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“Síndrome de Havana”: novo estudo não encontra danos cerebrais nos afetados

O que causou essa misteriosa doença entre diplomatas e oficiais americanos? Dois novos artigos reforçam a ideia de que ela é psicológica, e não resultado de um ataque.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 9 abr 2024, 16h08 - Publicado em 7 abr 2024, 14h00

Em 2016, diversos diplomatas e funcionários das embaixadas americana e canadense em Cuba começaram a relatar uma série de sintomas incomuns: dores de cabeça, tonturas, náuseas e perda de memória, por exemplo. Em vários casos, os pacientes diziam que o problema começou após ouvirem sons esquisitos e zumbidos no ouvido.

Desde então, casos similares passaram a ser relatados por centenas de funcionários de órgãos americanos nos últimos anos – a maioria em Cuba, mas também na China, Rússia e até em Washington, a capital dos EUA.

Cientistas deram o nome para essa misteriosa doença de “síndrome de Havana”, em referência ao local onde foi primeiramente descrita. Desde então, tenta-se entender o que ela é – e qual sua causa. Mas não há consenso.

Uma hipótese é que a síndrome, na verdade, seja psicossomática, ou seja, sem uma causa física. Para os especialistas que apostam nessa tese, o fenômeno poderia ser explicado inicialmente por sintomas causados por estresse. Para explicar o fato de isso se “espalhar” entre vários agentes americanos mundo afora, os cientistas descrevem a síndrome de Havana como um “transtorno psicogênico coletivo – ou seja, basicamente, histeria coletiva. Ver casos de outras pessoas passando mal – e acreditar que elas estão sendo atacadas – induz esse sintoma em outras pessoas, de forma totalmente psicossomática.

Outra hipótese é que ela seja causada por ataques deliberados de forças estrangeiras – já que a síndrome foi identificada em países pouco amigáveis aos EUA, como Cuba, China e Rússia. 

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Nessa área, a tese mais provável de todas é de uma espécie de ataque usando micro-ondas. Nesta reportagem de 2021, explicamos em detalhes a ciência por trás dessa hipotética arma bizarra. Parte dos cientistas acredita que é possível que alguma força estrangeira (em geral, a Rússia) tenha desenvolvido uma arma high tech diferentona capaz de gerar danos cerebrais usando pulsos eletromagnéticos.

Nos últimos anos, essas hipóteses geraram debates acalorados entre cientistas. Agora, uma nova atualização traz mais pistas para desvendar esse mistério. Em dois novos artigos, pesquisadores dos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) – um órgão ligado ao governo federal americano – descrevem as mais completas análises já feitas até agora com pessoas com síndrome de Havana. E reforçam a ideia de que ela é psicológica.

No primeiro estudo, 86 pessoas que tiveram a doença misteriosa – incluindo funcionários do governo americano e seus familiares – passaram por uma série de testes clínicos para medir suas capacidades motoras, auditivas, cognitivas, visuais, neuropsicológicas etc, além de exames físicos e análises de suas amostras de sangue. Os resultados foram comparados com um grupo de controle, formado por 30 pessoas saudáveis.

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A conclusão do artigo mostrou que, basicamente, não havia diferença entre os resultados dos exames entre os grupos. Quando eram entrevistados sobre suas condições de saúde, porém, os participantes que haviam tido síndrome de Havana relataram maiores níveis de fadiga, depressão e estresse. 

Em um segundo estudo, cientistas usaram técnicas de ressonância magnética avançadas para analisar as imagens dos cérebros dos participantes, comparando-as com imagens de 48 pessoas saudáveis. A conclusão foi de que “não havia diferenças significativas” entre os resultados.

Os novos estudos reforçam a hipótese de que a Síndrome de Havana tem origem psicológica, e não vinda de um ataque estrangeiro. Essa é a mesma conclusão de uma grande investigação feita por sete agências de inteligência do governo americano em 2023, incluindo a CIA, que concluiu que o envolvimento de forças estrangeiras nos casos é “muito improvável”.

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Os artigos, no entanto, não são a conclusão final dessa história. Há a possibilidade de que haja danos cerebrais sutis demais para serem vistos em uma ressonância magnética, argumentam outros cientistas – e que os sinais de um ataque podem desaparecer após algum tempo, embora os sintomas continuem. 

E, de fato, esses novos estudos contradizem análises feitas pela Universidade da Pensilvânia em 2018 e 2019, que mostraram que as pessoas afetadas pela síndrome de Havana pareciam ter danos cerebrais diferentes de uma concussão ou de outras causas típicas. 

Os pesquisadores do novo estudo dizem que as diferenças na conclusão acontecem porque o equipamento usado nas pesquisas mais recentes é ainda mais potente, restrito apenas para pesquisas científicas. Ou seja, seria uma análise mais precisa. De qualquer forma, a novela sobre a causa da Síndrome de Havana deve continuar.

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