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Isolamento pode evitar que sistema de saúde de SP entre em colapso, diz estudo

Fila unificada para leitos da rede privada e pública também é uma medida essencial para evitar o pior. Cenário é negativo, porém, para regiões Norte e Nordeste.

Por Bruno Carbinatto
4 Maio 2020, 19h04

Com medidas de isolamento social e uma fila unificada entre setor público e privado para leitos de UTI, alguns estados podem não chegar a ver seus sistemas de saúde colapsar devido a pandemia de Covid-19. Foi o que apontou um estudo preliminar, ainda não publicado, feito por pesquisadores a Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Escola de Medicina da USP e do Instituto do Câncer e divulgado na segunda-feira (03/05) pela Agência Bori.

De acordo com o artigo, o estado de São Paulo – que já soma mais de 32 mil casos e 2654 mortes – pode não chegar a sua capacidade máxima de ocupação em leitos de UTI se duas medidas forem tomadas: manter as medidas de isolamento social em vigor e adotar uma fila unificada para leitos entre o sistema público e sistema privado, ou seja, não reservar leitos da rede privada apenas para pessoas com planos de saúde enquanto atende pessoas sem plano apenas nos leitos disponíveis no SUS. Em uma fila única, qualquer pessoa pode ser atendida em qualquer leito, privado ou público.

Com isso feito, a equipe calcula que cerca de 5 mil leitos de UTI serão necessários no estado, que tem um total de 11.027, contando com rede pública e privada. Se 70% destes forem destinados exclusivamente para pacientes com Covid-19, o estudo calcula que o sistema não vai colapsar.

O cenário não é tão positivo para outros estados. No Rio de Janeiro, a possibilidade de faltar leitos de UTI é maior. No pior dos casos, em que as filas por leitos permanecem separadas, o estudo calcula que pode haver um aumento de cerca de 40% das mortes em relação a um cenário de fila única. E, nas regiões Norte e Nordeste, onde há menos leitos de UTI disponíveis, as chances de faltarem vagas são altíssimas. No Amazonas, a situação já é preocupante e o sistema está à beira do colapso. Com isso, o número de mortes para o estado, considerando que o isolamento social seja mantido, é estimado entre 647 e 1.666.

Atualmente, a ideia de se unificar as filas é somente isso – uma ideia. A proposta é defendida por alguns acadêmicos, políticos e até empresários, mas ainda não foi para frente em nenhum estado. Alguns estados e municípios tem feito acordos pontuais com o setor privado para disponibilizar alguns leitos de UTI para o SUS, como foi o caso do Ceará e de Pernambuco, mas são apenas contratos pontuais.

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No Brasil, a proporção de leitos de UTI entre rede pública e privada no Brasil é quase de metade/metade. Mas só 1/4 da população tem plano de saúde – ou seja, os outros 3/4 dependem de apenas metade dos leitos, um claro desequilíbrio. Por isso mesmo a superlotação de leitos já está mais grave no sistema público do que no sistema privado em algumas regiões. E, como o SUS é para todos os brasileiros, nada impede que uma pessoa com plano de saúde ocupe uma vaga pública (o plano de saúde pode até cobrir os gastos depois, mas o que interessa aqui não é muito a grana, e sim a disponibilidade do leito em si). O contrário, porém, não pode acontecer: alguém sem plano depende exclusivamente do SUS. Uma fila unificada poderia corrigir essa desigualdade e evitar que faltem leitos de um lado enquanto sobram de outro.

Vale lembrar, porém, que o estudo é preliminar e ainda não foi publicado em uma revista científica, não passando pela chamada revisão por pares – quando outros cientistas analisam a pesquisa para validar os métodos utilizados. E alguns resultados do estudo diferem bastante de outros modelos publicados. Por exemplo: o artigo prevê que o pico da pandemia da Covid-19 no Brasil deve ocorrer entre os dias 11 a 16 de maio de 2020, com registro de um número de 973 mortes diárias. É uma previsão bastante otimista, contando até 10 vezes menos mortes no total em relação a outros modelos.

O modelo também é otimista em relação aos períodos de picos em estados:  segundo a equipe, eles já devem estar ocorrendo (entre os dias 2 a 9 de maio no Rio Janeiro e entre 30 de abril a 6 de maio em São Paulo, mais especificamente). Ou seja, em um futuro próximo, as coisas tenderiam a começar a melhorar. Mas o modelo também previa que, no Amazonas, o pico deveria ter ocorrido entre os dias 26 de abril a 30 de abril, algo que não ocorreu: hoje, o estado registrou mais 630 novos casos, um recorde até então – o que gera dúvidas sobre as previsões do estudo.

Segundo os pesquisadores, os resultados mais otimistas se devem, em partes, por que o modelo utiliza uma taxa de letalidade menor do que outros modelos, já que há muitos casos assintomáticos e é difícil calcular com certeza qual a letalidade da doença. Além disso, a equipe ajustou os dados para a pirâmide etária do Brasil, pois se sabe que pessoas mais velhas são mais vulneráveis. E, segundo escreveram no artigo, a objetivo principal do estudo é estimar quantos leitos de UTI serão necessários nos estados ao longo do tempo, e não exatamente o número de mortes (apesar de também fazerem isso).

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