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Seis a onze porções de carboidratos por dia: verdade ou mito?

Entenda como uma manobra político-publicitária nos EUA deu origem a essa recomendação, que extrapola o consumo ideal para muita gente.

Por Manuela Mourão
24 dez 2024, 10h00

O design da pirâmide alimentar surgiu em 1974, na Suécia. A versão original não indicava um número de porções diárias; apenas hierarquizava os alimentos. Em 1992, o formato acabou adaptado pelo Depto. de Agricultura dos EUA (USDA), que acrescentou as quantidades. Você conhece esse esqueminha das apostilas do colégio: na base do triângulo estavam carboidratos – algo entre seis e onze porções diárias –, seguidos por frutas e legumes. Em cima, carnes, peixes, ovos e derivados de leite.

A história dessa recomendação começa nos anos 1950, quando tabagismo, alcoolismo, sedentarismo etc. estavam gerando uma alta histórica no número de infartos nos EUA, e ainda não havia consenso em torno da prevenção e do tratamento do problema. Diante da comoção na mídia e nas conversas cotidianas – que chegou ao ápice com o ataque cardíaco do presidente Dwight Eisenhower em 1955 –, o bode expiatório escolhido foi a gordura saturada.

De acordo com Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), hoje sabemos que a relação entre a ingestão dessas gorduras e o risco de infarto é mais complexa do que se acreditava. “Ainda existe uma recomendação de limitar o consumo, normalmente abaixo de 10% das calorias diárias, mas a relação direta de causa e efeito com infartos não é mais vista como absoluta.”

Na época, é claro, ninguém sabia disso. Em 1958, baseada em um estudo de má qualidade feito pelo pesquisador Ancel Keys, a Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês) endossou a cruzada anticolesterol. A AHA havia recebido uma grande doação de uma fabricante de óleo vegetal, interessada em convencer o público a trocar gorduras de origem animal por seu produto. Assim, apesar das evidências frágeis, a recomendação de cortar manteiga, carnes vermelhas, ovos e laticínios se espalhou. 

Uma nutricionista chamada Luise Light liderava a equipe responsável pelas diretrizes dietéticas americanas nessa época. Light conta que sua pirâmide alimentar foi “vendida pelo lance mais alto”, e redesenhada de acordo com a necessidade do USDA de escoar o excesso de grãos resultantes de uma política recente de incentivo à agricultura. A recomendação original de três a quatro porções diárias de carboidratos saltou para seis a onze.

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Essa grande manobra político-publicitária, é claro, só piorou a saúde pública nos EUA. A ingestão elevada de carboidratos pode provocar resistência à insulina, excesso de glicose no sangue, sobrecarga do pâncreas e contribuir para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 – para não falar no aumento do risco de infarto que os EUA tanto temiam. “As seis a onze porções por dia, recomendadas em algumas diretrizes antigas, são consideradas excessivas para a maioria das pessoas, especialmente em populações mais sedentárias”, diz Marcella Garcez.

Fontes artigos “Saturated fat, carbohydrates and cardiovascular disease”; “Saturated fats and cardiovascular health: Current evidence and controversies”; “A short history of saturated fat: the making and unmaking of a scientific consensus”; palestra “The corrupt history of the food pyramid”, de Paul Mason, disponível no YouTube; texto “How vegetable oils replaced animal fats in the american diet”, publicado no The Atlantic; livro What to eat, de Luise Light.

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