Cientistas editam genes do glúten e produzem trigo para celíacos
Em testes preliminares, pessoas sensíveis à proteína conseguiram tolerar a nova versão - que é 85% menos nociva que as convencionais
Descobrir-se intolerante ao glúten significa dar um doloroso adeus ao pão na chapa de todas as manhãs. E à tradicional macarronada de domingo. E também aos bolos de aniversário – e a qualquer outra coisa que tiver em sua composição quaisquer traços de grãos como trigo, centeio e aveia.
Por mais que pareça exagero, é importante manter mesmo toda essa disciplina. Para quem é celíaco, consumir uma quantidade irrisória de glúten (como um pedaço pequeno de pão francês) pode ser suficiente para ativar sintomas desagradáveis, como vômitos e enjoos.
Como a lista de proibições é extensa, é normal que os intolerantes recorram a substitutos para esses quitutes. O problema é que preferir outros ingredientes não costuma ser uma escolha tão prazerosa, já que é graças ao glúten que achamos esses carboidratos tão gostosos. E a explicação para isso está justamente em sua composição: o glúten contém dois tipos de proteínas, as gliadinas e gluteninas, que garantem critérios como a extensibilidade e elasticidade da massa – e deixam pães e bolos com aquela aparência firme, mas fofinha.
Gliadina dá, gliadina tira. Além de garantir a consistência do pão, a proteína também contém a maior parte dos componentes nocivos aos celíacos. Moléculas não digeridas de gliadina, ao entrarem com contato com sua mucosa intestinal, causam um processo inflamatório que dá início aos sintomas.
A boa notícia é que um novo estudo espanhol se propôs a dar um fim neste dilema. Conforme descreveram no jornal Plant Biotechnology, os pesquisadores conseguiram editar geneticamente o glúten para remover parte de suas gliadinas – e desenvolver um trigo menos nocivo para quem tem doença celíaca ou intolerância.
Utilizando a técnica CRISPR (sigla em inglês para Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) os cientistas inutilizaram 35 dos 45 genes do trigo responsáveis por produzir a gliadina. Isso possibilitou a criação de um novo trigo – que despertou uma reação imune 85% menos intensa.
O retorno humano, ao menos no primeiro momento, também foi bastante favorável. Segundo disse Francisco Barro, um dos autores do estudo, em entrevista à New Scientist, o pão feito com o trigo geneticamente modificado conseguiu ser tolerado por 20 cobaias sensíveis ao glúten.