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Covid-19: três laboratórios anunciam que pretendem lucrar com suas vacinas

Moderna, Pfizer e MSD não venderão as vacinas a preço de custo; Johnson & Johnson e AstraZeneca, por outro lado, se comprometeram a fazer isso

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 22 jul 2020, 23h22 - Publicado em 22 jul 2020, 18h02

Empresas farmacêuticas que estão na empreitada para desenvolver uma vacina contra a covid-19 se dividem em qual caminho seguir caso consigam aprovar um produto que se mostre eficaz. Enquanto algumas, como Johnson & Johnson e AstraZeneca, se comprometeram em vender emergencialmente milhões de doses a preço de custo, outras, como a Moderna Therapeutics, a Merck Sharp & Dohme (MSD) e a Pfizer anunciaram que pretenderão lucrar com suas vacinas.

O anúncio foi feito em uma audiência no Congresso dos Estados Unidos sobre o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19. Na sessão, deputados se demonstraram preocupados com os preços das vacinas, caso elas passem nos testes e sejam aprovadas para uso. A americana Johnson & Johnson e a anglo-sueca AstraZeneca afirmaram que, pelo menos inicialmente, fornecerão “centenas de milhões” de doses a preço de custo.

Os representantes de outras empresas disseram que haverá margem de lucro em suas vendas, mas foram cautelosos e não falaram em números certos, e também ressaltaram que pretendem manter os preços condizentes com a emergência global da pandemia. “Reconhecemos que são tempos extraordinários e nosso preço refletirá isso”, comentou um oficial da Pfizer.

Os questionamentos dos deputados americanos não foram uma cobrança aleatória: três das empresas ouvidas – Johnson & Johnson, AstraZeneca e Moderna –receberam financiamento do governo americano para o desenvolvimento da vacina na casa das centenas de milhões de dólares (além de financiamento de outros países também). Esses investimentos governamentais estabelecem algumas prerrogativas de transparência e gestão de recursos para as empresas, mas não limitam o preço máximo e nem impedem que as empresas lucrem em cima dos produtos.

Alguns deputados americanos afirmaram querer atualizar os acordos entre o governo e as empresas para incluir cláusulas que obriguem as entidades privadas a oferecer uma possível vacina a preços acessíveis ou até impedir o lucro, embora isso ainda seja apenas uma ideia.

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Entre as cinco empresas ouvidas, a AstraZeneca, que se comprometeu a fornecer doses sem lucro de forma emergencial, é a que possui a vacina mais avançada até o momento, segundo a Organização Mundial da Saúde. Em parceria com a Universidade de Oxford, a empresa já está realizando a fase 3 de testagem de sua candidata aqui no Brasil, além da África do Sul e da Inglaterra. Nessa fase, milhares de pessoas estão recebendo doses da vacina e serão acompanhadas para verificar se de fato ficam imunizadas após vacinadas. Se der certo, as previsões mais otimistas dizem que a vacina pode ser disponibilizada emergencialmente até o final do ano, enquanto as visões mais realistas apostam no primeiro semestre de 2021. A empresa recebeu financiamento americano, britânico e de entidades privadas, e sua vacina teve resultados positivos nos primeiros testes em humanos. A Johnson & Johnson, que também se comprometeu a vender sua vacina sem lucro nas fases iniciais, ainda está nas fase 1 e 2 de testagem.

Já entre as empresas que pretendem lucrar, a americana Moderna Therapeutics é a que possui a vacina mais avançada. Sua fase 3 de testes começa no próximo dia 27 de julho, e espera-se que 30 mil americanos recebam doses da vacina para verificar sua eficácia. A empresa recebeu US$ 483 milhões do governo americano para desenvolver a vacina, mas mesmo assim deixou claro que pretende lucrar com as vendas caso a candidata se mostre eficaz.

A Pfizer também afirmou que não venderá sua vacina a preço de custo se ela for aprovada. A diferença, porém, é que a empresa não aceitou receber investimentos estatais, mesmo sendo aprovada no processo do governo americano. Deputados questionaram se a empresa não aceitou o dinheiro para não ter de se submeter às cláusulas de transparência exigidas no acordo e assim ter mais liberdade para aumentar o preço da vacina, mas um executivo da Pfizer negou.

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“Não aceitamos o financiamento do governo federal apenas pelo motivo de querermos avançar o mais rápido possível com nossa candidata à vacina”, disse. “Precificaremos nossa potencial vacina de acordo com a urgência da emergência de saúde global que estamos enfrentando. Uma vacina não tem sentido se as pessoas não conseguirem pagar por ela”, adicionou.

A Merck Sharp & Dohme (MSD) também afirmou que irá incluir lucro no valor da venda. Sua vacina ainda não começou a ser testada em humanos, e a própria empresa admitiu que não terminará o processo de desenvolvimento e testagem antes de 2021, afirmando que não irá acelerar o processo por questões de segurança.

A audiência do Congresso americano focou na disponibilização das vacinas nos Estados Unidos, que não possuem um sistema público e universal de saúde como o Brasil e vários outros países. Por lá, o preço de medicamentos, vacinas e procedimentos de saúde pode ser um problema grande, especialmente para quem não tem seguro. Isso tem gerado críticas de uma parte da população, especialmente em um contexto de emergência de saúde pública como uma pandemia. Recentemente, por exemplo, foi anunciado que o preço do tratamento com o medicamento remdesivir, que se demonstrou eficaz em reduzir o tempo de internação de pacientes com covid-19, vai ser de até US$ 3.120 para cinco dias de administração do remédio (quase R$ 16 mil pela cotação atual).

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Outras candidatas a vacina estão sendo desenvolvidas pelo mundo, entre elas a da chinesa Sinovac, cujos testes de fase 3 começaram ontem no Brasil. Não está claro, porém, como serão as vendas destas vacinas caso sejam aprovadas, já que a maioria das empresas não toca no assunto. Xi Jinping, presidente da China, afirmou que uma eventual vacina desenvolvida do país será um “bem público global”, posição que foi compartilhada pela França e que é defendida por diversos políticos, ativistas e intelectuais pelo mundo. Isso porque há uma preocupação crescente sobre as fases posteriores da aprovação de uma possível vacina, que também precisa de produzida em massa, distribuída pelo mundo e aplicado em bilhões de pessoas caso se queira por um fim definitivo à pandemia. O processo será complexo, especialmente para países pobres, já que haverá uma competição mundial por doses, e os ricos com certeza sairão na frente.

ATUALIZAÇÃO: o texto foi atualizado para esclarecer que uma das empresas citadas é a Merck Sharp & Dohme, conhecida como MSD no Brasil, e não a Merck, farmacêutica alemã.

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