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Tadalafila: os riscos do remédio para ereção que virou até pré-treino de academia

A tadala não ajuda a criar músculo, e seu uso entre jovens sem disfunção erétil pode causar dependência psicológica. Entenda.

Por Eduardo Lima
22 mar 2025, 14h00

O Cialis é a droga da vez. Talvez você a conheça por outro nome: tadalafila. Está nas farmácias, em letra de música e nas contas de Instagram de uma penca de influenciadores.

De acordo com a associação PróGenéricos, a “tadala” (como é apelidada nas redes sociais) foi o 5º medicamento mais vendido do Brasil em 2024. São mais de 61 milhões de unidades comercializadas do remédio usado para tratar disfunção erétil.

A versão genérica do Cialis sai bem barata: numa pesquisa rápida no Google dá para encontrar farmácias online vendendo uma caixa com 4 comprimidos por menos de R$ 15.

O medicamento é muito semelhante à sildenafila, nome genérico do famoso Viagra. O Dr. Luiz Otávio Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, explicou para a Super que ambos os medicamentos são inibidores da fosfodieterase-5 (PDE5), uma enzima que, por sua vez, inibe a ereção. A tadalafila pode ser usada diariamente ou só no dia da relação sexual.

A tadalafila também pode melhorar a micção (capacidade de urinar), apesar de não ter efeito na próstata. Também pode se receitada, em doses maiores, para casos raros de hipertensão pulmonar. Mas não é só para essas indicações médicas que o remédio está sendo usado.

Apesar de precisar de uma receita para ser adquirida, a tadala parece estar onipresente. Não há indicação para uso recreativo nem para pré-treino de academia, mas a substância tem sido usada para esses fins – especialmente por jovens.

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Tem até quem venda bala de ursinho com tadalafila. O youtuber Jon Vlogs anunciou a Metbala, empresa que comercializa o medicamento em forma de gummy depois de um questionário que, de acordo com o site do produto, será analisado por um médico. O médico, por sua vez,  vai recomendar o “tratamento mais adequado” para cada caso. A propaganda para o medicamento controlado na versão bala de goma, feita com várias mulheres desacordadas, foi bem criticada nas redes sociais.

Risco físico

Há várias alegações falsas de que o medicamento pode ajudar homens e mulheres a ganhar músculos mais rápido. A ideia é que a tadalafila relaxa o endotélio, camada que reveste a parede interna das artérias, e por consequência ajudaria a levar mais sangue para os músculos, o que poderia ajudar no crescimento deles.

Não existe nenhuma comprovação científica que tadalafila ajude na função muscular. Torres explica que o único estudo sobre o assunto foi pequeno, só com 43 homens, durante um período curto de tempo, e sem nem ter grupo de controle para comparar os resultados.

“Todas as diretrizes mundiais contraindicam o uso de tadalafila para função muscular ou para aumento de performance física”, afirma Torres.

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Para além dos marombas, o tadala é comum entre jovens que desejam melhorar o desempenho sexual. A substância, porém, é indicada para casos sérios de disfunção erétil, cuja origem seja tanto orgânica (um problema no pênis, por exemplo) quanto psicológica. Não haverá problemas de saúde caso alguém decida “tomá-lo à toa”, nas palavras de Torres. Mas fica a ressalva de que o remédio não é indicado para uso recreativo

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“A única contraindicação, tanto do Viagra quanto do Cialis [tadalafila], é o uso concomitante com medicamentos à base de nitratos”, que pode levar a uma diminuição da pressão arterial. É preciso tomar cuidado com remédios como monocordil, isordil e sustrate, normalmente usados para tratar insuficiência cardíaca e outras questões médicas relacionadas ao coração.

Como qualquer remédio, a tadalafila pode ter efeitos colaterais. O medicamento pode entupir o nariz, deixar o rosto vermelho e causar dor de cabeça e dor muscular. Esses efeitos são, em geral, passageiros e não muito graves, mas quem os sentir não deve tomar a medicação.

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Risco psicológico

Se esse remédio não faz tanto mal, então não há problema em tomá-lo de forma indiscriminada, certo? Errado. “O que pode acontecer quando você usa [a tadalafila] para performance é causar uma dependência psicológica”, explica Torres, “do tipo ‘eu só vou conseguir transar se tomar o remédio'”.

Ana Beatriz Chamati, psicóloga especialista em infância e adolescência, afirma que o uso excessivo do remédio em casos sem necessidade médica pode “camuflar um processo de aprendizagem sobre o envolvimento na relação sexual”.

Em muitos casos, quem está usando esse remédio de forma indiscriminada são jovens com ansiedade em relação ao desempenho sexual. O uso da tadalafila nesses casos sem necessidade orgânica pode atrapalhar o desenvolvimento natural da sexualidade nas primeiras relações, transformando uma insegurança pessoal em uma questão medicamentosa.

O medo profundo de que, se não usar a tadalafila ou outra medicação, tudo vai dar errado, é por si só um “estado emocional desfavorável à ereção”, segundo Chamati. Se o medicamento está sendo usado para resolver uma situação de ansiedade, a pessoa vai acreditar “que só consegue se envolver sexualmente com o medicamento […] e então pode ocorrer a dependência do medicamento como efeito colateral”.

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“Isso se intensifica quando não há vinculo amoroso nem um parceiro sexual fixo para desenvolver essa aprendizagem com segurança”, explica Chamati. “A construção de uma relação amorosa pode ser um ambiente para estabelecer confiança, trazendo mais leveza caso a ereção não ocorra, mesmo porque a ereção é uma parte da relação sexual, e não a relação sexual em si.”

Para superar uma insegurança como essa, a solução não é gummy de tadala. “Só caminhamos para a aprendizagem quando nos colocamos vulneráveis nas relações e somos expostos às situações de frustração e angústia, o que é normal no desenvolvimento humano”, afirma Chamati. Numa sociedade que evita a todo custo as falhas, o desconforto emocional e a vulnerabilidade, quem sai perdendo é a vida sexual saudável.

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