Devemos parar de comer carne?
Depende de qual é nossa maior preocupação: saúde, bem-estar dos animais criados para o abate, meio ambiente ou economia pujante
Textos Fernanda Salla
Essa é uma pergunta bem difícil, para a qual não existe resposta definitiva. Por um lado, quem come carne gera riqueza (só no Brasil, a pecuária de corte gera cerca de 7 milhões de empregos diretos e movimenta quase 34 milhões de reais por ano). Pesa sobre os ombros dos carnívoros, no entanto, parte da responsabilidade pelos estragos ambientais que essa atividade provoca – sem contar a acusação de compactuar com a crueldade a que muitos animais criados para o abate são submetidos.
Se a sua primeira preocupação é com a própria saúde, talvez não seja má ideia abolir banir a carne vermelha do cardápio. Estudos comprovam que os vegetarianos tem 40% menos chances de desenvolver câncer de intestino e do sistema reprodutor. Carne bovina, no entanto, tem alto valor nutricional. É uma excelente fonte de proteína, rica em vitaminas do complexo B, minerais, aminoácidos e ferro. Trata-se de uma arma poderosa no combate à anemia.
O segredo, para a maior parte dos especialistas, é uma alimentação balanceada – que inclua carne, mas com moderação. Quem abusa se expõe mais ao risco de problemas cardiovasculares e degenerativos. Segundo Madalena Vallinoti, presidente do Sindicato dos Nutricionistas de São Paulo, o ideal é que uma pessoa adulta coma duas porções diárias de proteína animal (pode ser ovo ou derivados de leite também). “É o excesso que faz mal”, diz Madalena. “Cerca de 80% do colesterol é produzido por nosso próprio corpo, só os outros 20% vêm dos alimentos que consumimos.”
Agora, se você se preocupa também com a saúde dos animais criados para o abate, há razões mais emocionais para abandonar a carne. No Brasil, bois são criados soltos e se alimentam de pasto. Em outros países, no entanto, eles ficam fechados em espaços reduzidos e comem apenas ração – principalmente na Europa. O abate acontece em ritmo industrial. Primeiro, dá-se um disparo na testa do boi com uma pistola de ar comprimido, que deixa o animal desacordado. Aí, ele é erguido pela pata traseira e tem sua garganta cortada. É necessário sangrá-lo vivo para que o sangue seja bombeado para fora do corpo – evitando, assim, a proliferação de microorganismos (leia mais sobre abate nos quadros abaixo.).
Outro fator a ser levado em conta é o ambiental. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), quase 20% das emissões de gases do efeito estufa vêm da produção de carne para consumo humano. O Brasil, por exemplo, é o quarto maior emissor mundial de gases estufa por causa das queimadas, que transformam grandes áreas cobertas por vegetação natural em pastos para a criação de gado. Estima-se que a pecuária esteja por trás de até 80% do desmatamento praticado na região amazônica e de metade dos gases liberados para a atmosfera. Além disso, a pecuária de corte é uma atividade que consome volumes colossais de água. Para produzir apenas um quilo de carne de boi, estima-se que sejam necessários 43 mil litros. Um quilo de tomates custa ao planeta menos de 200.
Maldade
É miserável a vida das galinhas criadas para o abate. Nas granjas que abastecem a indústria da carne de frango, elas vivem aprisionadas numa gaiola do tamanho delas, com luzes acesas até 18 horas por dia. Assim, as aves não dormem e comem mais. Seus bicos são cortados para que não matem umas às outras e para evitar que elas cisquem apenas os grãos de seu agrado – deixando de lado alimentos que servem para que engordem mais rápido.
CARNE VERMELHA
O Brasil é um dos grandes players no mercado internacional de carnes bovina e suína
Rebanhos
• Bois – 193 milhões.
• Porcos – 29 milhões.
HÁ NO BRASIL MAIS DE UM BOI POR HABITANTE.
Consumo médio
• Carne de boi – 37,4 kg/ano.
• Carne de porco – 12,12 kg/ano.
A ARGENTINA É CAMPEÃ MUNDIAL: 68,72 KG/ANO.
Nós no ranking
• Carne de boi – 2º produtor mundial (1º em exportação).
• Carne de porco – 4º produtor mundial.
EUA E CHINA SÃO OS MAIORES PRODUTORES MUNDIAIS.
Yes, we can
Sim, é perfeitamente possível viver sem comer carne. “O que o organismo identifica são nutrientes, não alimentos, e tanto faz se esses nutrientes vêm da carne ou de vegetais”, diz o nutricionista George Guimarães, presidente da Veddas – uma ONG pró-vegetariana e de defesa dos animais. Mas quem exclui da dieta qualquer alimento de origem animal não consegue tudo aquilo de que precisa comendo apenas vegetais. Vitamina B12, por exemplo – fundamental na manutenção do sistema nervoso e na formação do sangue. Ela é sintetizada por bactérias presentes justamente em alimentos como carne vermelha, peixe, ovos e leite.
Fontes: Censo Agropecuário 2006 (Brasil); Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec); Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs); FAO.