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Copa:a pátria de chuteiras

Como o suicídio de Vargas, a Revolução de 1930 e o medo do comunismo mudarama história do Brasil na Copa.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h04 - Publicado em 31 Maio 2006, 22h00

Marcelo Orozco

Em cada copa, a seleção parece absorver características do que acontece no país em sua época, meio moldada pelos ares políticos. Em umas mais nitidamente, em outras menos. Das mais explícitas, a de 1990 ficou com a “cara” dos tempos de governo Collor. E foi a única a ter um presidente querendo bancar o jogador de futebol. Pouco antes do embarque para a copa na Itália, Collor (sempre afeito a se exibir atleticamente) visitou a concentração da seleção disposto a participar de um “rachão”. O mau tempo impediu a formação de um histórico triângulo mágico no meio-de-campo, com Alemão, Dunga e Collor. Uma pena, ainda mais porque quem lá estava teve de assistir a um bate-bola chocho na quadra de futebol de salão, com o presidente esportista ganhando de presente uma cobrança de pênalti e Taffarel não se importando em engolir o frango.

Não foi o único encontro entre o presidente e o time de 90. Nos ideais, eles também se pareciam. Collor se envolveu em escândalos de corrupção e inundou o país de produtos importados. A seleção era vorazmente gananciosa – brigava por dinheiro de patrocínio e sonhava com contrados polpudos após o Mundial. E pretensamente “modernizada”, a ponto de o técnico Sebastião Lazaroni importar da Europa um esquema tático retranqueiro, que usava um líbero – Lazaroni, elegantemente, preferia chamá-lo de stopper, como na Europa. Deu tudo errado. Collor sofreu o famoso impeachment. O Brasil foi eliminado cedo da copa e a equipe, jogada na lata de lixo do futebol brasileiro. Foram todos condenados ao inferno do folclore nacional: Collor, Lazaroni e o stopper – o que quer que seja um stopper.Em cada copa, a seleção parece absorver características do que acontece no país em sua época, meio moldada pelos ares políticos. Em umas mais nitidamente, em outras menos. Das mais explícitas, a de 1990 ficou com a “cara” dos tempos de governo Collor. E foi a única a ter um presidente querendo bancar o jogador de futebol. Pouco antes do embarque para a copa na Itália, Collor (sempre afeito a se exibir atleticamente) visitou a concentração da seleção disposto a participar de um “rachão”. O mau tempo impediu a formação de um histórico triângulo mágico no meio-de-campo, com Alemão, Dunga e Collor. Uma pena, ainda mais porque quem lá estava teve de assistir a um bate-bola chocho na quadra de futebol de salão, com o presidente esportista ganhando de presente uma cobrança de pênalti e Taffarel não se importando em engolir o frango.

1954

Foi dos anos mais turbulentos no país. Em agosto, Getúlio Vargas se suicidou. Em junho, o país enviou para a copa sua seleção mais neurótica de todos os tempos. Os jogadores arranjavam confusões bobas e sofriam de complexo de inferioridade crônico. Antes de enfrentar a Hungria, por exemplo, foram levados ao treino adversário para ver que os húngaros eram melhores. Depois, ouviram discurso exigindo vitória para “vingar os mortos de Pistóia”, batalha da 2ª Guerra que pouco tinha a ver com a Hungria. Só podia acabar em confusão: o jogo terminou numa das maiores pancadarias da história das copas, “A Batalha de Berna”.

Comunismo x Bom-mocismo

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Supostamente, o time de 1958 gozou dos ares mais otimistas de todas as seleções. Eram os tempos de JK, o presidente gente fina que convenceu os brasileiros de que o país tinha jeito. Antes do embarque da delegação, no entanto, JK mandou um “alerta” para o time: o Brasil podia perder de todo mundo, menos da União Soviética. O motivo? Nos bastidores do governo, temia-se que uma derrota desse corda à propaganda comunista dos que acreditavam que bem mesmo se vivia no frio de Moscou.

Meio-campo, Volver!

A ditadura brasileira não costumava fazer cerimônia para usar o futebol em proveito próprio. No México, em 1970, a comissão técnica incluía do capitão Cláudio Coutinho (preparador físico) ao brigadeiro Jerônimo Bastos (chefe da delegação) – equação repetida em 1974. Em 1978, Coutinho virou técnico. Mas acabou hierarquicamente engolido pelo almirante (e vascaíno) Heleno Nunes, chefe da CBD (atual CBF). Às vésperas da estréia, contra a Áustria, Nunes impôs a escalação de seu ídolo Roberto Dinamite.

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Raízes do bairrismo

A década de 1930 marcou o fim do poder paulista. O estado foi derrotado pela revolução de 1930 e no levante de 1932. No futebol, a fase não era melhor. Na Copa de 1930, São Paulo se recusou a enviar jogadores após perder a briga por cargos na delegação. Em 1934, os paulistas já eram profissionais e a CBD mantinha um amadorismo de araque – tão de araque que tentou contratar profissionais para jogar a copa como amadores. Novamente São Paulo não mandou atletas – o Palestra Itália chegou a esconder o time num sítio com seguranças armados.

Pelé, opressor das massas

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Nem tudo era fraternidade na “melhor seleção de todos os tempos” em 1970. Pelé e o zagueiro reserva Fontana viviam em clima de guerra fria. O esquerdista Fontana questionava abertamente os privilégios do “Rei do Futebol” e dizia que só não era titular porque Pelé não deixava. Depois de uma discussão, Pelé pediu desculpas a Fontana diante de todo o grupo, o que apaziguou o ambiente. Mas não dobrou as convicções do camarada Fontana.

A frase

“O presidente não escala meu time e eu não escalo o ministério.”

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João Saldanha, a 3 meses da Copa de 1970, rebatendo o lobby para que ele convocasse o atacante Dadá Maravilha, queridinho do presidente, o general Emílio Médici. A declaração ajudou a causar a demissão de Saldanha – um esquerdista que nunca foi bem-visto pelos militares.

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