Cientistas descobrem antibiótico dentro do nariz humano
A resposta para superbactérias talvez estivesse não debaixo, mas dentro, do nosso nariz
Sabe aquela coçadinha nojenta no nariz? Bom, ela pode revelar uma das maiores descobertas da medicina recente. Pesquisadores da Universidade Tübingen, na Alemanha, publicaram um artigo na revista Nature, afirmando que descobriram o primeiro antibiótico desde a década de 1980 – e ele estava escondido dentro de você.
A coisa toda começou com os pesquisadores tentando entender um pouco mais sobre uma bactéria chamada Staphylococcus aureus– responsável por infecções hospitalares difíceis de serem tratadas, causa até 10 mil mortes anuais só nos Estados Unidos e, em alguns casos. Estudos anteriores já apontavam que a S. aureus vivia dentro das narinas de 30% da população, e os cientistas alemães estavam tentando entender o porquê disso.
Eis que os estudiosos chegaram a uma conclusão: os narizes são lugares bastante hostis para seres vivos. “Se eu fosse uma bactéria, eu não iria para dentro de um nariz”, afirmou Andreas Peschel, bacteriologista da Universidade de Tübingen à revista Scientist. “Não tem nada lá, simplesmente líquido salgado e uma quantidade mínima de nutrientes”, completa.
LEIA: Cheirar cocô é melhor que tomar antibióticos
A informação deu espaço para a teoria de que bactérias batalhavam entre si para ver quem ia dominar o espaço do nariz, como o ambiente não é favorável para os seres vivos, dificilmente muitas espécies conseguiriam sobreviver no mesmo espaço. Para checar essa hipótese, os envolvidos na pesquisa resolveram infectar ratos com S.aureus e, depois disso, contaminá-los com outras bactérias da espécie Staphylococcus. Para surpresa geral, os ratinhos não passaram muito mal.
E a responsável por isso era uma terceira bactéria: a S. lugdunensis, que vive no nariz e mata os outros microorganismos. Ela produz um antibiótico superpotente, que foi batizado de lugdunina. O mais impressionante é que as bactérias nocivas não conseguiam criar resistência a ele, mesmo quando colocadas em contato com pequenas quantidades do antibiótico durante um longo período (30 dias).
A descoberta pode inaugurar uma nova era no combate a infecções. Outros antibióticos podem estar escondidos em diferentes partes do nosso corpo. Essa nova técnica pode ser a solução para as temidas superbactérias, que segundo previsões, podem matar mais que o câncer nas próximas décadas.
Claro que nem tudo é felicidade: as descobertas ainda são embrionárias, e causam algumas dúvidas. Pesquisadores afirmam que a falta de resistência por parte das bactérias pode ser um fenômeno momentâneo. “A resistência é naturalmente produzida por organismos que tentam sobreviver por milhões, se não bilhões, de anos. Ela irá se desenvolver, é inevitável”, afirmou ao site The Verge, Brad Spellberg, professor de medicina clínica da Universidade do Sul da Califórnia – que não estava envolvida com a pesquisa.
Além disso, a própria S. lugdunensis pode criar problemas: está relacionada à infecções na pele, nos olhos e até no coração. Ainda assim, os pesquisadores afirmam que os problemas causados pela S. aureus são muito mais perigosos.