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Estudo aponta três fatores que fazem uma pessoa transmitir mais Covid-19

Os resultados podem ajudar a entender como acontecer os chamados "eventos de super transmissão", em que uma única pessoa infecta várias em uma aglomeração.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 17 fev 2021, 17h54 - Publicado em 17 fev 2021, 17h49

Algumas pessoas são mais prováveis de transmitir a Covid-19 do que outras – isso a ciência já sabia há algum tempo. Mas os motivos que tornam alguns “super espalhadores” não eram tão claros. Agora, uma nova pesquisa encontrou três fatores decisivos que aumentam a probabilidade de uma pessoa transmitir mais o vírus: índice de massa corporal (IMC), idade e grau de infecção.

O estudo, publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences, envolveu duas análises separadas: uma com 194 adultos saudáveis (não infectados com o Sars-Cov-2) e outra com oito macacos de duas espécies diferentes com Covid-19. A ideia era analisar o quanto essas pessoas (e os primatas) espalhavam gotículas respiratórias no ambiente enquanto respiravam normalmente.

Essas pequenas partículas exaladas por nós quando respiramos, tossimos, espirramos ou falamos são os veículos principais que transportam o coronavírus de uma pessoa infectada para uma pessoa saudável. Gotículas mais pesadas de saliva ficam pouco tempo no ar e logo caem em superfícies (daí a importância de higienização frequente das mãos, por exemplo); já partículas no formato aerossol são mais leves e conseguem ficar suspensas no ar por muito mais tempo. Há uma série crescente de evidências de que a Covid-19 se transmite também por essa via – e por isso medidas como uso de máscaras e ventilação dos ambientes estão sendo ressaltadas no mundo todo.

No estudo, os pesquisadores das universidades de Tulane, Harvard e MIT descobriram que há três fatores que fazem com que uma pessoa espalhe mais dessas partículas no ambiente. O primeiro é a idade; quanto mais velha uma pessoa, mais partículas ela espalha; o segundo é o índice de massa corporal (IMC), que também segue a relação de proporcionalidade; e o último é o grau de infecção da pessoa com Covid-19 – um doente no pico da infecção, quando a carga viral está no máximo, transmite mais.

Em geral, os voluntários humanos e os primatas envolvidos na pesquisa que eram mais velhos, com IMC mais alto e uma taxa de infeçcão por Covid-19 espalhavam até três vezes o número de gotículas respiratórias dos outros grupos. Vale lembrar que os indivíduos humanos do estudo não estavam infectados com o coronavírus; os resultados sobre o impacto do grau de infecção na transmissão vieram dos macacos.

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Os resultados entre humanos também mostraram que apenas 18% dos indivíduos (35) eram responsáveis por 80% das partículas exaladas por todo o grupo (de 194 pessoas) – uma tendência que parece seguir a chamada “regra 20/80” observada em outras epidemias de doenças infecciosas, em que apenas 20% dos indivíduos infectados são responsáveis por 80% das transmissões.

Nos macacos, os níveis de partículas emitidas atingiram seu máximo após uma semana da infecção, quando a carga viral também estava em seu pico, e voltaram ao normal após o fim da segunda semanas. Isso aconteceu mesmo quando os bichos não apresentavam sintomas notáveis. Segundo a equipe, é possível que a presença do vírus nas vias respiratórias diminua o muco característico dessas vias e “abra caminho” para uma maior emissão de partículas.

“Nós já observamos  aumentos semelhantes nas gotículas exaladas durante estágios de infecção aguda em outras doenças infecciosas, como a tuberculose”, disse, em comunicado, Chad Roy, autor do estudo. “Parece provável que infecções virais e bacterianas das vias aéreas consigam enfraquecer o muco dessas vias aéreas, o que promove o movimento de partículas infecciosas para esse ambiente”.

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Os dados podem ajudar a identificar e evitar os chamados “eventos de super transmissão” – episódios em que várias infecções acontecem em uma mesma aglomeração, como um show ou uma festa, sendo que muitos ou todos podem ter origem em apenas uma pessoa infectada. Acredita-se que o mercado de frutos do mar em Wuhan, na China, tenha sido o primeiro evento do tipo, ainda em 2019.

Além de ressaltar a importância de medidas como o uso de máscaras e a ventilação dos ambientes fechados, o estudo também lembra que qualquer aglomeração pode acabar sendo palco de uma transmissão em massa. “Embora nossos resultados mostrem que os jovens e saudáveis tendem a gerar muito menos gotículas do que os mais velhos e menos saudáveis, eles também mostram que qualquer um de nós, quando infectado por Covid-19, pode estar em risco de produzir um grande número de gotículas respiratórias ”, lembrou David Edwards, da Universidade Harvard.

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