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Descoberto remédio capaz de combater a doença de Huntington

A droga, injetada na espinha, impede a mutação genética de produzir a proteína que causa a doença. Remédios atuais combatem os sintomas sem atacar a causa

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
11 dez 2017, 16h24

Pesquisadores do University College de Londres anunciaram nesta segunda (11) que a primeira fase de testes de um remédio capaz de conter a evolução da doença de Huntington teve resultados promissores. Huntington é um problema hereditário e degenerativo extremamente raro: afeta sete a cada 100 mil pessoas de ascendência europeia (as taxas podem variar de população para população). Os pacientes morrem em média 15 anos após o diagnóstico.

A doença é causada por uma mutação em um único gene, que dá às células instruções para produzir uma proteína tóxica chamada huntingtina (huntingtin). A atuação dessa proteína, em longo prazo, causa alterações bruscas de humor, depressão, movimentos involuntários, demência e paralisia. Os sintomas diminuem tanto a qualidade de vida que até 13% dos pacientes cometem suicídio.

O novo tratamento se baseia em uma droga chamada Ionis-HTTRx, que impede o gene de dar o comando para a produção da proteína. Segundo o jornal britânico The Guardian, ela é injetada no líquido cefalorraquidiano com uma agulha de dez centímetros de comprimento. Os resultados do teste ainda não foram publicados em um periódico – o artigo científico será finalizado em 2018.

Os testes foram feitos com uma amostra de 46 voluntários de ambos os sexos. Eles receberam uma injeção por mês ao longo de quatro meses, com doses progressivamente maiores. Aproximadamente um quarto dos pacientes foi tratado com placebo. A concentração da proteína causadora da doença caiu em todos os testes, sempre de forma proporcional à quantidade de medicamento ministrado.

“É a primeira vez que uma droga diminuiu a concentração da proteína tóxica causadora da doença no sistema nervoso. A droga é segura e foi bem tolerada pelos pacientes”, contou Sarah Tabrizi, que liderou os testes. “Este provavelmente é o momento mais significativo da história da doença de Huntington desde que o gene foi isolado [na década de 1990].”

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A Ionis-HTTRx já está na mira da ciência há pelo menos dois anos. Em 2016, o site Huntington’s Disease News explicou brevemente seu funcionamento. Para entendê-lo, é preciso voltar ao ensino médio. Nossos genes são feitos de longas cadeias de DNA. As moléculas de DNA, por sua vez, são longas sequências de códigos representados por combinações das letras A, T, G e C. Esses códigos são como o manual de instruções para produzir proteínas. Quando o código CAG aparece mais de 40 vezes no gene associado à doença de Huntington, o paciente a desenvolve plenamente – isto é, produz a proteína tóxica em excesso.

Acontece que, para a proteína tóxica existir, não basta haver um excesso de CAGs no pedaço certo de DNA. O DNA ainda precisa mandar esse código corrompido para os os ribossomos, nossas fábricas de proteínas. E ele faz isso usando mensageiros chamados RNAm. O que o medicamento Ionis-HTTRx faz é abater o mensageiro das instruções no caminho até os ribossomos, impedindo, na prática, a produção da proteína. A mutação não deixa de existir, mas não pode mais se manifestar. Essa abordagem já havia sido testada em ratos, mas é a primeira vez que dá certo em humanos. 

Cerca de 30 mil americanos e 10 mil britânicos têm a doença. A Associação Brasil Huntington (ABH) calcula que algo entre 13 mil e 19 mil brasileiros sofram com o problema, mas as estimativas nacionais não são tão precisas. As taxas da doença tendem a ser menores em lugares em que populações de origem europeia passaram por mais miscigenação com asiáticos e negros, entre os quais a incidência do problema é bem menor (cerca de um em um milhão). 

O próximo passo é aperfeiçoar a droga em testes clínicos com amostras maiores, e verificar se seu efeito em escala molecular se manifesta na prática, reduzindo o sintomas. Mesmo que a Ionis-HTTRx , no futuro, não consiga curar completamente os pacientes, ela sem dúvida é o primeiro passo para melhorar a qualidade de vida das pessoas que possuem o gene mutante.

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