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Qual bactéria mata mais rápido?

Não há uma campeã absoluta. Mas há um hall da fama de microorganismos crueis. Conheça alguns.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 fev 2019, 19h41 - Publicado em 1 fev 2019, 16h41

Não há uma campeã absoluta: muitas variáveis entram na conta. Bactérias diferentes podem matar pessoas diferentes em ritmos diferentes, quando infectam partes do corpo diferentes.

Por exemplo: um coquetel variado de bactérias – com destaque para o gênero Streptococcus, tipo A – é responsável por uma infecção chamada fascite necrotizante. O paciente é comido por dentro: em dois dias, boa parte do tecido subcutâneo da área afetada (o abdômen, no tipo 1, as extremidades, no tipo 2) morre. Com frequência, só amputações contêm o avanço da necrose. Até 76% das vítimas morre.

Se a Streptococcus está na garganta, porém, ela quase é inofensiva. Em 1994, quando a fascite necrotizante foi descoberta por tablóides britânicos sensacionalistas, a SUPER acalmou leitores preocupados com a notícia: “90% das amigdalites são provocadas pelo Streptococcus”, afirmou na época o infectologista André Vilela Lomar, diretor científico do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo. “Isso não quer dizer que ela possa sair da garganta na direção dos músculos.”

A fascite necrotizante não foi a única doença que rendeu notícias padrão Datena. Às vezes, algum jornalista desenterra um caso bizarro, e a notícia bomba mesmo que tenha acontecido há muito tempo. Foi o que rolou em janeiro de 2019 com uma bactéria chamada Bacillus cereus.

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Em outubro de 2008, um universitário belga de 20 anos conhecido apenas como AJ – seu nome não foi divulgado – esqueceu um potinho de plástico com macarrão dois dias fora da geladeira. Ele não tinha uma dieta lá muito equilibrada: todos os domingos, cozinhava cinco porções de massa barata, adicionava molho de tomate e vivia disso pelo resto da semana.

Quando AJ comeu o conteúdo do potinho esquecido, sentiu um gosto estranho – mas pensou que fosse o molho de tomate novo que estava testando. Passou mal, vomitou, teve diarreira e, às quatro da manhã do dia seguinte, já estava morto. A infecção comprometeu seriamente o fígado, provocando necrose e falência do órgão, além de uma possível pancreatite aguda. Se passaram apenas 10 horas entre a refeição e o óbito. O caso foi relatado detalhadamente neste artigo científico

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A Bacillus cereus adora qualquer carboidrato deixado fora da geladeira – principalmente se a temperatura alcançada durante o preparo não superar 100 ºC. Esporos sobrevivem à passagem pela panela e geminam no alimento recém-cozido quando ele é deixado ao ar livre, sem refrigeração. Entre 2% e 5% das intoxicações alimentares são culpa da dita cuja (embora nem todas sejam letais, é claro).

Essas duas são só exemplos – a ideia não é fazer uma lista exaustiva. Micróbios folclóricos à parte, é sempre bom lembrar que as bactérias mais perigosas que há por aí não são necessariamente as que matam rápido, mas que não podem ser mortas. A versão resistente a antibióticos do bacilo de Koch, causador da tuberculose, atinge de 250 mil pessoas por ano segundo a OMS. Ainda na década de 1960, 80% das Staphylococcus aureus já riam na cara dos remédios – a variedade resistente é conhecida pela sigla MRSA.

Fontes: “Necrotizing fasciitis: clinical presentation, microbiology, and determinants of mortality, 2003″; “Bacteriology of necrotizing fasciitis“, 1977; “Diagnóstico e tratamento da fasciite necrotizante: relato de dois casos“, 2008; OMS; “Antimicrobial resistance: the example of Staphylococcus aureus, 2003.

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