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Material genético do novo coronavírus é 80% igual ao do vírus da SARS

A semelhança com o vírus da síndrome respiratória aguda grave pode ajudar a criar vacinas e tratamentos contra o novo parasita.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 25 mar 2020, 12h10 - Publicado em 4 fev 2020, 15h55

A reação médica e científica ao novo coronavírus foi uma das mais rápidas da história. Os primeiros casos surgiram em dezembro de 2019, e pouco tempo depois os médicos já sabiam que se tratava de um novo vírus da família corona. Em uma semana, cientistas chineses sequenciaram o material genético do parasita e disponibilizaram as informações em um banco de dados internacional.

Agora, novas análises publicadas na última segunda-feira (3) revelaram que 80% do material genético do novo vírus é igual ao da SARS (Síndrome respiratória aguda grave) – um outro tipo de coronavírus, responsável por provocar um surto da doença em 2002 e 2003. 

As semelhanças não param por aí. Tanto o vírus da SARS quanto o coronavírus de 2019 foram transmitidos dos morcegos para os humanos. O vírus da SARS foi responsável por infectar 8 mil pessoas em 2002, enquanto o novo coronavírus já passou dos 20 mil. Não existem registros de novas infecções por esse vírus desde 2004.

Segundo o virologista Ian Jones, da Universidade de Reading, no Reino Unido, o novo coronavírus é uma versão do vírus da SARS que se espalha mais rápido, mas causa menos danos. É bom lembrar que o SARS matou 9,6% de todos os infectados, enquanto para o novo coronavírus essa taxa não passa dos 2%.

Os estudos examinaram amostras de trabalhadores do mercado de Wuhan que foram infectados pelo coronavírus. A análise mostrou que 79,5% do RNA do vírus coincide com o do SARS. Além disso, 96% desse código genético é igual ao de outros coronavírus que infectam morcegos. Os pesquisadores acreditam que esses animais possam ter transmitido o vírus para um outro animal intermediário, e só aí ter passado para pessoas.

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O novo coronavírus precisou passar por mutações para conseguir infectar humanos, já que essa família de vírus geralmente circula apenas entre animais. Existem sete tipos de coronavírus conhecidos, que chegaram aos humanos através de bovinos, alpacas, camelos, gatos, morcegos e outros animais.

A superfície do vírus é coberta de estruturas que lembram espinhos, que ajudam o parasita a se ligar às células do hospedeiro. Se o espinho não “combinar” com os receptores das células, ele não consegue se reproduzir e a infecção é mal sucedida. Era o que acontecia com os humanos até então. Mas as mutações do vírus mudaram as proteínas dos espinhos, que acabaram se tornando compatíveis com as nossas células.

As pesquisas mostraram que tanto o vírus da SARS quanto o novo coronavírus se alojam no mesmo receptor humano, chamado ACE2. Ele fica nos pulmões humanos, o que explica os principais sintomas dos pacientes, como tosse, dificuldades para respirar e pneumonia.

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Toda essa semelhança com o SARS pode ser boa no final das contas. Os autores dos estudos acreditam que as pesquisas desenvolvidas para o vírus da SARS desde 2002 podem ajudar nos tratamentos do novo vírus. 

Nenhuma vacina foi desenvolvida para a SARS, mas existem pesquisas em desenvolvimento que ainda precisam passar por testes clínicos. Como o mecanismo de infecção em humanos é parecido, é possível que uma vacina para o vírus da SARS também funcione contra o novo coronavírus. Mas, por enquanto, essa ainda é uma hipótese.

O governo brasileiro decretou nesta terça-feira (4) estado de emergência para conter o coronavírus, mas ainda não há casos confirmados no país.

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