Cirurgia pode ajudar pacientes de Covid longa a recuperar olfato e paladar
O procedimento ajuda a abrir espaço nas vias nasais para o ar entrar, aumentando a capacidade olfativa e servindo de estímulo para recuperação do olfato.

Em 2023, um grupo de pesquisadores britânicos sugeriu que uma rinosseptoplastia funcional – procedimento que combina cirurgia estética do nariz e correção do desvio de septo – poderia restaurar o olfato de uma pessoa depois de uma infecção viral ou um trauma.
Agora, esses médicos descobriram que a cirurgia pode ser usada para ajudar pacientes com prejuízo de olfato e paladar por causa de Covid longa.
A cirurgia poderia ser feita em casos de mais de dois anos de olfato prejudicado após um caso de Covid-19, desde que o paciente já tivesse tentado outros métodos menos invasivos para recuperar a capacidade olfativa, como treinamento de cheiros e uso de corticoides tópicos para combater inflamações.
O experimento teve sucesso em 12 pacientes com Covid longa do hospital do University College London (UCL), na Inglaterra. A cirurgia usada tem como intenção original corrigir desvios de septo e obstruções em narizes sem muito espaço para entrada de ar. A rinosseptoplastia funcional facilita a respiração e aumenta o tamanho das passagens nasais.
Com o caminho desobstruído, fica mais fácil para as partículas de odor chegar até o teto nasal, onde acontece o processamento dos cheiros. Os pesquisadores perceberam que essa otimização da capacidade de sentir cheiros depois de uma rinosseptoplastia funcional pode dar início ao processo de recuperação de quem perdeu o olfato.
Cirurgia teve 100% de sucesso
O estudo com os resultados do experimento foi publicado no periódico Facial Plastic Surgery. A pesquisa foi feita entre outubro de 2022 e maio de 2023, quando os médicos compararam dois grupos de pessoas com Covid longa, com características parecidas e níveis similares de perda olfativa.
Um grupo de 12 pacientes passou pela cirurgia do nariz, enquanto um grupo com 13 pessoas que sofrem com sintomas de Covid longa fizeram treinamento olfativo durante o período completo do estudo. Para comparar aqueles que passaram pela rinosseptoplastia funcional e o grupo-controle, os pesquisadores usaram um teste padronizado muito usado na prática clínica que mede a capacidade de sentir cheiros.
Todos os pacientes que passaram pela cirurgia apresentaram melhoras no olfato. Enquanto isso, entre aqueles que não foram submetidos ao procedimento cirúrgico, o olfato não melhorou. Na verdade, para 40% deles a capacidade de sentir cheiros piorou e continuou diminuindo durante o período, mesmo com treinamento olfativo constante.
Esse aumento da sensibilidade para cheiros também representa uma melhora para o paladar. Os dois sentidos estão intimamente relacionados: o sabor de um alimento surge, no cérebro, da combinação de estímulos que vêm do nariz e da boca.
Perder o olfato pode levar a distorções na capacidade de apreciar uma comida gostosa ou desgostar de uma refeição atroz. É por isso que a disgeusia (paladar prejudicado) normalmente acompanha casos de hiposmia (diminuição do olfato) ou anosmia (perda total da capacidade de sentir cheiros).
Em uma declaração da UCL, uma das participantes do estudo afirmou que, antes da cirurgia, ela havia “começado a aceitar que nunca mais sentiria cheiros ou gostos como antes”. Ela topou o procedimento porque se sentia isolada numa situação complicada.
Ela só podia cozinhar alguns pratos, e normalmente passava mal em restaurantes. Agora, ela já está voltando a cozinhar com temperos mais fortes, como alho e cebola, e saindo para comer fora.
Cerca de 6 em cada 100 pessoas que foram infectadas pelo vírus da Covid-19 sofrem de Covid longa, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Essa cirurgia poderia ajudar algumas dessas pessoas que sofrem com a perda de olfato crônica.
Porém, antes de sair receitando um procedimento invasivo para milhares de pessoas ao redor do mundo, os pesquisadores advertiram que é preciso realizar mais estudos sobre o assunto, com grupos maiores de participantes.