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Pesquisa indica que 45% dos casos de Covid-19 podem ser assintomáticos

E essa não é uma boa notícia. Indica que precisamos de testes em massa – justamente o que o Brasil não faz.

Por Carolina Fioratti
15 jun 2020, 20h43

Que algumas pessoas desenvolvem sintomas da Covid-19 e outras não, não é novidade. O problema é ter uma ideia exata da proporção. Um levantamento recente feito pelo Instituto de Pesquisa Scripps, nos EUA, sugere que essa faixa esteja entre 40% e 45% dos infectados.  

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores utilizaram dados de estudos que já haviam sido publicados. As principais fontes foram os sites de publicações científicas PubMed, bioRxiv e medRxiv. Em alguns casos, a proporção de assintomáticos era brutal.

Em alguns presídios dos EUA, por exemplo, todos os detentos foram testados (para garantir o isolamento dos portadores do vírus, e não transformar a penitenciária num necrotério). Numa amostra de três mil detentos, de quatro estados americanos diferentes, 96% não apresentaram tosse, febre, nada – natural, de certa forma, já que a média de idade num presídio é invariavelmente baixa.  Mas, claro, estamos falando num presídio. No cruzeiro Diamond Princess, que também funcionou como um microcosmo no qual toda uma “população” foi testada, “só” metade dos 712 infectados não apresentou sintomas – a amostragem ali, afinal, tinha uma média etária bem maior.

Como os números do Diamond Princess balizaram as estatísticas iniciais da Covid, os números do novo estudo são até tímidos. Mas, ainda assim, mostram que os assintomáticos formam um contingente razoável dos infectados. Sim, a taxa de transmissão deles é rara, como afirmou a OMS. Mas você, caso seja infectado, só vai saber se foi um assintomático completo quando o vírus tiver sumido do seu corpo. Se você está com o coronavírus hoje e só vai ter febre amanhã, você é um mero “pré-sintomático” – ou seja: pode, sim, estar transmitindo a doença sem saber.

Mais: se você acha que pegar a doença de forma assintomática é totalmente seguro, está enganado. Mesmo sem tosse ou febre, algumas pessoas sem sintomas mostraram complicações significativas nos pulmões em exames de imagem. No próprio Diamond Princess, 41 assintomáticos apresentaram algum comprometimento no órgão, ao menos na época dos exames.  

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Bom, uma proporção de 40% a 45% de assintomáticos, caso essa seja mesmo uma aproximação melhor da realidade, ainda é algo preocupante. Mostra que a testagem em massa e o rastreamento de casos é fundamental. Quem sabe que carrega o vírus, afinal, tende a se isolar melhor. E, se não tender, as autoridades ao menos vão ter uma noção melhor sobre quanta gente está infectada – e saber quais medidas tomar (lockdown, quarentena flexibilizada, uma mera recomendação de distanciamento, ou nada, como acontece hoje na Nova Zelândia, onde o governo considera o coronavírus erradicado e até os eventos esportivos com público voltaram).

Não é o que acontece no Brasil, claro. Aqui praticamente só testamos os casos graves, o que arruina qualquer estimativa sobre o número real de infectados. Como disse Daniel Lahr, professor do Instituto de Biociências da USP, ao G1: “O Brasil está testando brutalmente menos do que deveria. Na melhor das hipóteses, 20 vezes menos do que é considerado adequado”.

O ideal para a OMS é que sejam feitos entre 10 e 30 testes para cada caso confirmado da doença, mas de acordo com a plataforma Our World in Data, em 20 de abril, o Brasil estava fazendo 2,27 testes para cada novo infectado – essa é última data disponível lá sobre o número de testes no País. No mesmo dia de abril, Portugal estava na faixa dos 20 testes por confirmação e a Itália marcava 15. Depois, a testagem nesses países ainda aumentou consideravelmente. Portugal chegou a registrar em meados de maio 80 testes por caso confirmado. Na Itália, em junho, a marca estava em 212.

 

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