O passo a passo da morte por desidratação
Conheça cada etapa do que acontece com o corpo quando você morre desidratado. Uma dica: tudo começa com você sentindo sede.
Na média, 60% do nosso corpo é água. E essa água toda não fica dentro de você por longos períodos: entre cocô, xixi e suor, você perde, por dia, algo entre 2 e 2,5 litros do líquido, o equivalente a mais de 2% da sua massa. É por isso que, conforme o dia passa e você despacha alguns mililitros de si mesmo privada abaixo, vem aquela sede que só água resolve (e não adianta pedir cerveja – bebida alcóolica só aumenta a sede).
Quando mais de 5% do seu peso em H20 vai embora, você começa a sofrer de desidratação. No Brasil, ela te mata em quatro dias, mas demora um pouco mais em lugares mais frios. É um péssimo método de emagrecimento. A desidratação é mais ou menos rápida conforme a intensidade das atividades físicas a que você se submete e o quanto você sua por natureza, mas, se for prolongada, te fará bater as botas de qualquer maneira. Entenda abaixo o passo a passo para virar uma uva passa.
Estágio 1: sede comum
O limiar seguro da sede corresponde à perda dos 2% do peso corporal em água, mencionados acima. É o equivalente à vontade de beber água que você sente depois de uma hora de exercício pesado, em um local quente, sem uma garrafa de água por perto.
Procure um filtro. Nessa fase, sua temperatura corporal já está mais alta e seus rins liberam menos água para a bexiga, deixando seu xixi mais escuro. Seu cérebro não te deixa passar desse limite — a não ser, claro, que não haja água alguma por perto. Planeje bem sua visita ao Saara.
Estágio 2: pior que ressaca
Quando 4% ou 5% do seu peso em água foram embora, quase não há mais água para suar. É bom lembrar que o suor não existe só para te obrigar a usar desodorante: ele é uma espécie de ar-condicionado natural. Sem ele, você sobreaquece, como um motor sem radiador. Nessa altura do campeonato começa a dor de cabeça, e tomar um analgésico só vai impedir seu cérebro de te avisar que você precisa urgentemente beber alguma coisa. A dor vem acompanhada de uma espécie de letargia: você fica inerte e apático, e perde a concentração.
Estágio 3: uva passa
Quando cerca de um décimo do seu peso tiver ido embora em forma de água, o problema fica realmente sério. “Conforme suas células perdem fluído, sua pele se torna visivelmente seca”, afirma a médica Sarah Reid, especialista em desidratação. “Belisque sua pele e veja se ela volta ao normal rápido. Se demorar, é um sinal de desidratação moderada.” Outros pesquisadores, porém, discordam da médica — para eles, a perda de elasticidade da pele não tem a ver com a desidratação em si, mas com um outro problema, a hipovelemia, que se refere especificamente à perda de água fora das células do corpo. Seja como for, o ideal é não deixar seu organismo chegar neste estágio.
Estágio 4: pane elétrica
Dos 10% em diante, tudo vai ladeira abaixo. A enorme quantidade de água perdida levou junto boa parte de seus eletrólitos, as partículas eletricamente carregadas que são essenciais para seu cérebro mandar comandos para o resto do corpo. Você já está visivelmente ressecado e desorientado. Beber muita água ou isotônico em uma tacada só te fará vomitar e tornará a situação ainda pior — a reposição precisa ser lenta e gradual. Sua pressão sanguínea já está baixa, e seus rins não conseguem mais filtrar muita coisa.
Estágio 5: morte
Você pode morrer pelo sobreaquecimento de órgãos vitais ou pela enorme concentração de substâncias tóxicas no seu sangue que não estão mais sendo diluídas e eliminadas por meio da urina — qual problema fará a diferença primeiro depende da temperatura do ambiente. É quase impossível sobreviver a uma perda de mais de 20% do corpo em água. Há casos de triatletas que perderam essa quantidade de água em só duas horas de atividade física extremamente intensa — prova de que o tempo passado sem água não é uma régua confiável para decidir quando você deve beber o próximo copo.