Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Cientistas finalmente descobrem como a covid-19 causa perda de olfato

O sintoma é considerado enigmático porque acontece mesmo sem o nariz estar entupido, e pode durar semanas.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 23 jun 2020, 18h28 - Publicado em 22 jun 2020, 16h48

A perda do olfato e do paladar é um dos sintomas mais característicos da covid-19, inclusive em casos leves que não manifestam tosse ou febre, por exemplo. Mesmo assim, ainda se sabe pouco sobre o mecanismo que leva ao sintoma, especialmente porque ele não tem sido o foco principal dos estudos durante a pandemia. Após meses reunindo evidências, porém, um grupo de cientistas parece ter descoberto um modelo que explica o fenômeno.

A anosmia (esse é o nome técnico do sintoma) causada pelo novo coronavírus é especialmente misteriosa por dois motivos. Primeiro por que, em geral, a perda de olfato não é algo raro em infecções virais, e acontece frequentemente em casos de gripe ou resfriado, mas de forma diferente. Nessas doenças, o paciente perde a capacidade de sentir cheiros porque suas narinas estão congestionadas por secreções e muco (o popular “nariz entupido”). Já nos casos de covid-19, muitas pessoas perdem o olfato sem ter congestionamento nasal ou coriza, o que parece ser um mistério.

O segundo motivo que torna a condição estranha é a evolução atípica da perda de olfato. Em alguns casos, o sintoma aparece e some em um curto período de tempo, e de forma repentina, enquanto em outros, o paciente pode ficar semanas sem recuperar totalmente o olfato.

Em um novo estudo, uma equipe internacional liderada por pesquisadores da Universidade Harvard acredita ter descoberto o que está por trás dessas anormalidades. Imagens de tomografia computadorizada já haviam mostrado que, apesar de as narinas como um todo não ficarem obstruídas com muco em casos de covid-19, algumas regiões do nariz possuíam acúmulo de células mortas e inchaço no tecido, o que indica inflamação. Essas regiões eram justamente as que concentram as células responsáveis pelo olfato.

Os pesquisadores então tentaram entender o que estava acontecendo nas áreas afetadas. Uma das hipóteses mais fortes era a de que o vírus poderia estar infectando os chamados neurônios olfatórios – células do epitélio nasal responsáveis por transmitir a informação olfativa até o cérebro, onde o aroma será interpretado como um cheiro específico. Se o Sars-CoV-2 estivesse atacando essas células, isso explicaria a perda de olfato de maneira bastante convincente.

Continua após a publicidade

Mas os cientistas notaram que os neurônios olfativos não tinham uma proteína muito importante: a enzima conversora da angiotensina 2 (ECA2). A ECA2 é considerada a “porta de entrada” do vírus em nossas células, já que ela se conecta com as proteínas spike presentes no micróbio. Outras células do epitélio nasal, porém, expressam a ECA2.

A enzima é encontrada em grande quantidade nas células de sustentação (também chamadas “células de apoio”), responsáveis por fornecer apoio estrutural e formar o tecido no qual os neurônios olfatórios agem. Essas células são a chave para entender a anosmia causada pela covid-19, segundo os cientistas. Quando elas são atacadas e parasitadas pelo vírus, a resposta imunológica do corpo causa inchaço e inflamação local, impedindo que os aromas cheguem aos seus receptores. Assim que a infecção é eliminada,  geralmente tudo volta ao normal e o olfato retorna, porque os neurônios não foram afetados.

Mas e nos casos em que o olfato demora semanas ou até meses para retornar totalmente? Os cientistas acreditam que, nesse cenário, os neurônios olfatórios são afetados – e levam mais tempo para se recuperar. Esses neurônios não possuem receptor para o vírus e não são invadidos por ele, mas podem acabar sendo atacados pelo próprio sistema imunológico do paciente em reação à infecção ao redor. Isso porque o corpo humano não é perfeito na hora de reagir e pode acabar atingindo células e tecidos saudáveis ao tentar eliminar o vírus.

Ou seja, após as células de sustentação do epitélio nasal terem sido atacadas, o sistema imunológico reage desproporcionalmente e acaba destruindo por acidente os neurônios olfatórios do paciente. Nestes casos, a recuperação do olfato depende das células-tronco que existem no nariz e que conseguem se transformar em neurônios novos e saudáveis – mas isso leva bem mais tempo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.