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Ministério da Saúde recomenda afrouxar isolamento em áreas pouco afetadas

A sugestão é que cidades e estados com sistema de saúde não sobrecarregado adotem o isolamento vertical – mas é preciso ter cautela com a medida. Entenda.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 23 abr 2020, 16h12 - Publicado em 9 abr 2020, 18h17

O Ministério da Saúde do Brasil recomendou, na última segunda-feira (6), que estados e cidades pouco afetados pela pandemia de Covid-19 devem começar a afrouxar suas medidas de isolamento social a partir do dia 13 de abril. As diretrizes desse plano de transição foram divulgadas pelo órgão em boletim epidemiológico.

Atualmente, boa parte do Brasil está sob algum tipo de distanciamento social. O novo documento diz que “os municípios, Distrito Federal e Estados que implementaram medidas de Distanciamento Social Ampliado (DSA), onde o número de casos confirmados não tenha impactado em mais de 50% da capacidade instalada existente antes da pandemia, devem iniciar a transição para Distanciamento Social Seletivo (DSS)”.

Ou seja: regiões em que o sistema de saúde não apresente sinais de lotação devem, segundo o órgão, passar a isolar apenas quem está no grupo de risco – idosos e pessoas com condições pré-existentes – e voltar gradualmente à normalidade. É o chamado isolamento vertical, já defendido anteriormente por Jair Bolsonaro (o presidente, porém, defende a medida para todo o território brasileiro).

Regiões consideradas críticas (que possuem mais casos do que a média nacional) e que o sistema de saúde já enfrenta dificuldades para conter a crise, devem continuam com o distanciamento geral, segundo o Ministério. A ideia é que locais diferentes enfrentam crises diferentes, e que cada um deve tomar a decisão que cause menores danos à saúde da população e também à economia local.

As recomendações são apenas diretrizes para os governos locais, que poderão decidir por conta própria se vão seguir essa estratégia ou não. Estados como São Paulo – o mais afetado pela crise –, Santa Catarina e Ceará já anunciaram que prorrogarão suas quarentenas por mais dias. Já no Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel flexibilizou as regras de isolamento em municípios do estado que ainda não registram nenhum caso de Covid-19; os demais seguem no protocolo de distanciamento.

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O estado do Amazonas, com destaque para capital Manaus, foi o primeiro do Brasil a ter seu sistema público de saúde a beira do colapso devido à pandemia – 95% dos leitos de UTI já estão ocupados. Ele integra o grupo de estados em situação especialmente crítica, no qual também entram São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e o Distrito Federal, segundo o Ministério.

Quais as consequências da medida?

Como já explicamos na SUPER, a ideia do isolamento social é de “achatar a curva de transmissão”, ou seja, desacelerar a transmissão do vírus e evitar que muita gente fique doente ao mesmo tempo, para que estejam disponíveis leitos, equipamentos e profissionais de saúde nos hospitais durante a pandemia. Como o próprio documento do Ministério da Saúde explica, a maneira mais fácil de fazer isso é usando o chamado “lockdown”: uma quarentena generalizada e extremamente restritiva, inclusive com fechamento de fronteiras e uso de forças policias para conter locomoção de pessoas, como fez a China no início da pandemia.

O lockdown é extremamente eficiente em frear a doença e é, em geral, a aposta de países que passam pelo pico da crise. O problema é que essa estratégia causa grandes danos à economia porque paralisa todas as atividades não essenciais.

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O Distanciamento Social Ampliado, atualmente aplicado em quase todo o Brasil, incentiva que pessoas fiquem em suas residências na maior parte do tempo e só saiam para atividades essenciais. Também é eficiente em frear a epidemia, principalmente quando está em estágios iniciais, mas têm altos custos econômicos. Já o Distanciamento Social Seletivo, defendido pelo Ministério para áreas pouco afetadas, tem menores impactos econômicos. Mas não funciona tão bem.

Como o próprio documento admite, no isolamento vertical “os grupos vulneráveis continuarão tendo contato com pessoas infectadas assintomáticas ou sintomáticas, ficando mais difícil o controle”. Sem frear a transmissão, o sistema de saúde pode colapsar rapidamente. Isso é mais perigoso ainda para cidades pequenas e médias, que geralmente não têm a mesma estrutura hospitalar das grandes metrópoles. Segundo levantamento do jornal O Globo, metade das cidades com casos do novo coronavírus, excluídas capitais e regiões metropolitanas, não tinha leitos de UTI no Sistema Único de Saúde (SUS). Se a doença começar a se espalhar rapidamente nesses municípios, o cenário pode ficar muito grave.

Aparentemente, a estratégia do Ministério da Saúde quer chegar a um meio termo entre danos econômicos e saúde pública. O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, vinha defendendo posições divergentes da do presidente Jair Bolsonaro ao reconhecer a importância do distanciamento social generalizado. Mandetta chegou a assinar um relatório que prevê que o pico de casos entre abril e maio – e também passou por um processo de quase demissão, como noticiou a imprensa.

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Com o novo plano, o Ministério parece querer levar em conta também a economia, começando o afrouxamento por cidades que, até então, parecem estar em menor risco. E, segundo o jornal Folha de São Paulo, as ideias do presidente parecem ter influenciado a construção do novo plano.

Mas especialistas veem a estratégia com cautela. Como ainda não passamos pelo pico de infecções, tomar decisões como essa podem piorar o cenário no futuro, incluindo em cidades pequenas e até agora “pouco” afetadas. Além disso, ter 50% dos leitos não comprometidos pela doença não é tanta coisa assim se considerarmos cenários como o da Itália e da Espanha, onde os sistemas de saúde entraram em colapso e as equipes médicas tinham que decidir quem receberia tratamento e quem seria deixado à própria sorte. 

O Reino Unido decidiu adotar a estratégia de isolamento vertical, mas abandonou o plano depois que viu o seu número de casos disparar. O primeiro-ministro Boris Johnson, inclusive, chegou a pegar a doença e atualmente está se recuperando após deixar a UTI.

Mas não dá pra ter certeza se vai acontecer a mesma coisa. O Reino Unido aplicou a estratégia para todo seu território, enquanto o Ministério da Saúde do Brasil sugere que apenas algumas áreas sigam esse caminho. O risco, no entanto, ainda existe.

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