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Remover as amígdalas pode triplicar o risco de doenças respiratórias

Estudo com 1,18 milhão de crianças dinamarquesas revelou que as que tiraram as amígdalas na infância sofrem mais com asma, pneumonia e gripe na vida adulta

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
11 jun 2018, 18h18

A seleção natural não perde tempo com ineficiência. Há um bom motivo para cada parte do seu corpo ser do jeito que é – e as amígdalas não são exceção. Embora tenham fama de inúteis no imaginário popular, elas são a primeira linha de defesa do sistema linfático contra bactérias, vírus e outros patógenos que penetram no corpo pela boca. Não se sabe com exatidão se removê-las tem consequências de longo prazo.

Para sanar essa lacuna na literatura médica, um trio de pesquisadores analisou os prontuários médicos de 1,18 milhão de dinamarqueses nascidos entre 1979 e 1999. 11,8 mil deles passaram por cirurgias de remoção de amígdalas ainda na infância. Outros 17,4 mil tiraram as adenoides – estruturas análogas às amígdalas, mas localizadas atrás do nariz, e não na boca. 31,7 mil passaram por uma operação dupla, e ficaram sem amígdalas e adenoides. Os demais, que não perderam nenhuma das duas estruturas até os nove anos de idade, serviram como base de comparação.

O estudo também levou em consideração a influência de variáveis como local de nascimento, histórico de saúde pessoal e familiar, peso ao nascer, complicações na gravidez e no parto, condições socioeconômicas etc. A ideia é evitar, por exemplo, que uma pessoa que já nasceu de mal com o nariz – como alguém com rinite alérgica – desequilibre os números.

Conclusão: ao longo da vida, a parcela da população que retirou as amígdalas sofreu com doenças respiratórias quase três vezes mais que o grupo de controle. Pneumonia, asma, gripe, bronquite e embolia pulmonar são, todos, mais comuns. É sempre bom reforçar que associação não é o mesmo que causa. Na medicina, o fato de que duas coisas costumem aparecer juntas nos gráficos não quer dizer, necessariamente, que uma seja culpada pela outra. Mas esse é um daqueles casos em que a coincidência é curiosa demais para ser, de fato, uma coincidência.

“A associação entre tonsilectomia com problemas respiratórios na vida adulta é considerável para quem passou pela cirurgia”, afirmou em comunicado oficial Jacobus Boomsma, pesquisador da Universidade Yale, nos EUA. “A cada cinco pessoas que passam pela cirurgia, uma terá uma doença respiratória.” Retirar as amígdalas depois da adolescência tem consequências bem menos graves: aparentemente, o órgão é essencial na formação do sistema imunológico da criança, e não faz tanta falta assim em pessoas mais velhas, que já estão blindadas contra muitas doenças.

Os pesquisadores também avaliaram se os problemas para os quais a remoção de amígdalas e adenoides é recomendada realmente melhoram depois da cirurgia. E concluíram que, em longo prazo, a correlação não é perfeita: alguns dos problemas de fato melhoram, mas outros, como apneia do sono, sinusite crônica e otite se mantêm estáveis ou até pioram. Ou seja: as conclusões forçam médicos a repensar o custo-benefício da cirurgia em crianças – e, nos próximos anos, é provável que ela, em muitas situações, seja substituída por tratamentos menos invasivos e com menos efeitos colaterais.

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