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Pesquisadores querem colocar o planeta Terra de dieta

Conheça o menu da humanidade perfeita: como seria nossa dieta se cada habitante da Terra tivesse acesso igualitário à comida, e a produção de alimentos levasse em consideração o combate ao aquecimento global.

Por Guilherme Eler
17 jan 2019, 20h12

Dietas insuficientes são uma das principais causas de problemas de saúde no mundo. Mas o problema não é bem que falta comida, e sim que ela é mal distribuída: enquanto 800 milhões de pessoas passam fome, há 2 bilhões de obesos ou pessoas com sobrepeso. Ainda que existam diversas correntes pensamento sobre quais alimentos devemos consumir para levar uma vida saudável, cientistas nunca haviam chegado a um consenso coletivo – isto é, baseado no fato de que a dieta perfeita não pode ser perfeita só para você, mas para todo o mundo também. E “mundo”, aqui, é no sentido de Terra, mesmo.

Um grupo de 37 pesquisadores desenvolveu um plano que se apresenta como “Dieta para a saúde planetária”. Ela é resultado de projeto de três anos que envolveu cientistas de 16 países e de diferentes campos de atuação, como saúde, agricultura, ciência política e sustentabilidade. Um resumo da ideia foi publicado na revista científica Lancet.

O plano estabelece o que seria uma dieta balanceada para uma pessoa saudável, com 2.500 calorias diárias, levando em consideração o quanto de comida há, de fato, para ser distribuída entre os 7,7 bilhões de habitantes da Terra. Como recomendações gerais, estão cortar o consumo de carne e açúcar pela metade, e dobrar o consumo de frutas, nozes e legumes, por exemplo.

Como o foco está em legumes, frutas e vegetais, alimentos de origem animal são permitidos só em pequena quantidade. O consumo de carne vermelha, por exemplo, está limitado a um bife por semana; ovos, mesma coisa: só um a cada sete dias. Frango e peixe, duas porções. Leite? Um copinho por semana e olhe lá.

Como destacou a BBC, a recomenda apenas 31g de açúcar e cerca de 50g de óleos (como azeite) por dia. As quantidades ideais diárias para o resto da pirâmide estão listados abaixo.

  1. Nozes: 50g
  2. Feijão, grão de bico, lentilhas e outras leguminosas: 75g
  3. Peixe: 28g
  4. Ovos: 13g
  5. Carne: 14g de carne vermelha e 29g de frango
  6. Carboidratos: 232g de grãos integrais, 50g de legumes e verduras ricos em amido
  7. Laticínios: 250g
  8. Legumes: 300g
  9. Frutas: 200g

Para seguir a lista à risca, terráqueos precisariam deixar de lado alguns hábitos de comilança bastante enraizados – tipo comer carne todos os dias, por exemplo. Segundo o estudo, pessoas que vivem na América do Norte comem 6.5 vezes mais carne vermelha do que a quantidade ideal. Quem vive no sul da Ásia, por outro lado, consome apenas a metade do recomendado. Na Europa esse total é de 77%. Por lá, o exagero é outro: europeus consomem 15 vezes mais nozes e sementes do que a dieta determina.

No caso da África Subsaariana, uma das regiões com maior índice de desnutrição do planeta, também há consumo além da conta. Por lá, o problema são tubérculos como a batata e a mandioca, consumidos em quantidade 7.5 vezes maior que a recomendada pelo regime.

“As tendências de alimentação atuais, combinadas com o crescimento populacional até 2050, irão intensificar os riscos para as pessoas e para o planeta”, comenta o site da Eat Forum, organização não-governamental que integrou o levantamento. Uma dieta saudável como a proposta, de acordo com os cientistas, pode prevenir até 11 milhões de mortes por ano. Boa parte desse total se relaciona a doenças causadas por dietas pouco saudáveis.

O impacto se estenderia não apenas no campo da saúde, mas também melhoraria nossa relação com o ambiente. Além de ser o setor da economia que mais consome água, há outros problemas que, vira e mexe, acabam entrando na conta da agricultura. Entre eles estão a perda de biodiversidade, mudanças no uso do solo, uso de fertilizantes, e danos à biodiversidade. Dados do governo dos Estados Unidos estimam que a agricultura e pecuária, somadas, representam 13% das emissões de gases do efeito estufa.

A verdade é que uma mera mudança na dieta não vai ser suficiente para dar um jeito em todos os problemas do mundo. O desperdício de comida a nível mundial também precisa ser freado. Só assim será possível falar em um acesso mais igualitário à alimentação e melhoria dos padrões alimentares. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), um terço da comida produzida em todo o mundo acaba indo para o lixo – um prejuízo que chega a US$ 680 bilhões em países desenvolvidos e US$ 310 bilhões em nações em desenvolvimento. Ou seja: não falta comida no mundo. Ela só não chega a quem precisa.

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