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Obesidade não tem a ver com “vício em comida”, prova estudo

Comer pode, sim, se tornar uma compulsão. Mas ser obeso tem pouca relação com "gostar demais" de comer.

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
17 abr 2018, 15h24

Comida pode virar compulsão. Isso todo mundo sabe. A culpa é do sistema de recompensa do seu cérebro, que pode levar a um ciclo vicioso, por liberar dopamina toda vez que você come algo delicioso. O fenômeno tem até um nome bonito: a “fome hedônica”, quando uma refeição é motivada mais pelo prazer de comer do que pela necessidade de nutrir o corpo.

O grande problema é que fica muito fácil acreditar que o excesso de peso é culpa da fome hedônica. E o pior: já definir que toda pessoa obesa é viciada no prazer de comer – o que é praticamente equipará-la a um dependente químico.

Parte da culpa é da ciência: nós mesmos, aqui na SUPER, já falamos sobre estudos que mostram que a obesidade reduz o prazer gerado pela comida – e que essa reação seria responsável por fazer uma pessoa obesa comer sempre mais, para conseguir a mesma liberação de dopamina e, assim, ela continua obesa.

Felizmente, a própria ciência foi checar se essa relação procede – e provou que, na vida real, longe dos laboratórios, a associação entre vício e obesidade é frágil, para dizer o mínimo.

Neurocientistas portugueses reuniram 123 pacientes obesos, com IMC acima de 30 pontos. Depois, repetiram o experimento com um grupo de 278 pessoas. E, por último, refizeram o estudo com 865 pessoas – assim, dá para dizer que foi um estudo com amostra bastante representativa da realidade.

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Os participantes foram avaliados pela escala chamada “O Poder da Fome”, que calcula, de 1 a 5, o quanto uma pessoa tende a comer em excesso por prazer.

A princípio, eles notaram que, quanto mais alta a nota de “fome hedônica” do participante, maior a chance dele ser obeso. No entanto, o contrário não era verdadeiro.

Ter prazer extremo ao comer aumentava o risco de obesidade, sim. Mas a grande maioria das pessoas obesas do estudo não apresentavam essa fome hediônica. Segundo os pesquisadores, menos de 10% dos casos de obesidade são influenciados pelo que conhecemos como “vício em comida”. Outros fatores de risco, como idade, gênero e nível educacional, ajudavam a explicar cerca de 6% dos casos.

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Ou seja: ainda existia muita gente no estudo cujo prazer módico em comer não justificava o IMC alto. “A recompensa vinda da comida não é uma causa principal da obesidade. Ainda precisamos achar os outros 84% [dos fatores de risco para obesidade]”, explica um dos pesquisadores.

A obesidade só existe, é claro, quando a ingestão de calorias é maior do que a gasta pelo corpo. Mas fatores biológicos (genéticos ou ambientais), psicológicos e culturais também fazem parte dessa equação.

Limitar a questão ao vício em comida não só culpabiliza a própria pessoa obesa, como não informa bem as políticas públicas. “Precisamos basear nossas decisões para a saúde das pessoas em resultados, não em opiniões”, conclui o líder do estudo.

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