os casos.

À agência Reuters, o presidente da BioNTech, Ugur Sahin, disse estar otimista de que o efeito da vacina dure pelo menos um ano. Não se sabe ao certo, no entanto, em quanto tempo ela precisaria ser renovada, já que os testes começaram há apenas 3 meses. E se o percentual de 90% de pessoas imunizadas se manterá alto depois de um período.

A logística de produção também se mostra um desafio. Não bastasse a missão de vacinar ao menos metade de uma população de 7 bilhões de pessoas, há também o fato de a vacina ser administrada em duas doses – vários dos principais candidatos à vacina funcionam por dose única. Isso acaba dobrando a quantidade demandada e o tempo necessário de imunização. Condições técnicas, como transporte e armazenamento, podem fazer com que a vacina da Pfizer demore a chegar em certas partes do planeta.

Após 10 meses, a pandemia de Covid-19 já infectou 51 milhões de pessoas, e fez mais de 1,2 milhão de vítimas. No Brasil, foram quase 5,7 milhões de casos, e 162 mil mortes.

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