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Jovem nascida sem parte do cérebro mostra que órgão é capaz de se adaptar

Ela nasceu sem o hemisfério esquerdo, que é essencial para o desenvolvimento da linguagem. Mas conseguiu contornar o problema - e hoje está acima da média nessa habilidade.

Por Carolina Fioratti
12 fev 2020, 17h02

Uma jovem de 18 anos nascida sem o hemisfério esquerdo do cérebro tem surpreendido cientistas. A menina não tem esse lado, que é responsável pelo desenvolvimento da linguagem mas mostrou desempenho acima da média em atividades que demandam essa habilidade. Isso leva a crer que o lado esquerdo possa ter se adaptado para suprir essas funções.

A condição da garota, a que os cientistas se referem apenas como “C1” (para preservar a identidade dela) é extremamente rara: só existem nove casos do tipo no mundo. Quando ela tinha apenas dez meses, foi diagnosticada com hemi-hidranencefalia: onde deveria estar o hemisfério esquerdo do cérebro, havia apenas líquido. Os pais perceberam que a criança era diferente das outras pois, aos sete meses, continuava repetindo alguns movimentos muito primários para a sua idade. 

Com um ano e dois meses, uma equipe da Universidade de Oxford adicionou C1 em um projeto de pesquisa, que acompanhou a menina até seus 16 anos. C1 foi comparada com 64 crianças sem problemas cerebrais e 40 que sofreram AVC (acidente vascular cerebral) antes ou depois do nascimento. No começo, seu desempenho estava bem abaixo da média, mas depois o cenário mudou. 

Aos quatro anos, C1, que antes tinha o vocabulário limitado e ficava muito atrás das crianças de sua idade, finalmente alcançou a média. Salomi Asaridou, pesquisadora que estudou seu desenvolvimento, contou em entrevista à New Scientist que entre seus cinco e sete anos a menina já estava “na faixa acima e significativamente melhor do que o resto do grupo em desenvolvimento”.

O cérebro de C1 também surpreende por ter mais substância branca (tecido que permite a comunicação entre as regiões) que o normal. Além disso, o acúmulo está justamente nas partes relacionadas a linguagem, o que mostra sinais da adaptação do lado direito. Mesmo com sua condição rara, a garota leva uma vida quase normal.

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E ela não é boa apenas na linguagem. Testes mostraram que a jovem possui habilidades espaciais típicas e é ótima em testes de memória que envolvam sequenciamento de números. Não houve uma compensação de habilidades cognitivas, e sim uma adição. Ela só enfrenta uma dificuldade motora: o lado direito do corpo é limitado, mas nada que a atrapalhe tanto assim.

O desenvolvimento alcançado por C1 é muito raro. Dos outros pacientes que compartilham da hemi-hidranencefalia, seis já foram testados e apenas dois tinham pleno domínio da linguagem. A garota teve acompanhamento de profissionais, como fonoaudiólogos e fisioterapeutas, durante toda a vida – o que pode tê-la ajudado. Os pesquisadores também acham que pode haver fatores genéticos envolvidos. C1 tem um irmão mais novo que apresenta resultados surpreendentes em testes de linguagem. 

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