Sergio Laus: garota, vou pra pororoca
Aos 31 anos, Sergio Laus é o melhor surfista de pororoca do mundo: já desbravou os rios mais selvagens da Terra, deslizando sobre ondas que chegam a durar duas horas.
Eduardo Szklarz
Onde houver onda de mar subindo o rio, Sergio Laus já esteve ou quer estar. Aos 31 anos, ele é o melhor surfista de pororoca do mundo: já desbravou os rios mais selvagens da Terra, deslizando sobre ondas que chegam a durar duas horas. “Pororoca é um tsunami”, diz Serginho, que deixou Curitiba para viver entre Angra dos Reis e o Amapá – onde, enfrentando flora e fauna, marcou dois recordes mundiais.
O que é o surfe na pororoca?
Você surfa numa onda que vem do mar e entra rio adentro. Tem na França, no Alasca, na Indonésia, na China…. No Brasil, desde 1997, nos rios amazônicos. E começou na Inglaterra há 55 anos.
Como são essas ondas?
São as mais extensas do planeta. Podem durar horas e percorrer quilômetros. O surfe de pororoca é o único que podemos agendar com a natureza: tem dia, hora e local certo pra pegar a onda, quando a maré enche. É como se você derramasse uma piscina em um corredor estreito.
Onde foi mais difícil surfar?
Na China. Levou 5 anos para que liberassem o rio Quintang. No início, o governo chinês queria cobrar US$ 100 mil. Até que, em 2008, depois que viram nosso trabalho com esporte e turismo no Amapá, deixaram tudo redondo.
E como foi?
Foi um torneio interessante: eles chamaram dois havaianos, e eu levei o meu amigo Marcos Sifu. O Brasil derrotou os EUA diante de 500 mil pessoas! O maior público da história do surfe!
Nessa época você já era recordista mundial de tempo e distância em pororoca.
Sim. Bati o primeiro recorde em 2005. Fiz 10,1 quilômetros em 33 minutos e 15 segundos, no rio Araguari, no Amapá. Em 2009, superei a minha própria marca, com 11,8 quilômetros em 36 minutos. Treinando, já surfei uns 45 minutos. Estava sem GPS, mas calculei quase 15 quilômetros.
Existe campeonato mundial de surfe na pororoca?
Na verdade, os praticantes gostam de preservar ao máximo a cultura desse esporte, a interação harmônica entre os surfistas e a natureza. Não gostam de competição. Por isso não existe torneio, só expedições internacionais – nós, os franceses e os ingleses procuramos explorar as ondas em conjunto – procuramos até no Google Maps.
Nem campeonato brasileiro?
A gente fazia, mas hoje falta patrocínio. Como a onda só acontece uma vez por dia, e em poucos dias do ano, acaba sendo pega por dois surfistas, que dividem corpo a corpo um espaço pequeno. Isso às vezes é um pouco agressivo, os dois atletas acabam se tocando, não fica visualmente legal.
É um esporte perigoso?
A pororoca é uma onda totalmente diferente da do mar: é um tsunami. No rio Amazonas, são milhões de metros cúbicos de água jorrando de uma vez. A corrente chega a 40 km/h. Além dos obstáculos naturais: tronco, árvore, planta, jacaré, cobra e arraia. Macapá, a cidade mais próxima, fica a 18 horas. Não dá pra buscar gasolina na esquina.
Já sofreu acidente?
Fraturei a 5ª vértebra da lombar. Quebrei pranchas por bater em pedaços de pau. Nas primeiras expedições, minha equipe naufragou várias vezes. Sofremos até acertar a fórmula. Hoje, com 10 anos de pororoca e 65 expedições, conseguimos anular os riscos e levar até produtoras de cinema. Daí até parece fácil.